02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC30.1 - Saúde Coletiva, território e participação popular |
47311 - UM VIAGGIO PER TUTTI MARTA SOARES - CENTRO DE CONVIVÊNCIA SÃO PAULO, SILVIA MARIA SOARES FERREIRA - COMPANHIA GIRASSOL, MARIA DO CARMO FERREIRA - COMPANHIA GIRASSOL, ANA MARIA SOARES - COMPANHIA GIRASSOL, ISAURA SOFIA SAMPAIO DO ESPÍRITO SANTO - COMPANHIA GIRASSOL
Contextualização Vivemos um estado de exceção que teve início em maio de 2016, impôs-se ao país, pela força, uma agenda neoliberal, de restrição de direitos sociais. Ampliaram-se as manifestações da extrema direita com pensamentos e ações de natureza fascista com vistas a eliminar a diversidade e pluralidade. Ventos malfazejos estimularam divisões, desorganizaram processos, produzindo medo, desconfiança, alienação e perdas dos princípios basilares nas construções e relações.
Nesse contexto, deu-se o início à saga que levou 12 pessoas (sete associados, um familiar, um cineasta e três técnicos) à Itália, pois queriam ver de perto as coisas de Basaglia. A interpelação e motivação vieram dos usuários da Saúde mental ligados à Associação de Trabalho de Produção Solidária, a Suricato um cenário de práticas libertárias em Belo Horizonte.
Por que a gente também não pode ir à Itália? Essa pergunta surgiu em reunião com a referência da Suricato, por ocasião da devolutiva de sua estada em Bolonha representando os Centros de Convivência de BH, na UniBO, no momento em que distribuía centavos de Euros trazidos de lá. A pergunta mobilizou a “viagem” do impossível. Os presentes ali, assumiram à condição de idealizadores e se organizaram para captar recursos e criar as condições para chegar até as cooperativas italianas.
Para o custeio do projeto, foram realizadas diferentes ações: Programação cultural, doações de couvert artístico, rifas, campanhas de financiamento, feiras e eventos, venda de geleias, tortas cujos resultados financeiros foram direcionados para a viagem, durante o período.
Sempre em rodas definidas para outras horizontalidades, esse projeto foi se desenvolvendo processualmente, a partir do que se apresentava nas avaliações, nas articulações internas e externas, como as aproximações junto às associações de imigrantes em MG, o Consulado, empresários e artistas italianos.
Nesse percurso, desafios, expectativas, percalços e mobilizações, revelaram a coragem e a firmeza do propósito que permitiu a realização do ousado e inédito projeto.
Descrição A almejada viagem seguiu dentro do roteiro planejado: Visitas às rádios da saúde mental em Bolonha e Trieste, aos grupo-apartamento nas cidades escolhidas e uma diversidade de cooperativas: Agrícola, moda, comunicação, restauração, decoração, restaurante e café.
Fomos recebidos pelos coordenadores de saúde mental de Vila Romagna e da cidade de Ancona, e acolhidos pela Coordenação da Residência em Saúde Mental de Trieste, que nos apresentou as estruturas, os serviços, as cooperativas, os projetos e planos para o futuro. Em Urbino, visitamos a cooperativa agrícola e a Comunidade Terapêutica nos moldes de Maxwell Jones, onde passamos o dia.
Período de Realização Agosto de 2016 a novembro de 2018
Objetivos Intercambiar com as experiências de trabalho cooperado e outras modalidades disponíveis nas redes de cuidado aos usuários de Bolonha, Ancona/Urbino e Trieste.
Resultados Ao conhecermos a diversidade de cooperativas e seus processos, a aproximarmos dos serviços e sua organização, bem como as associações e suas atividades, permitiu a ampliação do conhecimento da potência do trabalho, no modelo consolidado e reconhecido pela sociedade. A materialidade do um sonho coletivo, permitiu ampliar e diversificar a experiência de Belo Horizonte.
Aprendizados 1) A língua italiana, a diversidade das estruturas articuladas em rede, as diferentes modalidades de inserção laboral, bem como os diversos projetos de moradia.
2) A excelência dos fazeres, os empreendimentos sociais bem posicionados em locais nobres e de grande circulação, as diferentes modalidades de empreendimentos, a possibilidade de cotejar as nossas vivências com a rica experiência italiana.
3) A transformação do lugar da tragédia em territórios da memória, representados nos monumentos preservados, lembrando a importância da luta pela liberdade e democracia
Análise Crítica Os italianos consolidaram a Reforma Psiquiátrica em todo território, onde se observa uma estabilidade institucional forte, o que é uma conquista.
No Brasil, a Reforma ainda em construção, nos impulsiona a seguirmos na luta e nas construções para o fortalecimento das Redes de Atenção Psicossocial, a sustentação do modelo antimanicomial, o fortalecimento das associações de usuários e familiares, abrindo diálogos com sociedade para a expansão do modelo.
A Itália é nossa inspiração e compreendemos que o presente e o futuro exigirão de nós, cada vez mais, clareza nas análises sem ingenuidades, assumindo posições corajosas ante à violação dos direitos, à fragilização da democracia e ante os desafios rumo à vida sem manicômios.
“Mais importante que interpretar o mundo, é construí-lo.” (Karl Max).
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