46218 - GESTAÇÃO NO CÁRCERE: PERCEPÇÕES DE MULHERES ACERCA DO PERÍODO GRAVÍDICO NO AMBIENTE CARCERÁRIO RILLARY AMARAL CAMELO CALHEIROS - UNIVASF, EMILY FERNANDES PEREIRA - UNIVASF, CLARA EMANUELLY RODRIGUES DE MENEZES - UNIVASF, INGRID DOS SANTOS SILVA - UNIVASF, THAYSA MARIA VIEIRA JUSTINO - UNIVASF, MICHELLE CHRISTINI ARAÚJO VIEIRA - UNIVASF, KALLINY MIRELLA GONÇALVES BARBOSA - UEFS
Apresentação/Introdução A mulher, durante o período gravídico, vivencia diversas mudanças biopsicossociais que são inerentes à gestação, e é justamente neste período de grandes modificações que a mulher necessita de maiores cuidados à saúde. Outrossim, quando a vida dentro do ambiente prisional e a gestação se entrelaçam, trazem consigo o aumento da vulnerabilidade da mulher privada de liberdade, uma vez que as condições impostas pelo ambiente carcerário, como a dificuldade de acesso aos serviços extramuros e o distanciamento da família, corroboram para a exacerbação dos sentimentos negativos da mulher grávida e para o agravamento de condições próprias da gestação (CHAVES; ARAÚJO, 2020).
Ressalta-se que a família desempenha um papel significativo no suporte emocional e afetivo, principalmente durante os períodos gravídico e puerperal. Contudo, devido ao isolamento social oriundo do cárcere, os laços e vínculos tornam-se menos sólidos, que fomentam sentimentos negativos de insegurança, abandono e desamparo (NUNES; DESLANDES, JANNOTTI, 2020).
Objetivos Considerando que são comuns os relatos de carência de uma rede de apoio, o presente estudo tem como intuito descrever e compreender os sentimentos e percepções da mulher em situação de cárcere acerca da gestação no ambiente carcerário.
Metodologia Trata-se de um estudo de caráter qualitativo, do tipo exploratório e descritivo. O estudo foi desenvolvido na Cadeia Pública Feminina de Petrolina, PE (CPFP), e contou com a participação de 02 mulheres. Ressalta-se que as entrevistas foram realizadas durante duas consultas de pré-natal no mês de junho/2023 promovidas pelo projeto de extensão “Promoção de Saúde da Pessoa em Situação de Cárcere em Unidades Femininas”. A fim de preservar a identidade das participantes, estas serão descritas com os nomes de E1 e E2. A coleta de dados realizou-se através de uma entrevista semi-estruturada elaborada pelas pesquisadoras. Ressalta-se que todos os diálogos foram gravados para posterior transcrição e análise. Os dados foram analisados através da metodologia de análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Ressalta-se que este estudo está fundamentado nos preceitos da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e que as atividades de pesquisa vinculadas ao projeto estão aprovadas pelo Comitê de Ética sob parecer nº 5.246.073 e CAAE 53114221.7.0000.8052.
Resultados e discussão O discurso evidenciado a partir das falas das participantes defronte à questão norteadora “Como é para você estar grávida na prisão?”, realça a exacerbação dos sentimentos negativos, revelando a angústia das reeducandas frente à solidão de precisarem enfrentar o momento gravídico longe de seus familiares.
E1: Eu tô bem(com a gravidez), porque eu tava com o pai da criança, né? até então, até o acontecimento(ter sido presa)(…) É minha primeira vez(que estava grávida e presa), mas eu ‘to superando da melhor maneira (...) não é bom estar presa grávida. A sensação de eu estar com meu companheiro, né? seria bem diferente, seria melhor com ele tando ao meu lado, como nas minhas duas outras gestações, que eu tava junta.
E2: Ave, é ruim demais, Deus me livre! a gente fica pensando como é que eles(a família) estão (...) essa semana eu passei mal, porque eu tava com muita saudade (...) e aí eu procuro mais não ficar focando muito nisso por causa da criança (...)eu tento não ficar chorando muito, mas eu acabo chorando, porque é mais de ano longe deles e agora na cadeia grávida é que é só Deus… Eu me sinto só, né? Eu tenho que resolver minhas coisas sozinha, só tenho minhas irmãs. Queria uma chance pra mim sair pra cuidar dele melhor, mas está sendo difícil.
As mudanças hormonais fisiológicas vivenciadas em decorrência da gravidez, parto e puerpério causam diversas alterações, tanto sistêmicas quanto psicológicas ao organismo feminino (LISBOA, 2021). Paralelo a isto, tais discursos ressaltam que as gestantes em privação de liberdade exigem uma assistência individualizada, que leve em consideração os fatores socioculturais concernentes ao encarceramento e que acarretam no distanciamento da família e perda da rede de apoio, dispondo o cárcere como um agravante a sentimentos negativos como estresse, ansiedade e depressão. Ademais, a partir da angústia evidenciada pelos discursos, destaca-se a maior probabilidade deste público desenvolver depressão pós-parto, o que retrata a necessidade da assistência de pré-natal durante e após o parto (MAGALHÃES, 2020).
Conclusões/Considerações finais Portanto, a análise do conteúdo permitiu conjecturar que a família é um dos principais alicerces dos aspectos afetivos-emocionais da pessoa privada de liberdade, sobretudo durante a gestação. Neste viés, faz-se necessário salientar que o distanciamento da rede de apoio causado pelo cárcere desperta sentimentos negativos, como solidão e abandono, na gestante em privação de liberdade.
|