02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO3.2 - Para além dos muros na (trans)formação em saúde |
47120 - DÁ SALA DE AULA À REALIDADE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AS IMERSÕES DIDÁTICAS NA FORMAÇÃO DE SANITARISTAS LUIS ROBERTO DA SILVA - USP, LAIS EDUARDA SILVA DE ARRUDA - FIOCRUZ-PE, JONATHAN WILLAMS DO NASCIMENTO - UPE, MARIA GRAZIELE GONÇALVES SILVA - FIOCRUZ-PE, ALEXSANDRO DE MELO LAURINDO - ISC-UFBA, ANA LÚCIA ANDRADE DA SILVA - UFPE
Contextualização No Curso de Graduação em Saúde Coletiva (CGSC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) são realizadas semestralmente aulas de campo que proporcionam aos estudantes experenciarem diferentes cenários e realidades do povo brasileiro in loco, ou seja, através da imersão em diferentes contextos sociais. As disciplinas são ofertadas no formato de eletiva e possuem uma carga horária de 45 horas cada, sendo um total de quatro disciplinas: I) Saúde Coletiva e Realidade do Semiárido (SAUD0053), II) Saúde Coletiva e Movimentos Sociais (SAUD0050), III) Saúde Coletiva e Quilombolas (SAUD0051) e IV) Saúde Coletiva e Etnias Indígenas (SAUD0054).
Descrição As disciplinas foram concebidas e desenvolvidas de maneira a permitir a abordagem de problemáticas sociais, através da imersão na realidade local, vivenciando-se sobre a história, os contextos políticos sociais e de saúde de grupos populacionais específicos. Antes da viagem e estadia nos territórios, são ministradas aulas teóricas onde são apresentados e discutidos conteúdos sobre o território e a população a serem visitados, contruindo uma aproximação e reflexão de informações estratégicas a serem aprofundadas durante a imersão. O processo de imersão com duração de três dias seguidos, é definido no início do semestre e todas as disciplinas acontecem simultaneamente, o Bacharelado se organiza para não ter outras disciplinas e/ ou atividades que possam chocar com o período em que ocorrem as excursões. As disciplinas são ofertadas entre o 1º e 4º período do curso, na seguinte ordem e território: 1º período - Saúde Coletiva e Realidade do Semiárido (SAUD0053) - comunidade que desenvolve da agroecologia na zona rural; 2º período - Saúde Coletiva e Movimentos Sociais (SAUD0050) - um assentamento do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); 3º período - Saúde Coletiva e Quilombolas (SAUD0051) - comunidade remanescente de Quilombo; e 4º período - Saúde Coletiva e Etnias Indígenas (SAUD0054) - Território Indígena. A imersão proporciona vivência e convivência discutindo-se de maneira articulada os conteúdos teóricos e a prática no local, possibilitando uma construção crítica e um olhar aprofundado das realidades visitadas. Oportunizando o sentir/conhecer do território, a compreensão histórica dos dilemas e desafios atuais e as dinâmicas dos grupos visitados, além da reflexão sobre as condições de morbimortalidade e práticas de saúde e sua relação com o Sistema Único de Saúde (SUS).
Período de Realização As disciplinas foram cursadas entre os anos de 2018 e 2019, sendo realizada uma aula de campo por semestre e na ordem exposta anteriormente.
Objetivos Relatar a experiência do desenvolvimento das disciplinas em formato excursão didática do Bacharelado em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Pernambuco do Campi da Vitória de Santo Antão, a partir da vivência de graduandos da graduação em Saúde Coletiva.
Resultados Essa vivência intensiva em diferentes contextos propiciou aos estudantes uma reflexão crítica sobre as realidades de grupos e territórios específicos, às suas necessidades de saúde, implicando os futuros profissionais de saúde enquanto o seu papel social e a necessidade do olhar diferenciado para essas comunidades, contribuindo para um pensamento ainda mais crítico acerca da construção e aplicação do direito à saúde e outras políticas públicas. Cabe destacar que cada vivência foi singular e, a oportunidade de cursar as quatro disciplinas, permitiu aos estudantes a aproximação de distintas realidades desde os processos sociais de saúde-doença, até as especialidades sociais, políticas e culturais local da população que vive naqueles territórios visitados. As disciplinas apresentam grande potencial de aprendizagem e formação contribuindo para a consolidação das habilidades e competências necessárias ao profissional sanitarista, na perspectiva de uma formação generalista e humanística que perpassa por diversos campos de aprendizagem.
Aprendizados Dessa forma, proporcionar que os estudantes tenham a oportunidade de experienciar diferentes realidades do povo é um grande potencial no processo de formação desses futuros profissionais de saúde, permitindo-os entender a importância do SUS desde a sua criação, aplicação e caminhos que percorre para chegar a cada comunidade e o território, garantindo a efetivação de seus princípios de universalidade, equidade e integralidade.
Análise Crítica Por fim, embora as disciplinas possuam espaços de vivências diversos, todas têm o intuito de proporcionar a reflexão crítica acerca dos determinantes e condicionantes de saúde da população e problemáticas sociossanitárias nos diferentes espaços. Dessa forma, o território vivo se torna uma sala de aula diferente e diversos conhecimentos são construídos coletivamente, saindo os muros da universidade e indo para o contexto real, de modo a proporcionar a formação de sanitaristas aptos a refletir sobre questões sociais e propor intervenções adequadas às necessidades de saúde de cada população.
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