Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC33.2 - Política de ST / VISAT e Precarização do Trabalho II

47310 - PROCESSOS DE TRABALHO E CONDIÇÕES DE SAÚDE DE TRABALHADORES DA SAÚDE: CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE
CLÁUDIA FELL AMADO - UFBA, LEIDE DIONNE PEREIRA DE JESUS SANTOS - UFBA, ROMÁRIO CORREIA DOS SANTOS - UFBA, LILIANA SANTOS - UFBA


Apresentação/Introdução
O cenário desencadeado pela pandemia de Covid-19 demandou dos serviços de saúde como um todo, a reorganização dos espaços físicos, dos processos de trabalho e a adequação dos fluxos de assistência, de modo a dar respostas mais efetivas diante desse contexto. Da mesma forma, este cenário impôs aos gestores, a rápida tomada de decisão, aquisição de material de proteção para os profissionais e a garantia de oferta assistencial. Para profissionais de saúde, ficaram evidentes as necessidades de conhecimentos adequados para a produção de respostas diante de casos suspeitos, estruturação de ofertas de cuidado para casos confirmados e criação de estratégias de vigilância e monitoramento de casos, o que gerou um conjunto de desafios e fragilidades, especialmente no que diz respeito às condições de trabalho e riscos de adoecimento.

Objetivos
O presente trabalho teve como objetivo analisar as condições de trabalho de profissionais da saúde em três municípios do estado da Bahia, com ênfase na Atenção Primária à Saúde e suas relações com as reconfigurações do trabalho impostas pela pandemia de COVID-19.

Metodologia
Pesquisa analítica, com abordagem qualitativa desenvolvida entre setembro de 2021 a abril de 2022 em municípios do estado da Bahia. O estudo integra o projeto “Análise de modelos e estratégias de Vigilância em saúde da Pandemia de COVID-19”, coordenado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia acerca das ações de vigilância em saúde voltadas para a proteção e redução dos riscos relacionados com o SARS-Cov-2 em tipos específicos de serviços de saúde. A produção dos dados ocorreu a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas entre setembro de 2021 a abril de 2022. Foram entrevistados profissionais da APS das equipes de Saúde da Família (EqSF) e do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), investigando os impactos da reorganização dos processos de trabalho nas condições de saúde de trabalhadores e trabalhadoras. A análise dos dados está ancorada no referencial teórico de Mendes-Goncalves acerca da teoria do processo de trabalho em saúde, na qual é compreendido a partir de seus agentes, objetos, finalidades e instrumentos que devem ser examinados de forma articulada e inscritos numa dada sociedade e momento histórico (MENDES-GONÇALVES, 2017). Por outro lado, foram consideradas as perspectivas de danos e riscos relacionados ao trabalho, bem como as distintas formas de adoecimento vivenciadas por estes trabalhadores durante a pandemia de COVID-19. Nesse sentido, foram investigados riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, psíquicos e fisiológicos, que impactam a relação saúde-doença, podendo gerar adoecimento físico e/ou mental (MENDES et al., 2020; GUIMARÃES e FELLI, 2016).

Resultados e discussão
Participaram do estudo 39 trabalhadores da APS, com 20 (51,3%) destes atuando em Salvador, 12 (30,8%) em Vitória da Conquista e 7 (18%) em Feira de Santana. Do total de participantes, 33 (84,7%) são do sexo feminino e 6 (15,4%) do sexo masculino. Quanto à cor, 33 (84,7%) se auto declararam pretos e pardos, 4 (10,3%) brancos e 2 (5,2%) não responderam. Foram identificadas as seguintes profissões entre os participantes: agente comunitário de saúde (ACS) (41%), enfermeiro (38,5%), médico (7,7%), cirurgião-dentista (5,2%), farmacêutico (5,2%) e psicólogo (2,6%), com prevalência da atuação em USF (89,8%), além de Unidades Básicas de Saúde (2,6%) e NASF (7,7%). Os resultados apontaram para a evidência da intensificação da jornada de trabalho, a exposição à contaminação pela doença, além de reflexos à saúde mental. Quanto às condições de trabalho, foi possível constatar que diante do conjunto de adversidades ao qual trabalhadores e trabalhadoras foram expostos, não foram oferecidas condições de trabalho adequadas, a exemplo da falta de recursos institucionais para a reorganização dos espaços físicos, gerando intensa mobilização das equipes. Outro fator apontado pelos entrevistados, foi a sobrecarga da jornada de trabalho, em virtude da necessidade de mudanças no perfil assistencial das unidades e do conjunto de adoecimentos e perdas de colegas de trabalho, fator este que desencadeou uma série de adoecimentos, especialmente na área de saúde mental. Outro aspecto relacionado a condições de trabalho é o acesso a tecnologias digitais de informação e comunicação. Nesse sentido, trabalhadores e trabalhadoras, além de disporem muitas vezes de equipamentos de uso pessoal para a realização de atividades laborais, foram demandados para o aprendizado do uso de novas tecnologias e rotinas laborais, o que intensificou a tensão nos processos de trabalho.

Conclusões/Considerações finais
As evidências apontadas indicam que houve pouca priorização em relação ao cuidado com trabalhadores e trabalhadoras na organização das ações de enfrentamento da pandemia de COVID-19. Toda reconfiguração deixa legados e instaura novas necessidades que apontam uma circularidade entre a organização da produção, as ofertas, distribuição de serviços e o consumo desses serviços, que demanda a utilização e a reconfiguração das práticas de saúde e de instrumentos de trabalho para o desenvolvimento das ações, bem como aporte cognitivo para sua utilização. Nesse sentido, estratégias como a oferta de um sistema virtual de marcação de consultas, o monitoramento à distância, ações de educação permanente e promoção da saúde de trabalhadores e trabalhadoras para o período pós pandêmico fazem-se necessárias a fim de reduzir o adoecimento e os danos sofridos por esses profissionais e promover ambientes de trabalho mais saudáveis e protegidos.