Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC7.1 - Das Periferias ao Centro saberes em movimento

47453 - XWARA, SAÚDE E CINEMA: AS RELAÇÕES ENTRE DECOLONIALIDADE, INTERSECCIONALIDADE E NA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL “SOBRE” OS YANOMAMI
DANIELA MUZI - FIOCRUZ, PAULO CASTIGLIONI LARA - FIOCRUZ, MARCOS CANTANHEDE - TARDE ILUSTRADA


Contextualização
Contextualização
Fotografias de yanomami desnutridos circularam na imprensa em janeiro de 2023. As imagens dos corpos esquálidos soaram como um grito de socorro, que deflagrou no decreto de Emergência em Saúde Pública de Interesse Nacional (Espin) na Terra Indígena (TI) Yanomami em 20 de janeiro pelo Ministério da Saúde (MS) por conta da desassistência sanitária. As imagens de sofrimento do povo indígena, que num primeiro momento tinham o papel de denúncia, começaram a ser produzidas e circuladas, à despeito da cultura yanomami, que têm restrições ao uso imagens, sobretudo às de pessoas mortas, indo de encontro com a cultura ocidental de base eurocêntrica onde a exposição midiática é vista com algo positivo.


Descrição
Descrição
A partir de necessidade de um olhar cuidadoso e respeitoso aos yanomami e profissionais de saúde envolvidos, em diálogo com os princípios do SUS e destacando suas dimensões humanas e cidadãs, a equipe de audiovisual do campo da comunicação e saúde foi convocada a registrar esse momento histórico da saúde pública. Assim como fizeram Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, Noel Nutels, pesquisadores que usaram o audiovisual para documentar crises sanitárias e práticas de saúde pública no Brasil. A partir disso, é reunida uma equipe multidisciplinar e reduzida com três profissionais com experiência no campo da comunicação e saúde, antropologia visual, cinema e ambiente para realizar um documentário de média metragem no território indígena sobre a emergência sanitária.

Período de Realização
Período de realização
A gravação do documentário foi realizada entre os dias 15 e 25 de abril de 2023. O relato desta experiência se dá durante este período de trabalho de campo na cidade de Boa Vista e no Polo Base de Surucucu, TI Yanomami.



Objetivos
Objetivo
Este relato busca refletir, a partir da experiência de realização de um documentário em plena emergência sanitária, sobre as relações entre decolonialidade, interseccionalidade e comunicação e saúde na produção audiovisual “sobre” os povos originários, levando em consideração a relação com que esses povos possuem com a cultura imagética.

Resultados
Resultados
Exercendo práticas de comunicação e saúde em alinhamento com o SUS, foram produzidas imagens e entrevistas que vão ao encontro dos princípios de universalidade, indo até o território indígena, de restrito e difícil acesso; de equidade, buscando compreender os diferentes contextos e condições de vida dos interlocutores e incluindo profissionais de saúde, indígenas e não indígenas, de diversas categorias profissionais, muitas vezes invisibilizadas, e lideranças indígenas yanomami, que falaram em sua língua yanomae, em diálogo com o princípio da integralidade. A produção preocupou-se em produzir um material audiovisual que não comprometesse a integridade dos yanomami representando-os em situação vulnerável ou degradante. Parte dessas imagens, além de serem usadas para realização do filme sobre saúde indígena, foram compartilhadas com o Ministério da Saúde e Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para que possam ser usadas por outros realizadores audiovisuais e assim contribuindo para a circulação de imagens que respeitem a cultura yanomami.


Aprendizados
Aprendizados
A gravação do documentário permitiu compreender a importância da reestruturação do Subsistema de Saúde Indígena, com seus polos base de atendimento em TI, e a complexidade dos entes envolvidos. Outro aprendizado é o entendimento da importância da sustentação da saúde indígena como pauta permanente para debate junto à sociedade, e não apenas ser visibilizada por conta da emergência sanitária. A saúde dos povos indígenas é fundamental para a garantia da saúde do mundo, uma vez que são eles, os povos originários, os detentores do conhecimento ancestral de respeito e preservação do ambiente de forma sustentável.

Análise Crítica
Análise crítica
Essa experiência audiovisual mostrou a importância e a invisibilidade do debate da saúde indígena, que passado os primeiros dias do decreto da emergência, desaparece dos noticiários dando a impressão à sociedade de que a situação já foi resolvida. São enormes os desafios que envolvem a reestruturação do Subsistema de Saúde Indígena e preservação do ambiente. O que evidencia que esse debate precisa ser ampliado junto à sociedade e a circulação de imagens têm também esse papel de dar visibilidade a questões tão fundamentais e necessárias para o campo da saúde, desde que sejam produzidas em diálogo e com respeito aos povos indígenas e que eles cada vez mais possam ter autonomia de produzirem suas imagens e assim usá-las, como muitos já vêm usando, como forma de denúncia e defesa de seus direitos. Os povos indígenas não são imunes ao metaprocesso de midiatização da sociedade, e por isso, são plenamente conscientes dos sentidos e significados das imagens e por isso devem e precisam ser respeitados também na forma pelas quais são representados.