Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.2 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho II

45984 - MASSOTERAPIA NO TRABALHO: UMA PROPOSTA DE CUIDADO NA GESTÃO DO TRABALHO
MARCIA CAVALCANTI RAPOSO LOPES - EPSJV/FIOCRUZ, CAMILA FURLANETTI BORGES - EPSJV/FIOCRUZ


Contextualização
Inserido numa crise econômica e política, o Brasil já sentia o mercado e as condições de trabalho se deteriorarem quando em 2017 foi aprovada a reforma trabalhista. Esta reforma desconstrói o marco regulatório do mercado de trabalho já bastante limitado e tem como resultado o massivo desemprego, ampliação da subutilização da força de trabalho e da generalização da precarização nas ocupações.

A irrupção da pandemia do Covid-19 em 2020 torna este processo mais perverso. Além da paralização da economia e do aumento do desemprego o que se vê é um contexto de grande sofrimento para boa parte dos trabalhadores que permaneceu atuando presencialmente, muitos deles em condições de pouca ou nenhuma proteção sanitária.

Neste cenário, refletir sobre a gestão do trabalho e sobre a saúde dos trabalhadores traz enormes desafios. No contexto de instituições públicas onde há grandes limites para intervenções no sentido do aumento salarial e naturalização da convivência de diferentes vínculos de trabalho com distintas valorização e proteção trabalhistas, estes desafios se veem ampliados. Os trabalhadores terceirizados, em especial, os contratados para funções consideradas “subalternas” ficam, quase sempre, invisibilizados ainda que exerçam atividades fundamentais de reprodução da função institucional. Como incidir no cotidiano e nas relações destes trabalhadores entre si e com o trabalho de maneira que se reduza de alguma forma a precarização de suas ocupações e suas atividades possam ganhar novos sentidos?

Descrição
O contexto de precarização das instituições públicas dos últimos anos vem afetando, ainda que de forma diferente, as condições de trabalho e salariais dos trabalhadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Em 2020 os efeitos da pandemia trouxeram novas dificuldades para o desenvolvimento do trabalho acrescentando desafios para a gestão do trabalho na instituição.

No processo gradual de retorno presencial das atividades que permaneceram de forma remota no período da pandemia, foi preciso lidar com os impactos que ela produziu nos trabalhadores. Neste momento, organizou-se um projeto para acolher as dificuldades eventuais dos trabalhadores e favorecer a construção de vínculos solidários que facilitassem o difícil processo que foi também de lidar com as contradições e desigualdades acirradas pelo fato de que uma parcela dos trabalhadores não pôde se proteger, ficando confinada. Uma das atividades foi a massoterapia, ofertada para os trabalhadores dos serviços de limpeza, infraestrutura, jardinagem e portaria da EPSJV, selecionados tanto por seu tipo de trabalho quanto por serem formados por terceirizados, com faixa salarial baixa e que tiveram que trabalhar presencialmente durante a pandemia.

O projeto se organizava com atendimentos de 4 trabalhadores por mês num esquema que previa uma escuta individual e oferta de massagem semanal por 4 semanas, sempre no horário de trabalho. Todo mês havia a troca dos trabalhadores atendidos de maneira que, até o fim de 2022, todos os interessados puderam passar pela experiência.

Após estes ciclos de atendimento, os trabalhadores foram ouvidos em pequenos grupos sobre o que acharam da atividade e como se sentiram.

Período de Realização
Desde março de 2022

Objetivos
Implementar ações experimentais de cuidado no sentido de favorecer as relações e os processos de trabalho no momento de retomada geral das atividades presenciais.

Resultados
Os encontros com os trabalhadores nos permitiram entender como eles usualmente se sentem invisíveis. De forma geral, todos eles apontaram que se sentiram vistos e considerados. Muitos avaliam que estes espaços são comumente ofertados só para os “funcionários” (servidores) e que eles, em geral, não são beneficiados por este tipo de atendimento.

Eles apontaram que o espaço se constituiu num momento que tinham para si e que oportunizou uma pausa em seu cotidiano. Os benefícios dessa pausa foram relacionados como ganho tanto para si quanto para o processo de trabalho. Alguns deles comentaram que puderam ter acesso a um tipo de cuidado que não teriam em outras condições. De forma geral, todos valorizaram muito a experiência, mas, em especial, as trabalhadoras da limpeza - referiram perceber melhora em sintomas como dores no corpo, insônia e irritabilidade.

Aprendizados
Vale dizer que os atendimentos e a escuta destes trabalhadores favoreceram, em especial, que conhecêssemos um pouco mais a vida deles e suas dificuldades cotidianas. Pudemos desnudar sua convivência com diferentes limitações e dores no corpo, problemas clínicos e até eventuais dificuldades financeiras para alimentação.

Análise Crítica
Este processo nos apontou para a necessidade de aprofundar as discussões sobre gestão do trabalho e divisão social do trabalho e pensar sobre possíveis novas estratégias de intervenção e cuidado para este conjunto de trabalhadores.