Comunicação Oral Curta

02/11/2023 - 08:30 - 10:00
COC8.1 - Cuidado, trabalho, diferenças e intersecções em perspectiva

46487 - REPRESENTATIVIDADE FAZ BEM À SAUDE: ADOECIMENTO CRÔNICO, INFÂNCIA E RELAÇÕES RACIAIS EM CONTEXTO DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR
ISABEL ARAÚJO DA COSTA - IFF/FIOCRUZ


Contextualização
Este trabalho é um recorte acerca das inquietações e experiências vividas por mim enquanto mulher negra, ainda na graduação, como estagiária de psicologia na assistência a crianças com condições crônicas e complexas de saúde em contexto de internação hospitalar, tornando-se posteriormente, o meu tema de monografia. A inserção ocorreu no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/FIOCRUZ a partir do Núcleo Saúde e Brincar que utiliza o universo lúdico nas enfermarias para promover saúde e um ambiente mais humanizado oferecendo escuta e acolhimento a partir do brincar, a fim de fortalecer os laços afetivos e possibilitar a ressignificação do processo de adoecimento e hospitalização.

Descrição
A prática no Núcleo Saúde e Brincar ocorria semanalmente nas enfermarias do hospital. O primeiro contato com as crianças e adolescentes dava-se através da triagem, momento a qual se ofertava a possibilidade da brincadeira ocorrer e a escolha dos brinquedos que seriam utilizados. No segundo momento, com os brinquedos já separados, a entrada em campo é realizada com a brincadeira ocorrendo no leito. A equipe era composta por estagiários de psicologia e terapia ocupacional, bem como residentes destas respectivas áreas. Nessa experiência enquanto a única mulher negra de pele escura que compunha a equipe, no trânsito hospitalar, interações particulares e potentes ocorreram junto às crianças, além disso grandes reflexos do racismo estruturante e cotidiano presentes na nossa sociedade, também compuseram a cena como por exemplo a constante associação a minha imagem como “mãezinha” por parte dos trabalhadores de saúde ou mesmo as barreiras no acesso marcando o meu não-lugar nesse espaço. Neste relato, ilumino a minha interação com as crianças a partir de uma perspectiva do corpo negro como político, pois é justamente nessa experiência encarnada que construímos formas de ser e estar no mundo possibilitando a construção daquilo que conhecemos como “representatividade negra positivada”, ademais construindo novas formas de se experienciar uma infância no adoecimento crônico a partir do brincar.

Período de Realização
Tal experiência ocorreu no ano de 2019, período em que o estágio estava em andamento.

Objetivos
Produzir um conhecimento que contribua para a valorização das infâncias negras e, além disso, que inspire práticas mais positivas dos trabalhadores da saúde no campo adoecimento crônico

Resultados
Apesar do crescente avanço da discussão de questões raciais na saúde, quando nos debruçamos para o campo do adoecimento crônico na infância o que se percebe é um grande silêncio para essas questões.


Aprendizados
A representação social do que é o negro perpassa por um lugar de não-pertencimento, por sofrimento e uma imagem negativa construída, principalmente, a partir do processo de colonização. Na infância, essa construção também é mantida por meio da marginalização e adultização da criança negra fazendo com que as mesmas também reproduzam tal discurso. Desse modo, a partir da compreensão de que representatividade faz bem à saúde à medida que essas crianças, marcadas pelo adoecer, também são racializadas por uma sociedade racista é possível então pensar sobre um cuidado que valorize a diversidade produzindo e ampliando narrativas e modos singulares de ser e estar no mundo.


Análise Crítica
A experiência de adoecer cronicamente é muito diversa, pois consideramos que as relações sociais, cuidados à saúde e afetos se entrecruzam construindo uma experiência singular, permeada também pela própria instituição hospitalar, ao levar em consideração o grande fluxo de internações e consultas que são realizadas. Portanto, o hospital faz parte do cotidiano e da vida dessas crianças e seus familiares, porém nesse contexto institucional operado a partir de uma lógica biomédica, questões referentes aos marcadores sociais da diferença e os seus impactos na saúde, por vezes tornam-se invisibilizados. Sendo, então, reforçador e reprodutor de violências oriundas das grandes estruturas de opressão, como o racismo. Desse modo, pensar saúde também é pensar sobre relações raciais e a maneira como as mesmas estão direta e indiretamente presentes no adoecimento crônico nas diversas infâncias.