Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO2.4 - Contribuições à integração entre gestão, atenção e vigilância em saúde

45926 - AVALIAÇÃO DE UMA CAPACITAÇÃO PARA O CONTROLE DA HANSENÍASE: CONTRIBUIÇÕES PARA A GESTÃO
GISELA CORDEIRO PEREIRA CARDOSO - ENSP/FIOCRUZ, ELIZABETH MOREIRA DOS SANTOS - ENSP/FIOCRUZ, EGLÉUBIA ANDRADE DE OLIVEIRA - IESC/UFRJ, MARCELA ALVES DE ABREU - ENSP/FIOCRUZ, MICHELE SOUZA E SOUZA - IMS/UERJ, BEATRIZ DA COSTA SOARES - ENSP/FIOCRUZ, CARMELITA RIBEIRO FILHA CORIOLANO - MINISTÉRIO DA SAÚDE


Apresentação/Introdução
O Projeto ‘Abordagens inovadoras para intensificar esforços para um Brasil livre de Hanseníase’ foi uma iniciativa do Ministério da Saúde (MS), para realização de capacitações integradas in loco, ou seja, nos serviços da Atenção Primária à Saúde (APS), em municípios hiperepidêmicos das regiões norte, nordeste e centro, com profissionais de saúde de diferentes categorias, de 2017 a 2019. Os processos avaliativos têm o compromisso de dialogar e responder às necessidades de informação e de conhecimento dos envolvidos com a intervenção, ampliando sua análise, reflexão, compreensão e utilização.

Objetivos
Apresentar a avaliação de um projeto integrado de capacitação em serviço para profissionais de saúde nas ações de prevenção, diagnóstico e tratamento de hanseníase, problematizando o modelo de avaliação adotado.

Metodologia
Foi realizada uma avaliação ex-post, no período de seis meses, em 18 dos 20 municípios que participaram do projeto. O percurso metodológico empregou: a) uma abordagem colaborativa entre a equipe de avaliação e os demandantes da avaliação; b) a utilização de técnicas qualitativas; e c) um enfoque conceitual translacional.
Foram privilegiadas a análise documental e entrevistas grupais, especialmente os Grupos Focais (GF). A análise documental propiciou a modelização da teoria de mudança da intervenção e de sua linha do tempo. As entrevistas grupais, com profissionais e gestores, visaram a compreensão dos atores sobre o processo de capacitação e de educação em saúde.
Adotou-se o referencial analítico da translação do conhecimento, ancorando-se na Teoria do Ator-Rede (TAR) e nas práticas translacionais em pesquisas participativas. A análise levou em consideração o que foi problematizado nos cursos, de que forma os atores foram sensibilizados e quais foram as soluções ou os arranjos propostos, dos pontos de vista cognitivo, estratégico e logístico.


Resultados e discussão
Foram realizados 17 GF (entre 8-15 participantes), 04 rodas de conversa (mais de 15 participantes) e 03 entrevistas coletivas (entre 2-7 participantes), envolvendo 278 participantes (59 gestores e 211 profissionais). Destacam-se o perfil multiprofissional e a predominância dos profissionais de enfermagem, assim como do sexo feminino (80%).
As capacitações foram apreciadas positivamente pelos gestores, tanto com relação à ampliação e à atualização de conhecimentos (domínio cognitivo), quanto ao seu papel na reformulação de fluxos e maior visibilidade à hanseníase, reposicionando o problema na agenda estratégica dos municípios (domínio estratégico). A interação in loco facilitou a aprendizagem em torno das boas práticas profissionais e a troca de experiências. Sinalizaram, contudo, pontos problemáticos: grande número de participantes e a duração.
Em relação aos profissionais, o principal destaque foi a proposta pedagógica de reunir capacitação e ações em serviço (domínio cognitivo), mobilizando o conhecimento e uma abordagem diferente do usuário. No domínio estratégico foram problematizadas: a necessidade de ampliação de capacitações em identificação de casos para os ACS e o Nasf, a divulgação de informações sobre a doença para a população e o acionamento de redes de organizações locais. A integração de diferentes categorias profissionais foi objeto de controvérsia, sendo a maioria favorável. Para futuras iniciativas, os participantes sugeriram: 1) capacitações em grupos menores; e 2) maior padronização dos conteúdos e técnicas abordados.


Conclusões/Considerações finais
A avaliação evidenciou que as capacitações foram importantes estratégias de revalorização das ações de prevenção e controle da hanseníase ao conferir a essas ações um lugar privilegiado de discussão técnica, de reflexão e de mudança na APS e em sua relação com a especializada. A incorporação de uma abordagem inovadora de ensino em serviço em saúde, com a simultaneidade do ensino-aprendizado de conteúdos e habilidades técnicas no contexto das interações interprofissionais, em contexto de mundo real, mostrou-se gratificante para os envolvidos. O modelo de avaliação empregado, visando responder a uma demanda da gestão central da hanseníase, possibilitou, de forma colaborativa e negociada, permitiu o alcance dos objetivos da avaliação, ilustrando as percepções dos atores sobre o processo de capacitação em serviço, no contexto da APS, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País, possibilitando que as controvérsias e convergências viessem à tona, assim como as possíveis recomendações para ajustes da intervenção. Espera-se que isso possibilite a integração da avaliação na cultura institucional, de forma a promover respostas adaptativas oportunas às necessidades de gestão e de capacitação.