02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO3.3 - Formação crítica, sensível: o olhar para a Saúde Mental e a Promoção da Saúde |
48100 - GRUPO DE ESTUDO FEMINISTA: AUTOCONHECIMENTO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE MARIA REGINA BORTOLINI DE CASTRO - UNIFASE/FMP, GABRIELLE PINHEIRO GOMES - UNIFASE/FMP
Contextualização O Laboratório de Estudos em Representações Sociais e Saúde - LERS e o Coletivo Feminista – COFEM, do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina, em Petrópolis, Rio de Janeiro vem desenvolvendo parceria no desenvolvimento de um grupo de estudos. O LERS é um grupo de pesquisa interdisciplinar no campo das Representações Sociais e Saúde, sobre temas relativos às transformações culturais e os processos psicossociais envolvidos na construção de representações no âmbito da saúde, especialmente na dimensão simbólica da constituição das subjetividades e identidades de gênero. O COFEM reúne estudantes de diferentes cursos com a finalidade de promover a reflexão e o ativismo em torno das questões de gênero.
Descrição Nessa parceria, são realizados encontros virtuais quinzenais, de 2 a 3 horas cada, para estudo e discussão sobre obras de interesse. O grupo variou quanto a quantidade e origem dos participantes ao longo do tempo, contanto com cerca de 20 estudantes regulares, majoritariamente do sexo feminino e da área da saúde (medicina, psicologia, enfermagem). As interpretações das leituras e reflexões decorrentes do debate são registradas em “diários reflexivos” onde os estudantes expressam seus afetamentos a partir de textos ou manifestações artísticas.
Período de Realização De 2020, até os dias atuais.
Objetivos Nosso objetivo é construir espaços de estudo e diálogo sobre as questões de gênero, articulando a leitura acadêmica e as vivências coletivas.
Resultados Entre 2020/2021, o estudo da contribuição da obra "O segundo sexo", de Simone de Beauvoir para compreender a construção social do feminino. A análise do primeiro livro levou ao reconhecimento de como o masculino se coloca como o absoluto universal humano, e o feminino como o inessencial – o outro. E como essa concepção se legitima a partir de argumentos biologicistas, históricos e psicanalíticos. Esse debate exigiu do grupo um aprofundamento da compreensão de conceitos e contribuições das ciências humanas e sociais, do existencialismo e muitas reflexões filosóficas. A análise do segundo livro, seja porque o grupo já construía alguma intimidade, seja porque o conteúdo da obra materializa a discussão da condição da mulher em personagens e suas vivencias, a discussão levou a uma abordagem mais pessoalizada, sensível, onde os relatos pessoais se entrelaçavam com as reflexões impostas pela obra.
Em 2022/2023, o grupo está se dedicando ao estudo da obra “Tristes, loucas e más”, de Lisa Appignanesi com a mesma regularidade de encontros e tipos de produções de relicários artísticos. Num contexto de grandes transformações sociais, onde mulheres enfrentam dificuldades para se adequar a exigências conflitantes, com Ligia Appignase estamos mergulhando nos processos da marginalização e estigmatização que levou essas mulheres a serem confinadas, apartadas da sociedade como “loucas”, uma categoria de acusação com alto poder de contaminação, legitimada por visões de mundo e valores morais. Tem sido possível analisar o papel da ciência médica, em especial a Psiquiatria e a construção de um discurso médico-legal e todo um aparato institucional, em respaldar possibilidades de coerção, até mesmo policial de mulheres com “problemas de saúde mental”. Depressão, melancolia, histeria, esquizofrenia e outras condições psíquicas são analisadas, a relação entre sexualidade e saúde, médico e paciente, a clínica e a sociedade, numa perspectiva histórica. Mais uma vez, nos encontros emergem relatos pessoais e as discussões ultrapassam a fronteira do conhecimento acadêmico e expõem o potencial psicossexual, de cada uma de nós e de todas como um coletivo, é regulado pelas convenções e mesmo pelas ciências em saúde.
Aprendizados Ao longo do projeto, é possível observar o amadurecimento individual e coletivo na reflexão sobre a construção social do feminino, não apenas no âmbito acadêmico, mas especialmente, como uma trilha de autoconhecimento. As participantes não só debatem sobre as obras como questionam e refletem sobre suas biografias pessoais, além de debater a falta de diversidade nas representações (na obra de Beauvoir e de Appignanesi) de outras tantas mulheres e suas existências, as negras, as lésbicas, as trans, que igualmente as inspiram. Muitas vezes, nesses diálogos (trans)formativos, a objetividade do debate acadêmico deu lugar ao lirismo da poesia, e mesmo imagens substituíram o discurso verbal. O uso de diferentes linguagens permitiu que cada estudante se expressasse de modo próprio, entrelaçando subjetividades e tocando em diversas dimensões das situações discutidas.
Análise Crítica A experiência se mostrou um espaço excepcional de articulação pesquisa-extensão-ensino para as participantes explorarem suas concepções acerca da saúde coletiva, ao considerar a dimensão social do processo saúde-doença, numa perspectiva crítica mas ao mesmo tempo sensível e afetivamente humana, contribuindo para uma formação em saúde comprometida com novo modelo de cuidado em saúde, que seja capaz de acolher os sujeitos na sua diversidade.
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