02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC4.1 - Estigma, discriminação e modos de cuidar em saúde mental. |
47030 - PSICOLOGIA COMUNITÁRIA E AGROECOLOGIA: PROMOVENDO SAÚDE COLETIVA A PARTIR DE CONTEXTOS RURAIS MARIA FERNANDA TEIXEIRA DE ARAÚJO - UFRN, FELIPE ANDRÉ CÂNDIDO DE SOUSA - UFRN, VICTOR EDUARDO ADRIANO DANTAS - UFRN, AMANDA CARLA SILVA CAVALCANTI - SEAPAC, DAMIÃO JOSÉ DOS SANTOS - SEAPAC, DAMIÃO SANTOS DE MEDEIROS - SEAPAC, FERNANDA FERNANDES GURGEL - UFRN
Contextualização O relato é uma experiência de estágio em Psicologia Social Comunitária (PSC) em contextos rurais, numa Organização da Sociedade Civil (OSC) no interior do Rio Grande do Norte/RN que atua, sobretudo, junto a comunidades rurais que lidam com a convivência no semiárido. A partir da diversificação e da interiorização da Psicologia nos dispositivos de atenção à saúde a partir da década de 90, faz-se necessária uma outra práxis mais atenta aos determinantes socioambientais de saúde, sendo a agroecologia um dos caminhos possíveis para atender às demandas populacionais específicas. Para tecer sobre este tópico, é preciso assimilar o processo de consolidação do modelo econômico vigente: o agronegócio. Esse modelo mercantilizou a vida social, delimitou a capacidade de decisão dos grupos sociais rurais e fez com que a agricultura perdesse seu antigo caráter autônomo, passando a ser peça dependente de um consumo urbano. Dessa forma, o campo, sempre à mercê das grandes cidades e do surto de urbanização, sofre uma espécie de esvaziamento.
Descrição A experiência de estágio em PSC e ruralidades deu-se por meio das intervenções da OSC em comunidades rurais. Essas atividades são orientadas por linhas de atuação que visam potencializar a convivência dos agricultores(as) com o semiárido, assim como estimular a participação social e a defesa de direitos. A atuação e as intervenções são desenvolvidas a partir de atividades de mobilização comunitária, educação permanente e formação continuada com a implementação de tecnologias sociais e acompanhamento técnico, além de articular e incentivar a participação e a incidência política nos espaços públicos, defendendo os diferentes modos de vida no campo e os princípios da agroecologia. A atividade na qual houve participação mais ativa foi a metodologia do “rio da vida”, desenvolvida com algumas famílias residentes em uma das comunidades atendidas, recém integradas à instituição. A tarefa consistiu em pedir para que elas descrevessem os momentos mais marcantes de suas vidas. Logo, foram desvelados relatos de alguns marcos em comum, em especial o período de seca, a vacinação e a chegada da água – este último constantemente ligado a programas de assistência social.
Período de Realização O período de realização da referida experiência aconteceu entre setembro de 2022 e junho de 2023.
Objetivos O principal objetivo foi observar, mapear, analisar e construir atividades de intervenção a partir dos estudos da PSC voltados ao contexto rural, abordando diversas questões referentes à terra. Assim, a Agroecologia surge também como uma das principais ferramentas na busca pela emancipação popular, no esforço de construir uma prática transformadora e contextualizada.
Resultados Para este relato, foi descrita acima a atividade considerada de maior relevância dentre muitas outras, sendo elas: a participação do controle social por meio das conferências de saúde e de assistência social, oficinas com as famílias assistidas e visitas às tecnologias sociais implementadas.
Aprendizados É entendido que a Psicologia precisa dialogar com outros saberes, sejam eles científicos, como aqueles provenientes da academia, mas também com os populares, ao interagir com as comunidades rurais que são desconsideradas pelas suas práticas. Portanto, entende-se a Agroecologia como um campo não só científico, mas de movimento social e político, multidisciplinar, que contempla questões éticas referentes ao modo de produzir, uma vez que, entender a relação entre natureza e soberania alimentar é também falar sobre saúde.
Análise Crítica É sob o imperativo de uma independência baseada na soberania alimentar e na produção de alimentos orgânicos, que opera o trabalho do Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC) que, numa perspectiva libertadora, encontra na educação popular e na agroecologia formas de emancipar sujeitos e comunidades que estão à mercê da proteção Estatal, sobretudo na busca conjunta pelos potenciais de produção de cada família. Portanto, entende-se a práxis como o fazer no qual o outro é visto como autônomo e essencialmente necessário como agente de transformação da própria realidade. Ao contrário do que se espera de uma extensão rural, a OSC em questão constrói os saberes dialogicamente com a comunidade, de modo que, o que se pretende com o diálogo é a problematização do conhecimento perante a realidade concreta para melhor compreendê-la e transformá-la. Por fim, as atividades do estágio possibilitam a produção de intervenções que compreendem criticamente a realidade e as iniquidades sociais que compõem o cotidiano das comunidades e seus efeitos sobre a saúde, onde subjetividades são produtos da interiorização das relações sociais. O processo de produção de ações foi construídos de forma multidisciplinar e multiprofissional, com contribuições da PSC em contextos rurais que evidenciaram as representações sociais e culturais, assim como produção de sentidos e identidades relacionadas ao rural, resgatando a territorialidade e os saberes tradicionais locais.
|
|