Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.2 - Saúde mental e interseccionalidades

46928 - QUESTÕES DE RAÇA E CLASSE NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: PENSANDO UM CUIDADO SOB O OLHAR DA INTERSECCIONALIDADE
JOÃO PEDRO MORAIS SALES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARIA MARIANA DE ANDRADE SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARTA CLARICE NASCIMENTO OLIVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, MARIANA TAVARES CAVALCANTI LIBERATO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ALANA MARIA LOBO DE QUEIROZ PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, CAMILA RIBEIRO DE OLIVEIRA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, VINÍCIUS NOGUEIRA LOPES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, NATÁLIA MATOS DE SOUZA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, LARA SILVA PINHEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, LUCAS ARAÚJO DA SILVA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, LEVI DE FREITAS COSTA ARAÚJO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, ANTÔNIO CAIO RENAN SILVA PENHA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ


Apresentação/Introdução
O processo da reforma psiquiátrica brasileira, cujos ideais se relacionam diretamente com a reforma sanitária e com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), influenciou a produção teórica no campo da saúde mental após modificar as práticas de cuidado nesta área. A lógica do cuidado em atenção psicossocial buscou romper com a ideia individualizante e biomédica dos sujeitos, hegemônica na saúde brasileira pré-SUS, e apreender o ser humano em sua forma integral, relacionando os processos saúde-doença também com aspectos materiais, no que se entende como determinantes sociais da saúde. Contudo, percebe-se, na saúde mental coletiva, uma necessidade de visibilizar e dar ênfase aos corpos os quais ocupam o lugar da diferença, levando em consideração violências estruturais presentes em seus cotidianos. Nesse contexto, o Programa Pasárgada (Promoção de Arte, Saúde e Garantia de Direitos), vinculado ao curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará, busca se debruçar em pesquisa no tópico da produção de cuidado na atenção psicossocial sob o olhar da interseccionalidade, e neste trabalho focamos nos aspectos de raça e classe. Ainda que nos últimos anos, principalmente no campo da psicologia, se percebe um crescimento em pesquisas com tais temáticas, questionamos como se tem apresentado na prática da atenção psicossocial tais questões, e a partir de que momento tal aumento começou a ser notado.

Objetivos
Buscamos, como objetivo, fazer uma análise minuciosa das produções acadêmicas sobre cuidado em saúde mental pensando questões raciais e de classe, e refletir sobre como tem sido a prática na atenção psicossocial com tais categorias. Além disso, investigamos se há supremacia de uma sobre a outra, se há presença de outros aspectos estruturais como o gênero e a idade, se os trabalhos que pensam o tema da raça são separados dos que pensam classe, ou, finalmente, se a noção de interseccionalidade já se faz presente nas produções.

Metodologia
Como metodologia, utilizamos a revisão bibliográfica, partindo da pergunta de pesquisa: “O que é produzido no Brasil sobre questões raciais e de classe no campo da atenção psicossocial?”, na plataforma BVS, estabelecendo critérios de inclusão e exclusão através de alguns levantamentos tanto dos temas em conjunto quanto separadamente. Assim, consideramos relevantes os artigos que traziam as temáticas em seus títulos e assuntos principais.

Resultados e discussão
Com os descritores “atenção psicossocial” AND “classe” AND “raça” apareceram 3 trabalhos, no qual dois consideramos irrelevantes e o outro, que trata da saúde mental de comunidades tradicionais e os marcadores sociais presentes, foi escrito por integrantes do programa Pasárgada em 2022, relacionando-se com as pesquisas que produzimos atualmente. Relacionando os descritores “atenção psicossocial” AND “raça”, obtivemos 34 resultados em português, sendo alguns repetidos, e consideramos 9 trabalhos como primordialmente relacionados à temática raça/cor, especificamente com sujeitos negros. Os trabalhos que não eram revisões, em sua maioria, descreviam pesquisas realizadas nos serviços de CAPS infanto-juvenil e CAPS AD. Dessa pesquisa também surgiram artigos que relacionavam, além de raça e classe, questões de gênero. Percebemos também que todos os trabalhos relevantes foram publicados a partir de 2010, aumentando em quantidade a partir de 2017. Os descritores “classe” e “atenção psicossocial” resultaram em 17 artigos, mas apenas um deles, de 2013, foi considerado por nós como diretamente relacionado com o aspecto da classe social no cuidado psicossocial. Para efeito de comparação, a pesquisa com o descritor “vulnerabilidade” ao invés de “classe” resultou em 95 resultados, de contextos bastante variados.

Conclusões/Considerações finais
Após tais resultados, algumas questões surgem, como por exemplo o motivo de pesquisas com o descritor “classe” obterem tão poucos resultados, enquanto outros descritores relacionados apresentam uma quantidade considerável. Uma hipótese é a de que a atuação teórico-prática em atenção psicossocial já está com o aspecto de classe “implícito”, fato perceptível por exemplo na literatura que demonstra uma procura maior pelos serviços de saúde mental coletiva por pessoas pobres e pretas, o que nos apresenta a extensão do racismo. Nos questionamos também, sob esse prisma, a inexistência de debates que focam na produção de políticas públicas para a saúde mental de pessoas pretas, mesmo elas sendo a maioria entre os usuários do serviço, fato que acaba por fortalecer o racismo estrutural no campo da saúde mental, uma vez que apaga essas existências nos serviços. Percebemos também pouca relação entre os aspectos de raça e classe nos resultados, mas uma presença forte dos marcadores de gênero, pois muitos trabalhos foram produzidos sobre a vivência de mulheres negras nos serviços de atenção psicossocial. Por fim, podemos problematizar o fato de haver uma quantidade maior de pesquisas tratando das questões raciais e de classe em CAPS AD e CAPS infanto-juvenil, mas não tantas em CAPS geral.