02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC4.1 - Estigma, discriminação e modos de cuidar em saúde mental. |
47165 - O CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA: A ARTICULAÇÃO EM REDE É O QUE MAIS IMPORTA? GISELE DE AMORIM DINIZ - INSTITUTO GNOSIS, MÔNICA DE CASTRO DANTAS LOUZA - ENSP/FIOCRUZ, NATASHA LAUREANO DA FONSECA - ESPJV/FIOCRUZ, REBECA SILVA OLIVEIRA - INSTITUTO GNOSIS
Contextualização O relato de experiência é sobre o cuidado em saúde e a articulação de rede, em um caso de saúde mental com uso abusivo de álcool e outras drogas na Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da atuação de uma Equipe Multidisciplinar em Atenção Psicossocial (EMAPS) e do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no município de Maricá, no estado do Rio de Janeiro. A EMAPS é composta por assistentes sociais, psicólogas e psiquiatras, e atua como equipe de apoio das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), pelo viés do matriciamento e do compartilhamento do cuidado em saúde mental. A equipe tem caráter volante nas UBS dos territórios e de forma peripatética, fugindo da concepção ambulatorial das consultas individuais. Desta forma, o trabalho da equipe multidisciplinar articulada com a ESF, ganha maior autonomia e dinamicidade nas ações desenvolvidas na Atenção Básica (AB) e organiza o cuidado com práticas terapêuticas, anti-estigmatizadoras e corresponsáveis.
Descrição O caso trata de uma mulher adulta, moradora do município de Maricá, que reside em um distrito em que a violência e vulnerabilidade social permeiam o território. A usuária é uma mulher preta, desempregada e mãe solo de um menino adolescente. Tem como rede de apoio apenas sua mãe e irmã, que moram no mesmo terreno e a auxiliam. A usuária chega para a equipe EMAPS/NASF a partir de uma discussão de caso com a ESF que solicita suporte, devido à complexidade do caso, entendendo ser uma usuária que fazia uso abusivo e nocivo de medicamentos, álcool e outras drogas, além de ideações de morte. Após uma tentativa de autoextermínio, que ocasionou a sua internação no hospital municipal, foi pensado o Projeto Terapêutico Singular (PTS) que organizasse seu retorno para casa. O retorno, foi conturbado já que a usuária só possui suporte de duas familiares, que também são atravessadas pelas questões de raça e gênero. A usuária detém baixa autoestima, dificuldades de inserção no mercado de trabalho, relacionamentos abusivos, recaídas e diversas ideações de morte nesse período. A equipe realiza o acompanhamento através de visitas domiciliares, passando tardes em sua varanda, se fazendo presente em datas comemorativas, no apoio na realização de currículos, e sendo suporte para que ela possa se apoiar. Com o acompanhamento mais aproximado, ficou evidente que as questões inicialmente trazidas sobre a usuária pela ESF foram se alterando, fazendo com que as equipes fosse identificando outras determinações sociais surgidas no acompanhamento.
Período de Realização O acompanhamento terapêutico persiste, visto que, pelos princípios que regem a ESF, o cuidado longitudinal e integral é mantido. Ademais, segue o acompanhamento sistemático do cuidado em saúde pelas equipes especializadas (EMAPS/CAPSAD) em conjunto com a ESF/NASF do ano de 2022 até o presente momento.
Objetivos O objetivo é destacar o trabalho em saúde mental na AB, e principalmente, do trabalho integrado e multiprofissional das equipes da ESF, NASF, EMAPS e CAPSAD.
Resultados O caso traz o cuidado integral em saúde, que promove um cuidado libertário, democrático, sem estigmas e participativo como proposto pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), testemunhando de uma estratégia terapêutica na perspectiva da clínica ampliada que vislumbram que saúde é atravessada pela raça e gênero e que os entendimentos desses marcadores, são fundamentais para sustentar estratégias antimanicomiais. Destacando que o resultado principal foi a construção do vínculo e um cuidado permeado por afeto, que também configura assistência em saúde e gera impactos positivos no processo terapêutico.
Aprendizados Os aprendizados foram a importância de se construir um PTS no dia a dia do trabalho com a articulação de diversos atores no cuidado em saúde, por meio de: discussões do caso; supervisões distritais que envolve os dispositivos da rede setorial; visitas domiciliares e acompanhamento através de consulta e interconsulta na UBS.
Análise Crítica Ao refletirmos sobre essa experiência, correlacionamos ao contexto político, sobretudo, da última gestão do governo federal. Haja vista, no grande investimento nas comunidades terapêuticas, que em sua maioria, se propõem a tratar através da religiosidade e da abstinência como única forma de lidar com o uso da droga, o que está em desacordo com os princípios da Reforma Psiquiátrica. Acreditamos nos serviços substitutivos ao manicômio, no trabalho territorial e intersetorial de promoção da saúde a partir da lógica da redução de danos. A efeito disso, os casos de saúde mental atravessados pelo uso abusivo de álcool e outras drogas trazem delicadezas. Em razão disso, entendemos a importância do acolhimento para a família, da escuta qualificada, articulação com dispositivos da rede, desmistificação do usuário de saúde mental com uso abusivo de substâncias psicoativas, e considerar os atravessamentos e determinantes sociais (socioeconômicos) que transcorrem os usuários.
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