Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.1 - Saúde mental de crianças /adolescentes

47242 - O CUIDADO À SAÚDE MENTAL NO TERRITÓRIO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRABALHO EM REDE E A INTERSETORIALIDADE NO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR/BA
IRANI SANTOS SILVA - UFBA


Contextualização
O Subúrbio Ferroviário de Salvador tem uma população majoritariamente negra e apresenta altos índices de desemprego, baixa escolaridade e exposição à violência. Os bairros que o compõem são historicamente marcados por problemas sociais, habitações irregulares, precariedade na infraestrutura e nos serviços públicos.
Em relação à organização do sistema de saúde, o distrito sanitário do Subúrbio Ferroviário, um dos mais populosos de Salvador, dispõe de apenas uma equipe do Núcleo de Saúde da Família (NASF). Dentre os equipamentos disponíveis da rede de saúde do SUS e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), encontram-se: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tipo I e II; Centros de Referência de Assistência Social (CRAS); Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS); um hospital; uma maternidade; Unidade de Pronto Atendimento (UPA); centro de hemodiálise; Centro de Especialidades Odontológicas (CEO); Centro de Parto Humanizado e uma policlínica. No que tange às demandas de saúde mental infantil e problemas decorrentes do uso abusivo de álcool e outras drogas costumam ser encaminhadas para outros distritos.


Descrição
Este trabalho é fruto da atuação enquanto psicóloga em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) localizado no Subúrbio Ferroviário de Salvador e enquanto aluna de mestrado vinculada ao Programa de Pós-Graduação do ISC/UFBA, cujo objeto de pesquisa é a intersetorialidade no cuidado em saúde mental.

Período de Realização
O período a ser considerado é a partir de junho de 2022.

Objetivos
Neste resumo, busca-se refletir acerca do trabalho em rede e articulação intersetorial no cuidado à saúde mental.

Resultados
Considera-se necessário situar a saúde mental na saúde coletiva, reconhecendo a saúde enquanto um fenômeno social, buscando romper com o paradigma biomédico e as tendências patologizantes e normalizadoras. Dessa forma ampliar o horizonte de intervenções, a fim de promover práticas de prevenção e promoção da saúde e superar a fragmentação das políticas setoriais. A Política de Saúde Mental, a partir da Reforma Psiquiátrica, pauta-se em uma concepção ampliada de saúde, atuação territorial, intersetorialidade das políticas e trabalho em rede.
O CRAS, serviço que serviu de inspiração para a produção deste relato de experiência, atende pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade social. O mesmo funciona como porta de entrada da assistência social e atua para promover o acesso aos benefícios e serviços socioassistenciais, garantir direitos sociais e a convivência familiar e comunitária. Na atuação no CRAS é importante reconhecer o impacto das desigualdades sociais na saúde mental e o atravessamento de marcadores sociais como gênero, raça e sexualidade.
Os usuários de saúde mental estão sujeitos à situações de exclusão social devido ao estigma e discriminação, violações de seus direitos e liberdades básicas. Além disso, enfrentam barreiras para acessar oportunidades de emprego, serviços e políticas públicas. Essas pessoas buscam o CRAS com múltiplas demandas, sendo necessário ofertar acolhimento e uma escuta qualificada. Considera-se este equipamento como um local de produção de cuidado e que pode atuar para ampliar a cidadania das pessoas com transtornos mentais. Percebe-se que há uma necessidade de maior interlocução entre as políticas de saúde e assistência social, que possa favorecer o trabalho em rede e intervenções conjuntas.


Aprendizados
Entende-se que o cuidado em saúde mental se relaciona com o contexto econômico, social e cultural, ou seja, abrange situações de moradia, saneamento, renda, alimentação, educação, acesso ao lazer e bens. Nesse sentido, as práticas de cuidado em saúde mental devem buscar a reinserção social de pessoas com transtornos mentais. Para tanto, as intervenções necessitam ir além dos muros dos equipamentos públicos, sendo incluídos outros estabelecimentos, como associações, cooperativas e variados espaços das cidades, buscando promover transformações na relação com o território.
A intersetorialidade visa superar a lógica da fragmentação das políticas públicas no enfrentamento da questão social. As intervenções intersetoriais se caracterizam por serem uma articulação integrada entre os serviços de saúde mental, saúde, outras políticas públicas e programas que têm como base as diferentes necessidades de saúde e cidadania dos usuários no sentido da integralidade.


Análise Crítica
Ressalta-se um dos grandes desafios para a política em saúde mental diz respeito à falta de equipamentos sociais decorrentes, principalmente, do colapso das políticas públicas de bem-estar social. Com a precarização da política e acirramento das vulnerabilidades sociais, as/os trabalhadoras/es enfrentam muitos desafios na garantia de direitos básicos, sendo importante a aproximação com a realidade vivenciada pelos usuários e articulação com os diferentes equipamentos existentes no território.