Comunicação Oral Curta

03/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC4.2 - Pessoas em situação de vulnerabilidade

46961 - VIVÊNCIAS ACERCA DO AUTOCUIDADO DE MÃES DE CRIANÇAS COM MICROCEFALIA PELA SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA
MARIA EDUARDA GONÇALVES FARIAS - SECRETARIA DE SAÚDE DO RECIFE, MARIA LOUIZE MARQUES CALIXTO - INSTITUTO DE MEDICINA INTEGRAL PROFESSOR FERNANDO FIGUEIRA, THYALLE MONIKE DA SILVA - SECRETARIA DE SAÚDE DO RECIFE, MARIA APARECIDA BESERRA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, CLAUDIA ALVES DE SENA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, MARIA SUELY MEDEIROS CORRÊA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO


Apresentação/Introdução
Em novembro de 2015, a microcefalia foi declarada Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional devido ao padrão atípico de ocorrência no Brasil, especialmente na Região Nordeste. O Ministério da Saúde (MS) foi notificado sobre 18.282 casos suspeitos de alterações no crescimento e desenvolvimento possivelmente relacionados à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias infecciosas.
A Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV) é um conjunto de alterações fisiológicas e cognitivas causadas pelo Zika Vírus. As alterações podem ser epilepsia, paralisia cerebral, retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e fala, além de problemas de visão e audição.
Apesar do período epidêmico aparentemente já estar encerrado, ainda estão ocorrendo novos casos da SCZV. O estado de Pernambuco, foi um dos mais atingidos, tendo o maior número de crianças com microcefalia causada por esta síndrome.
Nesse contexto, as genitoras destas crianças se tornam a pessoa central mais importante para o cuidado e seguimento às orientações/tratamentos médicos estabelecidos. Quando um de seus descendentes nasce portador de alguma enfermidade, logo recai sobre ela o papel de cuidadora, responsável absoluta sobre essa criança.
O presente estudo buscou compreender o autocuidado de mães de crianças com microcefalia causada pela SCZV. A fim de entender o sentido da existência humana a partir do próprio ser destas mães. Para tanto, ouvimos essas mulheres, percebendo suas vivências no cotidiano, a fim de aprofundar os estudos do fenômeno selecionado.

Objetivos
Compreender as vivências acerca do autocuidado por mães de crianças com microcefalia pela síndrome congênita do Zika.

Metodologia
Trata-se de um estudo exploratório, qualitativo baseado na fenomenologia existencial de Heidegger, realizado em duas unidades de saúde do Estado de Pernambuco, com sete genitoras de crianças portadoras de microcefalia pela síndrome congênita do Zika, por meio de entrevistas semiestruturadas guiadas por um roteiro, gravadas e transcritas na íntegra e analisadas pela técnica de análise de conteúdo na perspectiva heideggeriana.

Resultados e discussão
As mulheres deste estudo tinham uma média de idade de 34,14 anos, a maioria procedente do Recife (PE), com dois filhos, cinco tinham ensino médio completo e duas o fundamental incompleto. Grande parte tinha renda média de um salário-mínimo e se declararam pardas. Verificou-se que as mulheres não estavam inseridas no mercado de trabalho, tendo apenas o Benefício de Prestação Continuada para se sustentar.
A análise das entrevistas permitiu a identificação das unidades de sentido: “Ser mãe de uma criança com microcefalia” e “O novo modo de estar-no-mundo: implicações no autocuidado”. O ser mãe de uma criança especial significou uma abertura para o mundo, pois o homem só se reconhece na sua relação com o outro e o cuidado é que torna significativa a vida, ser-no-mundo é cuidar, faz parte da existência humana e da maneira do homem viver no mundo.
Além disso, apesar das dificuldades enfrentadas, as mães não deixaram de mencionar a gratidão que sentem pela vida dos filhos e seguiram apoiadas na fé. Sendo assim, essa é mais uma maneira de enfrentamento para essas mulheres, pois quando elas se compreendem como mães escolhidas e especiais, isso soa positivamente e reflete uma esperança no futuro que elas não podem ver.
As diversas dificuldades vivenciadas por essas cuidadoras representam para elas um novo modo de estar no mundo, que para Heidegger significa o ente lançado na temporalidade. Diante disso, as mães dessas crianças com microcefalia pela SCZK, renunciam o próprio autocuidado para dedicar-se aos filhos, entretanto, é esse cuidado pelo outro que leva à de-cadência. Para Heidegger, a de-cadência é o abandonar-se em favor das ocupações e das ambiguidades que lhe faz ter uma existência inautêntica.
Percebe-se que mesmo que as mães tenham prazer em cuidar do filho, em certo momento elas se sentem cansadas e exaustas, não dispondo de momentos de lazer, assim como em relação ao autocuidado, comprometendo o viver materno.
É importante salientar a importância do profissional enfermeiro da estratégia de saúde da família na construção do vínculo entre família, criança e equipe de saúde, oferecendo uma assistência integral desde os primeiros dias de vida da criança, permitindo detectar precocemente as alterações nas áreas do crescimento, da nutrição e do desenvolvimento neuropsicomotor, e resultando na vigilância e promoção da qualidade de vida tanto para a criança quanto para a mãe cuidadora.

Conclusões/Considerações finais
Verificou-se que as mães de crianças com microcefalia pela síndrome congênita do Zika se veem sobrecarregadas de atividades, acarretando falta de cuidado com a saúde, comprometendo sua qualidade de vida. Propõem-se novos estudos para que essas mulheres sejam reconhecidas como seres que também precisam de cuidados.