02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO1.2 - Das barreiras à ação em vacinação |
46006 - A PRECARIEDADE DA VIDA E A ASCENSÃO DO MOVIMENTO ANTIVACINA NO BRASIL: INTERFACES COM A RACIONALIDADE NEOLIBERAL E O MOVIMENTO ANTIGÊNERO PRISCILA CARDIA PETRA - FIOCRUZ
Apresentação/Introdução A vacinação é considerada umas das medidas de saúde mais eficazes e estima-se que 1,5 milhões de mortes poderiam ser evitadas com o aumento da cobertura vacinal no mundo. Porém, os imunizantes são contestados desde que desenvolvidos pela ciência moderna demonstrando que quando há ingerência nos corpos, outros fatores para além dos saberes biológicos são relevantes. Assim, cresceram os movimentos antivacinação e questionamentos sobre os motivos pelos quais as pessoas não se vacinam.
Objetivos Esta pesquisa objetiva abordar as interfaces entre a precarização da vida e a ascensão do movimento antivacina no Brasil durante a pandemia da COVID-19. A precarização é abordada a partir de reflexões sobre a liberdade de não se vacinar e sua relação com a racionalidade neoliberal. Após, pretende-se aprofundar-se na forma com a qual o movimento antivacina também é um movimento antigênero, fortalecendo-se como um ecossistema de ódio, LGBTQIA+fóbico e de retrocesso aos direitos de pessoas capazes de gestar.
Metodologia A pesquisa será realizada por meio de abordagem indutiva e dedutiva baseada na Teoria Fundamentada nos Dados (TFD), a qual consiste em diretrizes sistemáticas e flexíveis para a recolha e análise de dados qualitativos com o intuito de construir teorias 'fundamentadas’ nos próprios dados. Assim, os dados constituirão a base da teoria e a análise a ser realizada sobre esses dados gera os conceitos a serem construídos. No presente caso, o recolhimento de dados se consubstancia na atividade de observação silenciosa de grupos da plataforma de mensageria privada denominada Telegram, especificamente dos grupos com conteúdo antivacina. A partir do estudo dos dados dos grupos do Telegram, pretende-se separá-los, classificá-los e sintetizá-los através da codificação qualitativa, buscando interfaces com o cenário histórico, social e político.
Resultados e discussão A precariedade da vida estabelece diálogos com a ascensão da racionalidade neoliberal, especificamente no sul global. Assim, percebe-se que o momento histórico de ruptura democrática e perda de direitos contribuiu para a ascensão do movimento antivacina.
Os dados demonstram que o movimento antivacina faz uso de novas formas de conceber a liberdade, especificamente a liberdade de não se vacinar, tratando-se de uma liberdade moralizada e elaborada como fonte de ação de escolhas individuais, sendo cada indivíduo único responsável pelo empreendimento da sua vida.
Além disso, os dados também demonstram que pautas típicas do movimento antivacina, tais como críticas à indústria farmacêutica e teorias da conspiração diversas, também se mostram como ofensivas antigênero que usam a retórica da defesa da família, das crianças e da moral, assim como discurso de ódio LGBTQIA+fóbicos para expandir sua capilaridade.
Conclusões/Considerações finais O movimento antivacina, para além da defesa de que vacinas trazem mais malefícios que benefícios, persegue poderes econômicos e políticos, associados a disputa de saberes. Nesse sentido, o movimento não somente nega a ciência, mas pretende disputá-la a partir das suas premissas.
Nesse sentido, o movimento antivacina está associado à precarização da vida, a racionalidade neoliberal e a ascensão da extrema direita ao poder.
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