Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.1 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho I

45006 - O USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NAS PRÁTICAS DE TRABALHADORES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE: UMA REVISÃO INTERNACIONAL DE ESCOPO
ROMÁRIO CORREIA DOS SANTOS - ISC -UFBA, LUCAS IAGO MOURA DA SILVA - ISC - UFBA, LEIDE DIONNE PEREIRA DE JESUS SANTOS - ISC - UFBA, LÍVIA MILENA BARBOSA DE DEUS E MÉLLO - UFPE - CAV, LILIANA SANTOS - ISC-UFBA


Apresentação/Introdução
Ao menos 38 países apresentam em seus sistemas de saúde trabalhadores comunitários, e no Brasil são conhecidos como Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Eles são moradores locais que desenvolvem práticas de cuidados em saúde de base territorial e orientação familiar na Atenção Primária à Saúde (APS) com importantes impactos nos indicadores epidemiológicos e sociais (Méllo et al., 2023). Embora o cenário da pandemia de Covid-19 tenha sido um disparador para maior uso das tecnologias digitais na APS (Caetano et al., 2020), sua estratégia de implementação é recomendada desde 2005 pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2005). Por outro lado, no Brasil, o papel dessas ferramentas digitais no processo de trabalho dos ACS, mesmo na pandemia, não foi um consenso entre gestores e ACS (Lotta et al., 2020). Tal conjuntura, requer o desenvolvimento de estudos que possam identificar seus benefícios e limitações para o trabalho na APS.



Objetivos
Mapear a literatura sobre as aplicações e percepções das tecnologias digitais nas práticas de trabalhadores comunitários de saúde.

Metodologia
Revisão do tipo escopo, apresentando como característica a capacidade de mapear evidências e conceitos, sistematizando-os como forma de guiar construções teóricas, apontando lacunas e tendências em um campo específico do conhecimento (Daufenback et al., 2022).
Na elaboração da chave de busca utilizou-se a expressão em inglês community health workers e seus 46 análogos referenciados por Méllo et al (2022); adotamos também os termos Telemedicine e suas variantes, além dos operadores boolenos OR e AND (Santos et al., 2007). A pesquisa de recuperação dos artigos ocorreu entre 26 e 31 de agosto de 2022, na PubMed, Bireme, Lilacs, SciELO, Web of Science, Embase e Scopus.
Os critérios de elegibilidade foram: a) inclusão: estudos que abordem aplicações ou percepções do uso das tecnologias digitais nas práticas de trabalhadores comunitários de saúde; b) exclusão: estudos duplicados; revisões de literatura; documentos emitidos pela administração pública, teses, dissertações ou anais de congressos; estudos que, embora sirva-se do descritor da estratégia de busca, o profissional objeto do estudo é outro ator que não um trabalhador comunitário de saúde; estudos que, embora mencionem trabalhadores comunitários e tecnologias digitais, abordam como tema central o desenvolvimento de softwares, aplicativos ou protocolos.
A busca dos artigos foi realizada por dois revisores de forma independente, e as divergências foram resolvidas pela consulta a uma terceira revisora. Na fase identificação dos artigos com a chave de busca foram recuperados 2465 estudos, sendo selecionados 296 para leitura dos títulos e resumos, após a fase anterior 92 artigos foram lidos na íntegra, sendo incluídos para síntese qualitativa desta revisão 63 estudos de 24 países.


Resultados e discussão
Identificou-se que o suporte à saúde materno-infantil é a condição com maior predomínio das práticas com uso das tecnologias digitais pelos trabalhadores comunitários. Os benefícios identificados envolvem a ampliação do acesso, a melhoria da gestão do trabalho, a qualificação, diversificação, ampliação da formação e ganho de legitimidade da categoria. Os desafios se traduzem nas limitações em relação ao vínculo com a comunidade, longitudinalidade do cuidado, acesso à internet, energia elétrica e alfabetização digital.
Sobre as práticas dos trabalhadores comunitários de saúde com uso de tecnologias digitais, observa-se que a tecnologia é utilizada no auxílio das funções típicas dessa profissão, como coordenação do cuidado, aconselhamento em saúde, apoio social, avaliação de saúde, gerenciamento de casos e medicamentos, atendimento clínico em áreas remotas, acompanhamento, administração e educação em saúde (Hartzler et al., 2018; Glenton, Javadi e Perry, 2021).
No entanto, a emergência de novas habilidades e práticas para os trabalhadores comunitários de saúde mediante o uso de tecnologias digitais em saúde, torna urgente pensar nos significados dessa mudança na própria constituição desses profissionais como sujeitos e trabalhadores em uma realidade de revolução tecnológica. Os caminhos postos para essa profissão por meio das transformações digitais no mundo do trabalho apontam para as seguintes questões: i- mais que responder às necessidades de saúde, no atual ciclo do capitalismo, a revolução tecnológica poderá responder às necessidades do mercado, precarizando ainda mais estes trabalhadores, objetificando-os e tornando-os apenas mais uma fonte de extração de mais valia no mundo digital (Souza e Mendonça, 2017); ou ii- seu reconhecimento ou não como profissionais indispensáveis para a reorientação do modelo de atenção à saúde, cuidado integral, territorial e comunitário (Gomes et al., 2010).


Conclusões/Considerações finais
Corrobora-se com análises acerca da irreversibilidade do uso de tecnologias de informação e comunicação no mundo do trabalho, destacando-se a necessidade do seu uso racional com a garantia do acesso de forma integral, universal e equitativa.