02/11/2023 - 13:10 - 14:40 OL6 - Potencialdiades e desafios das linguagens dos DESENHOS, ILUSTRAÇÕES, COLAGENS, LITERATURA e ESCRITA DE MEMÓRIAS para pensar o cuidado como práxis decolonizadora |
48093 - A FOME DESTRÓI TÁRSILA TAMIRES QUEROBIM SOUZA - UFMT
Processo de escolha do tema e de produção da obra Trata-se de uma colagem analógica, produzida através de recortes de revistas e impressão de texto, em outubro de 2022, período pré-eleições presidenciais. Na obra, retrata-se o processo de insegurança alimentar e nutricional (IAN) e a violação da dignidade humana, pautado nos determinantes macrosocioeconômicos da origem da fome e os seus impactos sociais. Considerando que a alimentação adequada é um direito humano previsto na Constituição Federal, que deve ser assegurado mediante políticas públicas, destaca-se a constatação de Josué de Castro: “(...) a fome é a expressão biológica de males sociológicos”, pois sintetiza a negligência do poder público no agir sobre ela. Inclusive, tal desamparo pode ser compreendido também como um projeto político, exemplificado pelo desmonte das políticas públicas de promoção à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) realizado pelo antigo governo, que culminou no agravamento da situação alimentar e nutricional da população brasileira. Em consonância com o tema, o trecho “(...) enquanto os homens exercem/seus podres poderes/morrer e matar de fome/de raiva e de sede/são tantas vezes/gestos naturais” da música “Podres Poderes”, de Caetano Veloso, denuncia a fome como um projeto político daqueles que priorizam defender os interesses econômicos em detrimento de estratégias que promovam a igualdade social, e, consequentemente, o acesso a alimentação adequada. Já o poema de Manuel Bandeira “(...) vi ontem um bicho/na imundície do pátio/catando comida entre os detritos/quando achava alguma coisa/não examinava nem cheirava: engolia com voracidade/o bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato/o bicho, meu Deus, era um homem”, “O Bicho”, simboliza a violação da dignidade humana associada ao fenômeno da fome através da animalização do homem pela busca de alimentos entre os detritos na rua, que revela a ausência do poder de escolha ou de critérios para seleção do que será consumido: a voracidade se dá pela urgência em mitigar a fome. Esse cenário se traduz nas imagens centrais da colagem, em que a destruição física, moral e social ocasionadas pelos contextos de privação ferem os direitos e a dignidade humana: uma mulher negra, com terror e desesperos estampados no olhar; e pessoas coletando resíduos em meio a um aterro sanitário. Sabe-se que pessoas socialmente marginalizadas por vezes se sujeitam a meios não convencionais e degradantes para obter o mínimo de “alimento” necessários à sua subsistência, porém, se desumanizando no processo de se manterem “vivos”.
Objetivos O objetivo da obra é trazer a reflexão sobre as origens e impactos da fome, tratando-a como um fenômeno social e demarcador de desigualdades. A negação do direito humano à alimentação adequada (DHAA) é consequência direta da má administração das políticas públicas e de um sistema econômico que se consolida na manutenção das desigualdades sociais. Diante deste contexto, é necessário o reconhecimento destas estruturas dominantes e o olhar crítico frente ao tema para sua compreensão e atuação ampla.
Ano e local da produção Outubro de 2022, Cuiabá-MT.
Análise crítica da obra relacionada à Saúde Coletiva e ao tema do congresso A IAN se relaciona intimamente com a saúde e as condições de vida da população, sendo que o DHAA constitui requisito básico para a promoção e manutenção da saúde e da própria vida em si. A garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, definida como “o direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem o comprometimento do acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”, é indispensável para uma sociedade mais justa e igualitária, pois promove a plena capacidade de desenvolvimento humano em todas as suas dimensões e o reconhecimento de si como sujeito. A SAN não é restrita somente às dimensões biológicas de produção e acesso de alimentos, e sim no estímulo de ações que promovam condições adequadas de vida (educação, saúde, habitação, renda, igualdade social) e a sustentabilidade social, econômica e ambiental, pois referencia a alimentação como um conjunto de práticas que extrapolam o “matar a fome” e reconhece as interseccionalidades associadas à negação de seu acesso. Agir sobre as inequidades sociais é imprescindível para promover meios de garantia de um viver mais digno a todos, especialmente à população marginalizada e àqueles que sofrem com a miséria e a pobreza, uma vez que tais opressões geralmente estão sobrepostas. Agir em conjunto através do fortalecimento de movimentos sociais e o empoderamento da sociedade mostra-se como um caminho possível para a promoção da saúde e da re(construção) de um Brasil sem fome e miséria.
Formatos e suportes necessários referentes à apresentação Colagem manual (papel A4). Multimídia para projeção (digitalizado).
Breve biografia do autor Nutricionista, especialista em Educação Alimentar e Nutricional, Mestranda em Epidemiologia Nutricional e entusiasta da arte como ferramenta de expressão.
|
|