Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO3.2 - Para além dos muros na (trans)formação em saúde

46350 - NEGACIONISMO CIENTÍFICO EM FOCO: DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES EM EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE
MONICA MARXSEN DE AGUIAR ROCHA COUTINHO - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE IOC/FIOCRUZ, CAROLINA NASCIMENTO SPIEGEL - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF); PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE IOC/FIOCRUZ, ANA PAULA MASSADAR MOREL - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)


Apresentação/Introdução
A educação popular em saúde emergiu, no Brasil, como uma estratégia de construção da participação popular na saúde e na vida social da população, que considera os determinantes sociais da saúde envolvidos no processo saúde-doença. Assim, constitui-se como um desafio a ser trabalhado com futuros profissionais de saúde, pois preza pela construção compartilhada dos saberes, de forma a promover a participação ativa dos sujeitos. Uma problemática que surgiu durante a pandemia da COVID-19 foi o crescimento do negacionismo científico, impulsionado pela extrema-direita e fortalecido pelo distanciamento entre a população e a ciência. Diante de tal contexto, este trabalho é resultado de uma dissertação de mestrado que desenvolveu uma pesquisa participante, a partir da perspectiva da educação popular, com graduandos da área da saúde da Universidade Federal Fluminense (UFF), a fim de criar estratégias para enfrentamento do negacionismo. As ações foram articuladas com um projeto de extensão popular da UFF, que promove ações em educação popular em saúde no Morro da Providência. Essa articulação objetivou fortalecer pesquisas sobre o negacionismo científico, a partir do viés da educação popular em saúde, na formação inicial em saúde, e expor o papel fundamental da extensão em uma universidade, de forma a reforçar o tripé pesquisa-ensino-extensão.

Objetivos
Promover a discussão sobre o negacionismo científico e de como enfrentar esse fenômeno, na formação inicial de profissionais de saúde, dentro da perspectiva da educação popular em saúde, articulada com um projeto de extensão popular.

Metodologia
A pesquisa tem abordagem qualitativa, e os resultados foram analisados pela análise de conteúdo de Bardin, no contexto da educação popular. Assim, foram promovidas oficinas com estudos de caso e posterior elaboração de ações educativas pelos estudantes de uma disciplina de educação em saúde da UFF (semestres 2022.1 e 2022.2), no qual foram analisados os trabalhos sobre o negacionismo científico. Os estudos de caso foram desenvolvidos a partir de uma pesquisa participante realizada pela extensão com os moradores do Morro da Providência, na qual foi aplicado um questionário sobre a pandemia da Covid-19. A relação entre essas pesquisas ocorreu ao compartilharmos com os estudantes as concepções dos moradores e ao construirmos conhecimentos sobre as problemáticas que surgiram durante a pesquisa. Assim, essas problemáticas se expressam em situações relacionadas ao negacionismo, que inspiraram a criação de 4 estudos de caso.

Resultados e discussão
Durante as oficinas, a discussão sobre como lidar com o negacionismo foi extensa, e, apesar de inicialmente muitos declararem ser impossível promover o diálogo, foram destacadas ações pautadas na afetividade e no diálogo. Na turma de 2022.1 surgiram intervenções através do diálogo, inclusive entre os próprios moradores, sem impor argumentos de autoridade, além de questões acerca da distância da ciência com a população, que fortifica o negacionismo. Já na turma de 2022.2 surgiram outras questões, como relatos de automedicação realizada pelos educandos e estimulada por parentes, relatos de intervenção com situações negacionistas com parentes e amigos, além de propostas de soluções mais verticais (apresentação de artigos ou diálogo com profissionais de saúde). Além disso, na produção dos projetos em saúde, foram percebidos discursos em consonância com a educação popular, e outros mais frequentes que se confundiam com ações voltadas para a educação sanitária.

Conclusões/Considerações finais
Concluiu-se que as atividades abriram caminho para uma construção dialógica do conhecimento, porém os estudantes apresentaram dificuldades na promoção do diálogo diante do fenômeno do negacionismo, sendo essa discussão, de fato, muito desafiadora. Os educandos foram estimulados a pensar em propostas educativas, voltadas para as classes populares e não em um contexto abstrato que desconsidera as condições de vida da população. As ações possibilitaram os discentes a refletirem sobre a sua prática e viabilizaram espaços de discussão, trazendo algumas respostas e deixando diversos questionamentos que poderão abrir novos caminhos. Uma característica importante das atividades foi a de aproximar os educandos das realidades sociais, através dos estudos de caso, que reproduzem situações vivenciadas durante a pesquisa participante da extensão, de forma a reforçar o tripé pesquisa-ensino-extensão. Assim, ressalta-se a importância do desenvolvimento dessas ações na formação inicial dos profissionais de saúde, de forma transversal no currículo, para preencher as lacunas geradas pelo cenário higienista da saúde, muito presente ainda nos cursos de graduação e que se estendem à prática profissional.