Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC8.1 - Cuidado, trabalho, diferenças e intersecções em perspectiva

46147 - INCAPACIDADES EM VÍTIMAS GRAVES DE ACIDENTES DE TRÂNSITO NA CAPITAL DE MATO GROSSO, BRASIL
LIGIA REGINA DE OLIVEIRA - ISC-UFMT, KELLY CRISTINA TEIXEIRA BRANDÃO DE ANDRADE - SMS-CUIABÁ


Apresentação/Introdução
Os acidentes de trânsito (AT) configuram importante causa de morte, lesões e incapacidades, logo, sua relevância para a saúde coletiva é inegável. O número de indivíduos acometidos por esses eventos gera impacto importante na saúde além de problemas sociais, psicológicos, econômicos e previdenciários. Os acidentes de trânsito vêm se destacando devido a lesões não fatais, que podem gerar efeitos ao longo da vida das pessoas, como incapacidades. Entretanto os indicadores usualmente utilizados apontam para um saber ainda limitado quanto a magnitude das sequelas que os acidentes de trânsito causam entre os sobreviventes, não fornecendo informações sobre a prevalência de incapacidades decorrentes desses eventos, nem tão pouco sobre o impacto que estes causam na vida das pessoas. As sequelas causadas pelas lesões em sobreviventes de acidentes de trânsito podem resultar em comprometimento funcional, temporário ou permanente, da capacidade individual em desenvolver atividades da vida diária e laborais, gerando repercussões em vários campos da vida do indivíduo, família e coletividade que vão desde o âmbito da saúde, até a aspectos econômicos e sociais.

Objetivos
Investigar a evolução e a magnitude das deficiências e incapacidades em vítimas graves de acidentes de trânsito.

Metodologia
Estudo longitudinal prospectivo, com base em dados primários e secundários, com uma amostra de conveniência de vítimas graves de acidentes de trânsito internadas em um hospital de referência da capital do estado de Mato Grosso em junho de 2018. Realizou-se três entrevistas: a primeira no local de internação e as demais, em residência, três e seis meses após o acidentes de trânsito. A a classificação da incapacidade se deu pela aplicação de um instrumento baseado no Cheklist da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Foi realizada análise descritiva dos dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - Saúde - da Universidade Federal de Mato Grosso, sob Parecer Nº: 2.632.075.

Resultados e discussão
Foram acompanhados 67 indivíduos vítimas de AT grave. Predominou sexo masculino (71,6%), cor/raça negra (82,1%), motociclistas (91,0%) e idade média 33 anos; 54,4% foram acidentes de trabalho. O tempo médio de retorno ao trabalho foi 105 dias e, cerca de três meses pós-acidente, 64,9% das vítimas ainda não haviam retornado ao trabalho, já ao final do estudo, ou seja, cerca de seis meses após o acidente, 36,8% ainda não haviam retomado suas atividades laborais. Tiveram indicação para reabilitação física 71,6% e dos indivíduos e desses, 68,8% realizaram o tratamento em algum momento no período observado. Cerca de 85% o tratamento de reabilitação se deu na rede pública; o tempo para este acesso foi de 85 dias no serviço público e de 35 dias no privado. Cerca de seis meses após o AT, verificou-se que 94,0% dos indivíduos permaneciam com alguma deficiência e 79,1% com incapacidade, sendo esta última de extensão moderada. A maioria dos indivíduos permanecia com deficiências das funções sensoriais e dor (80,6%) e neuromuscoloesqueléticas e relacionadas ao movimento (74,6%). As limitações de atividade e restrições a participação mais frequentes foram as relacionadas à mobilidade (82,1%): carregar objetos, andar, dirigir; ás áreas principais da vida (61,2%), como trabalho; e à vida comunitária (50,7%), como lazer. Os serviços, sistemas e políticas constituíram-se no principal obstáculo enfrentado, presente para 62,7%, tendo prevalecido os relacionados à área da saúde, as áreas que se destacaram foram saúde, econômica e previdência social. Pouco mais da metade dos indivíduos referiu que o apoio e relacionamentos, em especial o familiar, foi importante facilitador.

Conclusões/Considerações finais
O estudo evidenciou a magnitude, extensão das deficiências e incapacidades em vítimas graves de AT, mostrando que mesmo muito tempo após sua ocorrência, os AT afetam a vida das pessoas de diferentes formas, repercutindo em sérios problemas sociais e econômicos, confirmando que os AT não apenas matam, mas geram incapacidades temporárias ou permanentes, que impactam a vida das pessoas. Constatou-se que o modelo biopsicossocial proposto pela CIF, amplia o olhar sobre o indivíduo, possibilitando identificar os diversos problemas enfrentados em diferentes momentos, reconhecendo que essas mudanças são dinâmicas, e podem flutuar ao longo do tempo, dependendo sobretudo da interferência que os fatores ambientais exercem sobre as condições de saúde, podendo agravar ou mesmo amenizar as situações que geram incapacidade.