Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC30.1 - Saúde Coletiva, território e participação popular

47043 - ESPERANÇAR NO ENCONTRO: REFLEXÕES SOBRE UM ÔNUS PANDÊMICO
JÚLIA GOMES DA SILVA NASCIMENTO - UERJ


Contextualização
Em 2021 com o retorno semipresencial das atividades em escolas públicas municipais no Rio de Janeiro, tive a experiência de participar do projeto de extensão universitária "(Re)pensando questões de violência e desigualdade na educação de meninas e meninos", enquanto aluna de graduação em psicologia. O projeto leva atividades pra discutir com os alunos em sala de aula sobre temas variados como gênero, sexualidade, território, autoestima, entre outros, por meio dele, pude observar e conviver com adolescentes num período histórico único em relação à sociabilidade "pós COVID". Tal experiência nos ajuda a refletir acerca das (im)possibilidades de pertencer e construir vínculos afetivos no contexto escolar à medida que pensar essa realidade é também possibilitar bem-estar e qualidade de vida entre os alunos.


Descrição
Durante minha experiência, estive semanalmente com uma turma de 9° ano, com alunos de faixa etária entre 13 e 16 anos. Nesse período, o uso de máscaras de proteção respiratória ainda era obrigatória como principal medida de prevenção, e para os alunos em alguns casos compunha parte da apresentação deles ao mundo. Nesse período como medida de segurança devíamos manter distância entre carteiras dentro de sala de aula, o que fez a escola dividir a turma em dois grandes grupos, e assim cada grupo iria a escola assistir as aulas presenciais quinzenalmente. Através das atividades que propúnhamos e tendo conhecido a turma separadamente, pude perceber dificuldades de integração e de estabelecer um sentimento de grupo. Pensando no período da adolescência onde os laços são construídos com mais independência reflito que a pandemia dificultou essas trocas. Por exemplo, em uma turma específica percebemos que haviam muitos grupos separados e alunos que se conheciam só de nome mesmo estudando há anos juntos, entendemos que precisávamos de uma atividade que propusesse um sentimento de grupo mais ampliado do que apenas "fazer parte" da mesma turma. Então, na atividade "Circular, falar e ouvir", que foi inspirada por uma dinâmica que aprendi e levei pro grupo de extensão a partir de uma experiência que tive na oficina de perna de pau com a Raquel Poti no Rio de Janeiro, criamos através de uma prática corporal e mais experiencial, um espaço de troca, com contato olho no olho, fora do ambiente de sala de aula, estimulando o compartilhamento de histórias e vulnerabilidades entre a turma.


Período de Realização
A experiência aconteceu durante o ano de 2021 enquanto eu fazia parte do projeto de extensão.


Objetivos
Refletir sobre a importância da sociabilidade na fase da adolescência na dimensão do cuidado em saúde. Além de, defender o ensino presencial para que a educação brasileira não seja engolida pela lógica mercadológica que entende o ensino a distância como meramente um meio lucrativo, sem pesar os danos aos processos de subjetivação dessa fase, que dependem sobretudo do convívio social entre pares além das relações de referências com adultos fora do eixo familiar.

Resultados
Tal experiência, deriva então, anos mais tarde, em um capítulo na minha monografia, em que abordo justamente a potência da amizade como promoção à saúde e bem estar, bem como a necessidade da formação de vínculos na construção de identidade e pertencimento durante a adolescência no ambiente escolar.

Aprendizados
Em Paulo Freire nos deparamos com a noção de "esperançar" enquanto um termo que diz respeito às formas de resistência e ação em momentos que aparentam ser de total impotência. Nesse sentido, esperançar é um contraponto com a noção de "ter esperança" enquanto um ato passivo como na narrativa cristã hegemônica da providência divina. Articulando o pensamento de Freire e as reflexões que trago ao longo das observações dessa experiência, como cada um de nós pode e tem produzido territórios existenciais possíveis para que a escola não seja um lugar de adoecimento, mas sim de encontros saudáveis? Como a psicologia vem esperançando no encontro e criando ambientes seguros para a diversidade de alunos que temos nesse país?


Análise Crítica
O isolamento imposto pela pandemia também afetou a possibilidade de conexão entre corpo docente e alunos, tão necessários na construção de referências e influências fora do seio familiar e de amigos da mesma idade e que no modo online se tornou inviável. Com a maior flexibilização das normas de biossegurança e posteriormente com o retorno da turma completa pude refletir também que a escola sempre promoveu, em favor do controle e disciplina, dificultadores de sociabilidade entre alunos, tais como a pré-definição de lugares com a justificativa de manter um melhor comportamento durante as aulas.