02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC32.1 - Saúde mental de crianças /adolescentes |
47889 - ADOLESCÊNCIA E ESCARIFICAÇÃO: A INCIDÊNCIA DE TERAPÊUTICAS MÉDICAS DOMINANTES E SEUS EFEITOS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE. RAFAEL MADUREIRA GOMES - UFRRJ, ROSANE BRAGA DE MELO - UFRRJ
Apresentação/Introdução A adolescência e suas travessias exigem do sujeito uma série de elaborações (ALBERTI, 2004) e particularmente durante esse momento da vida os vereditos identitários do Outro são particularmente agudos (SOLER, 2014). Constata-se nos últimos anos o aumento nos atos de escarificação entre adolescentes. No cenário médico, as autolesões passam a ser compreendidas como "Transtorno de Autolesão Não Suicida" (DSM-5, 2014). O DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), manual diagnóstico predominante, considera a Autolesão Não Suicida uma dimensão diagnóstica independente e a inclui na categoria dos transtornos que necessitam de mais pesquisas e revisão dos seus critérios diagnósticos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) inclui a autolesão no contexto da violência autoinfligida, fazendo série com tentativas de suicídio, suicídio, autoflagelação, autopunição. A demarcação da utilização de instrumentos pontiagudos é importante ao se conceber a especificidade da escarificação como um corte na pele que se distingue das demais modalidades de autolesões. Segundo a OMS (2017) a autolesão é a terceira maior causa de morte para a faixa etária de 10 até 19 anos sendo a quinta maior causa de morte para adolescentes do sexo masculino e segunda para o sexo feminino no ano de 2015.
Objetivos O objetivo do presente estudo foi verificar as concepções e vertentes terapêuticas dominantes no campo médico e a sua incidência nos serviços de saúde no que se refere ao acolhimento das autolesões e escarificações realizadas por adolescentes.
Metodologia A metodologia empregada partiu de uma pesquisa bibliográfica, por meio da realização de leituras de autores que tratam das temáticas referentes a autolesão, escarificação e as principais terapêuticas propostas no cenário global, como a divulgação do DSM e a presença de forças medicalizantes, também foram abarcados autores que partem de uma perspectiva orientada pelas contribuições de Sigmund Freud, Jacques Lacan e também outros autores psicanalistas que auxiliam na compreensão da temática do corpo, clínica dos atos, adolescência e os seus trabalhos simbólicos.
Resultados e discussão No contexto geral, importantes instâncias da saúde como a OMS (Organização Mundial da Saúde), MS (Ministério da Saúde) e OPAS (Organização Pan Americana da Saúde) foram propulsoras de campanhas amplamente divulgadas, como o Setembro Amarelo e o Plano de Ação em Saúde Mental proposto pela OPAS, o que culminou na notificação obrigatória de casos de autolesão, somando-se a expressão de algumas instâncias legislativas visando uma contenção das autolesões no Brasil a partir de 2017. (SAMPAIO, 2021). Nota-se a dificuldade de compreensão dos atos de escarificações na comunidade médica em caracterizar e descrever as condições de ocorrência das autolesões a partir do DSM. No entanto, os seus efeitos se refletem nas práticas presentes nos serviços de saúde que acolhem adolescentes. As suas práticas são apontadas como restritas ao encaminhamento e à notificação burocrática. (GABRIEL et al. 2020) somando-se a terapêuticas medicalizantes.
Conclusões/Considerações finais Depreende-se que as vastas confusões dos critérios nosológicos após o enfraquecimento do referencial psicanalítico e a adesão de correntes organicistas nas mais recentes versões do DSM, contribuíram para tornar os limites entre o normal e o patológico mais tênues. (LIMA, 2016) Através desse panorama, apresenta-se um cenário no campo dos serviços de saúde no Brasil que pode validar práticas reducionistas desconsiderando aspectos ambientais relacionados à história de vida dos sujeitos e seus familiares, o que vai ao encontro da formulação de Lacan referente ao discurso da ciência que nesse caso poderia favorecer a “ideologia de supressão do sujeito.” quando este é deixado de fora da cena ou ainda reduzido a um diagnóstico. O risco de tais terapêuticas consiste portanto na ausência de problematização sobre a etiologia psíquica das autolesões e escarificações, quando estas passam a ser descritas apenas a partir de uma lógica fenomenológica observável.
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