02/11/2023 - 08:30 - 10:00 COC4.1 - Estigma, discriminação e modos de cuidar em saúde mental. |
48063 - HANSENÍASE E DETERMINISMOS: A MANUTENÇÃO DO ESTIGMA E DISCRIMINAÇÃO EM UM ESPAÇO EDUCACIONAL AMANDA QUEIROZ TEIXEIRA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, RECIFE, PE, BRASIL, DAYANE DA ROCHA PIMENTEL - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, RECIFE, PE, BRASIL, TEREZA MACIEL LYRA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, RECIFE, PE, BRASIL, WAYNER VIEIRA DE SOUZA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, RECIFE, PE, BRASIL, AMANDA PRISCILA DE SANTANA CABRAL SILVA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES, FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, RECIFE, PE, BRASIL; CENTRO ACADÊMICO DE VITÓRIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, PE, BRASIL
Contextualização A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo bacilo M. leprae, que possui tropismo por nervos periféricos e pele, havendo possibilidade de acometer outras áreas do corpo a depender de fatores imunológicos do indivíduo infectado. O curso da doença, em casos de diagnóstico tardio ou ausência de tratamento, pode transcorrer com reações hansênicas, incapacidades físicas especialmente em pés, mãos, nos olhos e perda funcional de membros.
Considerada uma das doenças humanas mais antigas, está associada às precárias condições socioeconômicas. Possui um passado histórico repleto de rejeições e atitudes excludentes. As pessoas acometidas foram estigmatizadas, discriminadas e afastadas compulsoriamente do convívio social. Enquanto herança dessas ações, associadas ao desconhecimento, há o comprometimento do diagnóstico precoce e adesão ao tratamento oportuno.
Descrição Estudo descritivo ocorrido em uma escola estadual de um bairro da zona Norte do Recife-PE. Atualmente possui 1.488.920 habitantes e administrativamente é dividida em oito Distritos Sanitários (DS). A cidade é considerada hiperendêmica para o agravo em questão e essa experiência transcorreu em um bairro localizado no DS II que, historicamente, eleva os indicadores municipais da hanseníase, inclusive em menores de 15 anos.
O caso ocorreu com um adolescente de 12 anos. Para manutenção do sigilo, será utilizado o codinome de Capitão América, personagem que ele se diz fã.
O Capitão América tinha 07 anos quando foi diagnosticado pela Equipe de Saúde da Família (ESF), já apresentando comprometimento dos membros superiores e inferiores (MMSSII), resultantes da identificação tardia. Foi avaliado com grau II de comprometimento de nervos e precisou adaptar-se a uma nova realidade. Devido a marcha limitada, foi matriculado em uma escola mais próxima a sua residência em 2019.
Enquanto brincava na Escola, devido às alterações sensitivas nos MMSSII, Capitão América, se lesionou chegando a sangrar e não perceber. Por se tornarem eventos recorrentes, a ESF que o acompanha foi acionada por sua genitora referindo que o adolescente estava sendo negligenciado e vítima de atitudes discriminatórias na Escola. Após algumas tentativas documentais enviadas à direção da Escola, a ESF sinalizou à coordenação distrital de hanseníase a dificuldade em reverter a situação.
Ciente do caso, a coordenadora contatou a direção da Escola para uma reunião e compreensão do caso. Durante a realização desse momento, descobriu-se que as posturas e falas hostis proferidas ao adolescente eram provenientes de alguns docentes da Instituição. A estratégia elencada pela coordenadora junto à direção, foi a realização de palestra sobre hanseníase e escuta junto aos docentes.
Período de Realização A reunião e palestra ocorreram entre 22 de julho e 13 de agosto de 2019 nas dependências da escola.
Objetivos Analisar quais as possíveis causas para manutenção de atitudes discriminatórias e estigmatizantes relacionadas à hanseníase em um espaço educacional em Recife-PE.
Resultados O desconhecimento e o medo associados às sequelas decorrentes da hanseníase ao adolescente, foram os principais fatores relacionadas as atitudes discriminatórias. Essas percebidas em posturas, atitudes e relatos dos docentes, exacerbados por conceitos insipientes, resultando em práticas excludentes junto ao adolescente.
Durante a palestra sobre hanseníase, houve participação dos docentes com perguntas, desconstruções e planos de incluir o tema nas aulas. Além de ampliarem o acolhimento ao adolescente que estava sofrendo com as atitudes não condizentes com o ambiente que originalmente sucinta formação, inclusão e conhecimento. Devido a pandemia da COVID-19, não houve o retorno no período planejado. Alguns professores mantiveram-se afastados e foi pactuado novo encontro para o mês de agosto de 2023.
Aprendizados Almejo que os professores, que possuem as mais diversas capacidades e tanto inspiram possam manter-se preparados para compreender ou assim buscar aprender sobre o acolhimento das pessoas considerando suas singularidades.
Análise Crítica Se tratando de uma doença negligenciada, a hanseníase possui determinações relacionadas às questões socioeconômicas, baixos investimentos e ausência de divulgação sobre o tema. A participação das equipes multidisciplinares, intersetoriais, sociedade civil e das escolas podem contribuir no combate aos estigmas, discriminações e junto às propostas de apoio às pessoas afetadas com sequelas físicas e mentais instauradas corroboram com a diminuição dos impactos físicos e psicológicos da doença contribuindo com a redução das iniquidades sociais. Modalidades de cuidado em dedicação integral que incluam a reabilitação baseada na comunidade e redução do estigma, em consonância com os indicadores-chave e de progresso para os pilares estratégicos rumo à zero hanseníase da Estratégia Global de Hanseníase 2021–2030 da Organização Mundial de Saúde, devem ser reforçados e implantados nas diferentes realidades territoriais do estado brasileiro.
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