02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC30.1 - Saúde Coletiva, território e participação popular |
46850 - BONDE DAS MANAS: TRILHANDO CAMINHOS DE ACESSO À CIDADE, CULTURA E ARTE COM PESSOAS TRAVESTIS E MULHERES TRANS EM SÃO PAULO CLAIR APARECIDA DA SILVA SANTOS - INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, KÁTIA CRISTINA BASSICHETTO - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, PAULA GALDINO CARDIN DE CARVALHO - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, GUSTAVO SANTA ROZA SAGGESE - NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, JOSÉ LUIZ GOMES GONZALEZ JUNIOR - UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, CÍNTIA SPÍNDOLA LUCIANO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+;, DANIEL DUTRA DE BARROS - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, MILLENA DAS MERCÊS DE OLIVEIRA WANZELLER - NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, FABÍOLA DE LOURDES SILVA DA ROCHA - NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+, MARIA AMÉLIA DE SOUSA MASCENA VERAS - FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA SANTA CASA DE SÃO PAULO; NÚCLEO DE PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS E SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT+
Contextualização O direito à cidade consta na Declaração de Direitos Humanos e está previsto na Constituição Federal de 1988. Contudo, pergunta-se: que corpos têm o direito de ir e vir? Quantas pessoas trans, travestis e negras acessam universidades, mercado de trabalho, teatros, museus, restaurantes e parques? Afinal, o direito à convivência comunitária e participação popular está voltado a quem? Por meio destas questões, pretende-se tensionar como o direito à cidade pode ser assegurado não só pela legislação, mas no cotidiano das pessoas. Propõe-se, em especial, uma reflexão sobre a interseção entre transfobia e racismo como determinantes sociais de barreiras de acesso à cidade.
Descrição A experiência relata parte da iniciativa ‘Bonde das Manas’, no âmbito do Projeto Manas por Manas, em curso no município de São Paulo. Esta pesquisa iniciou-se em 2020, com previsão de término em 2023. Para sua realização, foram selecionadas e capacitadas 16 pessoas Travestis e Mulheres Trans (TrMT) para trabalharem como Navegadoras de Pares (NP). Trata-se de uma pesquisa de intervenção, em que as 16 NP acompanham outras 392 pessoas TrMT em encontros coletivos e individuais, abordando autocuidado em saúde, especialmente com relação à prevenção ao HIV. No processo de supervisão, identificou-se que as demandas trazidas por participantes se assemelhavam às situações vividas pelas NP, como sentimentos de solidão e experiências de transfobia e racismo, que afetam sua saúde mental. Uma vez que a rede de atendimento psicossocial ofertada pelo SUS, não cobre as necessidades de saúde mental de toda a população, passamos a considerar o território sobre uma perspectiva viva e dinâmica, capaz de produzir cuidado em saúde mental a partir das relações nele construídas. Surge assim, a concepção do 'Bonde das Manas', iniciativa que realiza, junto às NP, visitas a espaços de arte e cultura em São Paulo, com o objetivo de promover o cuidado à saúde mental, a partir da ampliação do conhecimento do território, direito à cidade e da convivência comunitária, bem como, fomentar a transformação social a partir da visibilidade das pessoas trans. Até o momento, 9 visitas foram realizadas à espaços culturais.
Período de Realização A exibição do documentário ocorreu em outubro de 2022. As visitas ao Theatro Municipal ocorreram em março e junho de 2023.
Objetivos Apresentar a experiência das NP em visita ao Theatro Municipal de São Paulo, antecedida pela exibição do documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”. Optou-se por destacar essa experiência, devido ao preparo que ela exigiu e às reflexões que suscitou sobre desigualdades sócio-históricas.
Resultados Anterior a visita ao Theatro, foi realizado um cine-debate, a partir da exibição do documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem” do músico e militante negro Emicida, que aborda a história da cultura negra e sua contribuição para a construção do Brasil, em particular, daquele teatro. Neste encontro, houve pausa para o choro, voz engasgada e um coro da canção “Tudo que nóis tem é nóis”. Na sequência, realizou-se uma visita monitorada ao Theatro. Com um guia bem informado, atento às iniquidades, conteúdos históricos e artísticos estimularam o diálogo e a participação do grupo, que passou a vislumbrar a possibilidade de frequentar aquele espaço. Olhares atentos. Críticas aos corpos que construíram o espaço e quem de fato o acessa. Posteriormente, organizou-se uma segunda visita para que as NP pudessem assistir ao espetáculo do Balé Municipal da Cidade de São Paulo, com música de Franz Schubert, acompanhado pela Orquestra Sinfônica Municipal. Preocupação com que roupa ir, medo de sair à noite, dificuldades com o transporte e o deslocamento entre os territórios, barreiras que atravessavam o grupo, mas que não o paralisou. A vontade de assistir pela primeira vez a um espetáculo no Theatro Municipal sobressaiu; afinal, estar em 'bonde' fortalece. Foi nesse processo que uma NP disse: “Ainda irei me apresentar nesse palco... Os nossos corpos (pretos e travestis) precisam estar em cena”.
Aprendizados Lugar historicamente ocupado por camadas privilegiadas da sociedade, visitar o Theatro Municipal, tinha grande potencial de quebrar barreiras que levam à segregação territorial, mas antes, era preciso promover reflexões críticas sobre o ‘não lugar’, o silenciamento, a baixa autoestima, o estado de vigilância para se proteger de possíveis ataques, oriundos dos impactos do preconceito e discriminação, e sentido de pertencimento. As experiências relatadas demonstram que o Bonde das Manas promove a possibilidade de modificar o presente e o desejo de alterar as estruturas cisnormativas e racistas no futuro.
Análise Crítica Trata-se de uma iniciativa de suma relevância social, tanto no que se refere aos benefícios às NP como aos locais visitados. No primeiro caso, por possibilitar vivências que consideram o acesso à cultura como direito à vida e, no segundo, por promover impactos positivos aos locais visitados, dada a abertura a um público mais diversificado em termos de gênero, raça e classe, e à sociedade como um todo.
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