46251 - GESTÃO INTEGRADA EM SISTEMA HÍBRIDO DE TRABALHO: ESTUDO SOBRE O TRABALHO PRESENCIAL E REMOTO COM DIRETORES DE VARAS JUDICIÁRIAS FERNANDA FREIRE FONSECA - TRT 3ª REGIÃO
Apresentação/Introdução As instituições da administração pública passaram por significativas mudanças nas últimas décadas, decorrentes do contínuo desenvolvimento e incorporação de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) aos processos de trabalho. No âmbito do Poder Judiciário, temos a consolidação dos Processos Eletrônicos, bem como a crescente informatização e desenvolvimento de sistemas. O isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19 exigiu ainda mais mudanças estruturais e instrumentais, tendo os tribunais judiciários mantido suas atuações de forma contínua, lastreados pelas possibilidades das novas TICs. A inserção definitiva na era digital permitiu o estímulo às novas formas de organização da força de trabalho, sendo o teletrabalho um dos principais exemplos, possibilitando que os servidores atuem à distância de forma remota. Essa nova modalidade trouxe uma série de vantagens e também de desafios que merecem atenção por parte das organizações, especialmente no que concerne à adequação do perfil dos indivíduos ao teletrabalho, assim como às mudanças na cultura organizacional e nas estratégias de liderança para o gerenciamento de equipes mistas (regime presencial e a distância). Dentre os atores dessas instituições, os diretores de vara judiciária têm o grande desafio de ajustar sua função de gestão ao sistema híbrido de trabalho.
Objetivos O presente estudo foi desenvolvido visando identificar os riscos ocupacionais presentes na atividade de gestão integrada de varas judiciárias, exercida pelos diretores. O objetivo principal foi compreender as atividades de trabalho dos diretores de vara, revelando as dificuldades encontradas e as estratégias construídas para realizar a gestão de pessoas e de processos de trabalho vinculados aos propósitos da atuação judiciária em 1ª instância. Além disso, pretendemos gerar, em conjunto com os trabalhadores, proposições para adequações preventivas no modo de trabalho híbrido.
Metodologia Trata-se de um método qualitativo-descritivo, com metodologia e ferramentas de análise adequadas para identificar os principais fatores técnicos e organizacionais que inferem sobre a gestão de vara judiciária, no seu aspecto híbrido de atuação em sistema presencial e remoto de trabalho. A partir da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e da Autoconfrontação simples e cruzada, buscou-se a aproximação da situação concreta de trabalho, a partir da análise minuciosa do comportamento dos indivíduos em situação de trabalho com vistas a identificar e eliminar potenciais danos à saúde dos trabalhadores, bem como encontrar possibilidades de valorização de suas capacidades. O procedimento consistiu em observação das atividades, de forma remota, em uma situação real de trabalho, e coleta de verbalizações (simultâneas e consecutivas), considerando a rotina habitual de tarefas desses trabalhadores. A partir do registro da observação e relatos associados, os pesquisadores selecionaram duas “cenas” significativas para autoconfrontação, considerando sua frequência de ocorrência e potencial de risco ergonômico. As cenas foram lidas, em sua descrição, e debatidas com os diretores.
Resultados e discussão Incluem-se entre as tarefas observadas dos diretores: aspectos administrativos e de gestão da equipe, atividades jurídicas processuais e comunicação e atendimento da unidade aos públicos interno e externo. A lista de atividades executadas variou pouco entre o trabalho presencial e remoto, exceto por aquelas executadas essencialmente de forma presencial, devido à necessidade de interação em tempo real com outros colaboradores. A multiplicidade de tarefas dessa função foi evidenciada como gerador de custos pessoais, modulado pelas escolhas e estratégias assumidas por cada trabalhador. Apesar de não reconhecer a lógica utilizada para o sequenciamento do trabalho, o próprio trabalhador aponta os critérios, talvez invisibilizados, das escolhas de prioridades, bem como do aproveitamento de tempo e uso otimizado das ferramentas.
Conclusões/Considerações finais Nesse estudo foi evidenciado que às tarefas exercidas no sistema híbrido foram acrescidos os desafios na comunicação e nas possibilidades de desconexão do trabalho. Os diretores de vara, pela natureza de seus cargos, desenvolveram estratégias de gerenciamento das ferramentas de comunicação interna e externa, muitas vezes assumindo as comunicações em sua totalidade. O gerenciamento de múltiplas tarefas se mostrou como grande desafio dos gestores de unidades judiciárias, que passaram a negociar, com si mesmos e com os outros, a distribuição do seu tempo no local de trabalho, sendo ele as varas ou suas próprias casas. O método de autoconfrontação nos possibilitou conhecer diferentes estratégias desse gerenciamento, apontando que os compromissos silenciosamente assumidos por esses atores se alargam gradualmente, se tornam mais imprecisos, convocam maior heterogeneidade de ingredientes, de considerações, de valores, à medida que o espaço de trabalho se torna mais fluido e impreciso.
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