Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO3.2 - Para além dos muros na (trans)formação em saúde

46128 - POLITICAS AFIRMATIVAS EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA EM UM CURSO MÉDICO
ANA LÚCIA SOARES TOJAL - CESMAC, RAFAELA BRANDÃO ALMEIDA AMBRÓSIO - CESMAC, LÚCIO VASCONCELLOS VERÇOZA - CESMAC


Contextualização
O SUS busca a redução de iniquidades por meio de políticas estratégicas como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e a Política Nacional de Saúde Integral de LGBT+. As ações afirmativas em saúde partem da constatação de violações de direitos humanos e processos discriminatórios dentro dos serviços de saúde expressos por práticas racistas, homofóbicas e pelo despreparo de profissionais para lidar com a diversidade dos sujeitos. A formação dos profissionais de saúde não tem contemplado este debate de forma satisfatória e, em particular, a formação médica carece discutir a complexidade, a diversidade e as especificidades de segmentos populacionais marginalizados e invisibilizados. Observa-se o pouco conhecimento dos acadêmicos de medicina sobre os problemas de saúde enfrentados pelas chamadas “minorias”, agravado pela ausência de negros e indígenas nas universidades e pelo silenciamento dos preconceitos sofridos pela população lgbt+, negros e indígenas. Estes fatores influenciam no comportamento político de estudantes e profissionais de saúde, ora reproduzindo o preconceito, ora omitindo-se diante de situações de violação de direitos. Diante deste cenário, foi proposta à coordenação do curso de medicina do CESMAC inserir na matriz curricular do módulo de Integração Serviço, Ensino e Comunidade I (ISEC1), o estudo destas políticas, no intuito de promover mudanças no perfil dos futuros profissionais desde o início da formação médica.

Descrição
A Mostra de Políticas Afirmativas em Saúde é a culminância de um processo que se inicia com seminários e rodas de conversa sobre as políticas de atenção à saúde da população negra indígena e lgbt+ realizados em sala de aula na terceira unidade do módulo. Esses seminários suscitam o debate entre os acadêmicos, sendo requerida a realização de pesquisas sobre as questões que mais afetam a saúde destes segmentos populacionais. Divididos em grupos, os acadêmicos realizam os estudos orientados pelos professores da disciplina, onde cada grupo se dedica a uma temática específica da saúde da população negra, indígena ou lgbt+. A partir da pesquisa, os estudantes de medicina produzem um resumo científico sobre o estudo e fazem uma exposição em forma de banner para a comunidade acadêmica, em local de grande circulação que permita a visualização de estudantes e professores de outros cursos, sendo convidados profissionais com trajetória de pesquisa sobre esses temas para fazer uma avaliação formativa dos trabalhos. No período da pandemia de Covid19, pela impossibilidade de realizar presencialmente a exposição dos trabalhos de pesquisa, foram organizadas mostras virtuais e a comunidade acadêmica foi convidada a participar das apresentações dos trabalhos por meio da plataforma Teams.

Período de Realização
A realização do processo da Mostra de Políticas Afirmativas em Saúde teve início entre maio e junho de 2018 e vem sendo realizada semestralmente ao final da terceira unidade de cada período letivo, em junho e dezembro.

Objetivos
Promover o estudo sobre as questões que afetam a saúde da população negra, indígena e lgbt+, buscando-se a construção de uma competência ética, humana e política dos estudantes de medicina para atuar em conformidade com as políticas afirmativas em saúde.

Resultados
De 2018 a junho de 2023 foram produzidos 136 trabalhos de pesquisa, parte destes publicados em anais de congresso científico. Dentre os trabalhos apresentados foram 51 sobre a saúde da população negra, 51 sobre saúde da população indígena e 34 sobre saúde da população Lgbt+.

Aprendizados
A inserção das políticas de atenção à saúde da população negra, indígena e lgbt+ dentro da grade curricular e, consequentemente, a realização de trabalhos de pesquisa sobre as questões que afetam a saúde destes segmentos populacionais trouxe para o curso a oportunidade de um debate essencial para a desconstrução de preconceitos e uma reflexão crítica sobre o racismo, a homofobia e demais violações de direitos humanos praticadas dentro dos serviços de saúde e nas instituições de ensino. As pesquisas realizadas pelos acadêmicos de medicina revelaram as iniquidades que permeiam as práticas de saúde, os atravessamentos da formação que desconsidera os determinantes sociais e a interdisciplinaridade.

Análise Crítica
Observou-se a resistência inicial de alguns estudantes em problematizar situações de racismo e homofobia, sendo estimulado o diálogo, a expressão do contraditório, numa experiência singular de desconstrução de mitos e estereótipos, de emancipação dos sujeitos da intolerância e da rejeição ao diferente. Apesar desta ação contar com a participação e apoio de todo eixo de ISEC, que abrange oito períodos da formação médica, ainda é muito tímido o envolvimento de outros eixos do curso e também dos demais cursos da área da saúde, o que limita o avanço da construção de uma consciência coletiva sobre a importância das políticas afirmativas em saúde.