Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.1 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho I

46817 - A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA QUALIFICADA NO AMBIENTE LABORAL: UMA EXPERIÊNCIA COM AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE EM UM DISTRITO SANITÁRIO DE RECIFE-PERNAMBUCO.
CARLA HORTÊNCIA HOLANDA DE LIMA - UPE, ANA CRISTINA SANTANA DE QUEIROZ - UFRPE, RONALDO FLORÊNCIO DE SOUZA - UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI


Contextualização
O Programa Bolsa Família se faz transversal e oportuniza aos brasileiros (as) em vulnerabilidade acesso à alimentação, saúde e educação, visando superação da pobreza e transformação social.
No tocante da saúde, os Agentes Comunitários são os responsáveis pelo acompanhamento das chamadas condicionalidades (peso, altura, vacinação) de crianças até sete anos e gestantes beneficiárias, através do preenchimento do instrumento de coleta intitulado Mapa Perfil Saúde e que se dá em duas vigências anuais.
Os dados são enviados à coordenação distrital do Programa, consolidados, analisados e enviados à esfera Municipal e, por conseguinte Estadual e Federal, sendo um importante instrumento de avaliação da efetividade do Bolsa Família na saúde dos elegíveis.
No Distrito Sanitário II da cidade do Recife, há atualmente 23 unidades de saúde, 347 Agentes Comunitários lotados e 9.115 beneficiários vinculados que precisam ser acompanhados como preconizado, no entanto percebeu-se uma baixa frequência no preenchimento dos Mapas Perfil Saúde, assim como dados inconsistentes e em branco, sendo um indicativo do não acompanhamento de boa parte dessa população.
Diante disso, estruturamos enquanto Coordenação Distrital do Programa uma capacitação com estes profissionais em todas as unidades de saúde, nos meses de março a maio de 2023, objetivando sanar as dúvidas em relação ao preenchimento dos Mapas e estimular o acompanhamento dos beneficiários. Temas como alimentação/nutrição, desenvolvimento infantil e da gestação também foram abordados.
No entanto, durante as capacitações, surgiram diversos relatos dos profissionais sobre as causas do não acompanhamento dos beneficiários: dinamismo do território, falta de equipamentos antropométricos portáteis e nas unidades de saúde, violência no território, inclusive ameaça de morte aos Agentes Comunitários de Saúde por alguns beneficiários por desconhecer o fluxo, direitos e deveres a cumprir no Programa e inexistente interlocução com a Assistência Social, foram questões trazidas e que justificavam seriamente a baixa frequência do preenchimento dos Mapas.


Descrição
Experiência obtida na Coordenação Distrital II do Programa Bolsa Família em Recife - Pernambuco, como carga horária prática da Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco.

Período de Realização
março a maio de 2023.

Objetivos
Experienciar a prática da Saúde Coletiva no território por intermédio da capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde e sua interlocução com o Programa Bolsa Família.

Resultados
Ante ao exposto, articulou-se uma reunião com o Centro de Referência da Assistência Social do Distrito Sanitário II, para entender como o fluxo de informações aos beneficiários do Programa acontece, buscando também firmar parceria a fim de desenvolver momentos de discussão, empoderamento e estimular o senso de corresponsabilidade na população beneficiária. Reiterou-se à coordenação municipal e gerências das unidades a necessidade da aquisição de equipamentos antropométricos para que a aferição dos dados seja feita adequadamente e sugeriu-se que os Agentes Comunitários de Saúde passem a acessar o Prontuário Eletrônico do Paciente para a coleta dos dados necessários em caso de impossibilidade de coleta presencial e que apresentaria risco ao profissional.

Aprendizados
Essa experiência nos oportunizou apreender sobre a importância, sobretudo da escuta qualificada e acolhimento aos trabalhadores, visto que o processo de trabalho muitas vezes se detém apenas ao cumprimento de metas, que reforçam a mecanização, desconsiderando as vivências e entraves vividos pelos profissionais dentro do território.

Análise Crítica
A saúde do trabalhador não se sustenta apenas no pilar da ausência de doença. Diversos aspectos devem ser levados em consideração na construção desta: condições de trabalho adequadas, acolhimento, escuta qualificada sobre as demandas trazidas, apoio psicológico e social são alguns fatores primordiais.
Repensar nosso olhar enquanto gestão acerca do processo de trabalho se faz urgente necessário para que possamos promover ambientes laborais mais saudáveis e humanos, e não baseados apenas em alcance de resultados.
Outra questão igualmente importante é a construção compartilhada do saber, desde a concepção da ação até o seu desenvolvimento, devendo ser pensada e estruturada para trabalhadores e com os trabalhadores, conferindo aos profissionais a importância que lhes é de direito nesse processo, fortalecendo a decolonialidade, assim como o empoderamento, autonomia individual, vínculo entre a equipe e senso de transformação social.