Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC32.3 - Desafios na RAPS

47966 - PERCEPÇÕES DE GESTORES, TRABALHADORES E USUÁRIOS SOBRE A INTEGRALIDADE DO CUIDADO NA REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
LARISSA WEBER - UFSC E PREFEITURA MUNICIPAL DE GUAÍBA/RS, CLÁUDIA FLEMING COLUSSI - UFSC


Apresentação/Introdução
A integralidade do cuidado pode ser compreendida a partir da organização dos serviços de saúde, com a oferta de ações de promoção, prevenção, assistência, vigilância e reabilitação em saúde, nos diferentes níveis de complexidade. Ou a partir de práticas profissionais fundamentadas em uma abordagem holística, na qual se considera aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais do ser humano, que se interconectam e se complementam. A terceira dimensão da integralidade enfoca a resposta governamental aos problemas de saúde, envolvendo a implementação de políticas e ações intersetoriais que considerem a complexidade dos indivíduos em seu contexto para promover soluções mais efetivas e sustentáveis. No contexto da saúde mental (SM), a integralidade associa-se à lógica antimanicomial e ao compromisso com o cuidado em liberdade, em uma rede de cuidados de base comunitária – a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

Objetivos
Discutir a compreensão de gestores e profissionais inseridos na RAPS acerca da integralidade do cuidado, identificar como ela é operacionalizada na RAPS dos municípios investigados e verificar se a percepção dos usuários sobre o cuidado recebido converge com o princípio da integralidade.

Metodologia
Estudo transversal qualitativo, de caráter exploratório, realizado em três municípios da Região Sul do país: um de pequeno porte (com menos de 20.000 habitantes e oferta de cuidado em SM majoritariamente na Atenção Primária à Saúde, APS); um de médio porte (cerca de 100.000 habitantes, com três Centros de Atenção Psicossocial, tipo II, AD e IJ, e sem leitos para internação psiquiátrica) e um de grande porte (mais de 1.000.000 de habitantes e com todos os componentes da RAPS).
A coleta de dados deu-se através de 15 entrevistas semiestruturadas, com um gestor, dois profissionais e dois usuários da RAPS de cada município. A amostra de usuários consiste em quatro homens e duas mulheres, com histórico de tratamento em SM entre um e cinco anos. As gestoras eram do sexo feminino, com formação na área da saúde e atuação no município há pelo menos 11 anos. Entre os profissionais de saúde havia cinco mulheres e um homem, com atuação entre 1 ano e sete meses e 19 anos.
As entrevistas foram realizadas em julho e agosto de 2021, presencial (n=14) ou remotamente (n=1). Elas foram gravadas, transcritas e submetida à Análise de Conteúdo. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido relativo à pesquisa, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (CAAE: 43341921.5.0000.0121).


Resultados e discussão
Foram divididos em três partes. A primeira compreende o entendimento dos trabalhadores e gestores inseridos na RAPS sobre o que é integralidade do cuidado, agrupado nas categorias: “Compreensão dos sujeitos”, que considera as mais variadas necessidades de cuidado em saúde (sem restringir-se à SM), e “Articulação dos cuidados”, que contempla a integração entre equipes multidisciplinares, intra e intersetoriais, de modo a tecer uma rede de cuidados.
A segunda parte abrange facilitadores e barreiras para a efetivação da integralidade na RAPS. Os participantes mencionaram facilitadores que foram reunidos nas seguintes categorias: “Fortalecimento da APS”, “Informatização”, “Cuidado Compartilhado”; “Qualificação profissional e uso de Práticas Integrativas e Complementares”; “Acolhimento e vínculo” e “Singularidade do cuidado”.
Já as barreiras identificadas foram: “Deficiências estruturais dos serviços”, “Burocratização dos processos de trabalho”, “Preconceito em relação à SM”, “Vulnerabilidade social dos usuários”, “Atendimento insatisfatório”, “Comunicação deficiente entre profissionais” e “Falta de investimentos”.
A análise dos dados permitiu elencar na terceira parte as categorias “Educação Permanente em Saúde”, “Aproximação dos pontos da RAPS”, “Priorização da contratação por concurso público”, “Análise de dados de SM”, “Ampliação de investimentos financeiros” e “Corresponsabilização dos usuários” como estratégias para superar as barreiras em prol da integralidade do cuidado na RAPS.

Conclusões/Considerações finais
As definições de integralidade formuladas pelos trabalhadores e gestores contemplaram duas das três dimensões acima apresentadas, sugerindo que ainda há pouco espaço para discussões e proposições de políticas voltadas às causas subjacentes aos problemas de SM, como seus determinantes sociais, o que poderia se dar nos espaços de Controle Social. A percepção positiva dos usuários sobre as práticas alinhadas ao modelo psicossocial e ao cuidado singular, onde o hospital deixa de assumir o protagonismo do tratamento, indica que a sociedade reconhece a importância da Reforma Psiquiátrica. As barreiras mencionadas pelos participantes, sejam usuários, trabalhadores ou gestores, refletem problemas antigos, agravados no último governo, como a precarização dos vínculos trabalhistas, a desigualdade social e o subfinanciamento da SM. As estratégias propostas dão pistas para a efetivação de um cuidado ainda mais integral e humanizado na RAPS.