02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO1.2 - Das barreiras à ação em vacinação |
46114 - PROFISSIONAIS DE SAÚDE E VACINAS: UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA A PARTIR DO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19 FLÁVIA MARIA MARTINS VIEIRA - UFPE
Apresentação/Introdução Nesta pesquisa problematizamos e refletimos sobre o lugar particular ocupado por profissionais de saúde que, durante a pandemia e no “pós-pandemia”, trabalharam cotidianamente na organização, planejamento e execução das ações de saúde pública voltada às vacinas e à vacinação. De modo a considerar a posição particular e crítica vivenciada pelos profissionais de saúde na pandemia, objetivamos compreender quais as novas implicações que este contexto trouxe para a rotina de trabalho desses sujeitos e também compreender como se conformam os usos e sentidos atribuídos por esses profissionais às vacinas e à vacinação. Reúno neste relato alguns dados preliminares de trabalho de campo etnográfico que venho desenvolvendo no âmbito de pesquisa de tese de doutorado em antropologia. O trabalho de campo etnográfico foi iniciado em 2021, segue em andamento e vem se concentrando no estado de Pernambuco, Brasil.
Objetivos 1) Compreender como se conformam os usos e sentidos atribuídos por profissionais de saúde às vacinas anticovid e as vacinas do calendário nacional de vacinação a partir do ano de 2020 e do contexto da pandemia da Covid-19. 2) Analisar de que formas o contexto da pandemia da Covid-19 provocou alterações nas rotinas de trabalho dos profissionais de saúde que atuam diretamente na administração de vacinas e organização da vacinação. 3) Analisar as interlocuções, argumentações e negociações envolvidas entre profissionais de saúde e público-alvo durante os momentos de vacinação.
Metodologia Esta pesquisa se situa no campo das pesquisas qualitativas em saúde e baseada em metodologia de cunho antropológico, portanto, fundamentada no trabalho de campo etnográfico. As principais técnicas de pesquisa utilizadas foram a observação participante e a entrevista qualitativa individual semiestruturada (online e presencial) com profissionais de saúde que atuam cotidianamente na organização, distribuição e administração de vacinas e ações de vacinação. A pesquisa se concentrou no estado de Pernambuco, mas nas entrevistas online foram incluídos profissionais de outros estados do Brasil. As observações participantes ocorreram em unidades básicas de saúde e em setores administrativos dedicados a organização, planejamento, distribuição e administração de vacinas e ações de vacinação no estado de Pernambuco, Brasil. As observações ocorreram majoritariamente no ano de 2023. As entrevistas ocorreram tanto presencialmente como por aplicativo de videochamada e foram realizadas em diferentes períodos dos anos 2021, 2022 e 2023.
Resultados e discussão A partir de uma análise sobre relatos de profissionais de saúde vacinadores que atuaram na vacinação contra a Covid-19 e demais vacinas durante os anos de 2021, 2022 e 2023, foi possível constatar um conjunto de mudanças vivenciadas por eles em suas rotinas de trabalho nas ações de vacinação. O cenário brasileiro de negacionismo científico e desconfiança em relação a autoridades e instituições parece ter reverberado nas interações cotidianas de profissionais de saúde vacinadores e o público-atendido. Novos questionamentos e desconfianças passaram a estar presentes nos momentos em que o público-alvo é vacinado, por exemplo: pessoas querendo saber qual o lote e validade da vacina antes de receber a dose; pessoas querendo fotografar e filmar o momento em que as vacinas são aplicadas. Além disso, o próprio contexto pandêmico implicou a formulação de novas estratégias de operacionalização de vacinação (por exemplo, drive-thru e Carro da Vacina), e isso se mostrou como desafiador para interlocutores da pesquisa, por exemplo no que se refere a rotina de higiene das mãos e também ao maior tempo desprendido para atender ao público. No que se refere aos usos e sentidos atribuídos pelos profissionais às vacinas e a vacinação, identificamos algumas associações metafóricas. Vacinas e vacinação foram associadas e utilizadas como sinônimos de esperança, amor e proteção. Identificamos que as metáforas podem ter um papel-chave no exercício de conhecimento e compreensão sobre os usos e sentidos que os profissionais de saúde constroem em relação às vacinas e à vacinação, de modo a conseguirmos identificar nuances, ambiguidades e diferentes camadas de significado.
Conclusões/Considerações finais As experiências de profissionais de saúde referentes a vacinas a vacinação merecem ser tomadas como profícuos objetos de pesquisa tanto para a ciência antropológica como para os estudos do campo das ciências sociais e humanas em saúde. O trabalho de campo etnográfico se mostrou de grande relevância para o alcance de uma profundidade qualitativa nos dados reunidos, pois nos permitiu observar as políticas de saúde em ato. Advogamos a partir dos resultados desta pesquisa que as experiências de profissionais de saúde enredadas às vacinas e a vacinação mostram-se férteis para uma compreensão e análise qualitativa aprofundada sobre as políticas de vacinas.
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