Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO2.4 - Contribuições à integração entre gestão, atenção e vigilância em saúde

47583 - QUANDO O MAPA FALA O QUE SÓ O ESPAÇO GEOGRÁFICO VÊ: MAPEAMENTO COLABORATIVO EM SANTA MARIA - MANAUS
ALEF LOPES DA SILVA - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA, ANE CAROLINE COUTINHO NUNES - FIOCRUZ AMAZÔNIA - INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE, AMANDIA BRAGA LIMA SOUSA - FIOCRUZ AMAZÔNIA - INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE, BEATRIZ REBELLO RUZZA DE CARVALHO - CENTRO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, DEBORA CLIVATI - FIOCRUZ AMAZÔNIA - INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE, FERNANDO HERKRATH - FIOCRUZ AMAZÔNIA - INSTITUTO LEÔNIDAS E MARIA DEANE, GABRIELLA FERREIRA NASCIMENTO VICENTE - CENTRO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, KÁTIA MARIA BRAGA EDMUNDO - CENTRO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE, LUCILA COSTA CAVALCANTE - ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA COMUNIDADE DE SANTA MARIA - MANAUS


Contextualização
A comunidade ribeirinha de Santa Maria pertence à zona rural de Manaus e, ao longo de sua história, foi palco de diversos projetos pela sua marcante característica: uma liderança comunitária organizada e atuante. Em 2022, a comunidade foi convidada a ser participante do projeto “Participação comunitária no processo de planejamento, organização e oferta dos serviços de saúde em localidades rurais ribeirinhas da Amazônia” conduzido pelo Instituto Leônidas e Maria Deane da Fiocruz Amazônia. Esta experiência se dedica a compartilhar uma das etapas do projeto.

Descrição
A fim de capturar esses elementos particulares, o projeto introduziu aos jovens da comunidade a metodologia do mapa falante digital, estratégia de identificação de informações do Espaço Geográfico (SANTOS, 1994, p. 121/122) que sejam caras à formulação de políticas públicas, e que promovam a percepção e reflexão, por parte dos participantes, da noção de pertencimento ao espaço ressignificado. Nesse caso, a valorização do espaço não é uma simples composição de ações que são vistas ou até mesmo tocadas, envolve também as emoções que permeiam nas vivências e nas experiências de cada sujeito. A equipe do CEDAPS, Centro de Promoção da Saúde, conduziu, então, 03 dias de oficina. O primeiro dia oportunizou a apresentação dos participantes e do mapa que foi construído anteriormente. Foram apontados os locais de socialização, plantação de alimentos, pesca, lazer, escola e estabelecimentos de venda de alimentos em geral. Posteriormente, foi apresentada a ferramenta Google My Maps, para onde os pontos previamente mapeados pelos jovens foram transferidos. No dia seguinte, a partir de atividade de campo, os jovens fotografaram os locais apontados no mapa digital, em trajeto de cerca de 2 km. Ao retornar ao ponto inicial, os jovens fizeram a inserção das imagens no mapa digital. No terceiro dia pela manhã, os pontos mais distantes foram visitados pela via fluvial, com o uso do aplicativo “Wikloc” que registrou o trajeto e os pontos, ainda não mapeados, completando a catalogação, seguida da atividade “mapa das emoções", iniciada com o áudio de um dos participantes narrando o que sentiu ao longo do mapeamento em campo e quais sentimentos nutre pela comunidade. Os participantes ouviram o áudio com os olhos fechados e puderam imergir no que estava sendo dito, a ponto de reconhecer os lugares pela audição e memória. Foram, então, convidados a compartilhar suas impressões sobre como foi participar dos 3 dias de atividade e o que puderam apreender de tudo o que havia sido discutido. Os participantes declararam que a atividade os permitiu acessar o espaço por outra perspectiva destacando elementos como o ar puro, a relação com o tempo “lento”, os lugares que trazem as “boas lembranças das brincadeiras” e o “não ter hora pra voltar” por conta da segurança e o fato de se sentirem pertencentes. A última atividade proposta foi a de completar o mapa com elementos como: o que sentem, o que tem em cada ponto mapeado, o que gostariam que tivesse. O grupo complementou coletivamente a partir do uso de seus celulares e os resultados foram expostos em tela. Quando compartilhadas as informações complementares, a pergunta final conduziu a reflexão: “o que tudo isso tem a ver com saúde?” A resposta do coletivo associou alguns pontos mapeados a práticas saudáveis.

Período de Realização
Dias 05, 06 e 07 de junho de 2023.


Objetivos
Construir, a partir da fala da comunidade, estratégias que qualifiquem o processo de construção de serviços de saúde por meio da abordagem “Impacto Coletivo”. (KANIA e KRAMER 2011).

Resultados
O uso da metodologia participativa do Mapa Falante proporcionou um novo olhar e reconhecimento do território, de modo a remodelar o conceito de saúde e identificar os desafios encontrados, a potência da construção de soluções a partir da identificação do que gostariam que aqueles lugares tivessem e a capacidade de tornar o mapa uma fonte de dados primários para a construção de planos de ação em resposta aos desafios e recursos existentes também por parte dos tomadores de decisão formuladores de políticas públicas. Além disso, pode evidenciar as questões de pertencimento e reconhecimento dos moradores através do uso das emoções.

Aprendizados
Na atividade de mapeamento, foi possível perceber o quanto o senso de comunidade é forte. Quando perguntados sobre os sonhos para o futuro da comunidade, foram pensados: restaurante comunitário, turismo de base comunitária, preservação do espaço onde vivem e até empreendedorismo a partir de roças comunitárias.

Análise Crítica
A experiência desafiou a forma de se conduzir pesquisa, fomentando respostas construídas ao longo do projeto para que sejam fruto de reflexão, responsabilização, identificação e resolução de problemas de forma sustentável. Nesta relação horizontal, são prezadas as vivências e a relação com os comunitários de igual pra igual, de modo que até o banho de rio com a "garotada" oportunize achados científicos, uma vez que alimentaram lembranças e afetos.