46991 - O CACTO ENQUANTO TECNOLOGIA SOCIAL PARA O CUIDADO DE MÃES DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA PAULO ROBERTO LIMA FALCÃO DO VALE - UFRB, JESSICA SANTOS PASSOS COSTA - UEFS, KATIA SANTANA FREITAS - UEFS, MARIA RIBEIRO LACERDA - UFPR, ROSELY CABRAL DE CARVALHO - UEFS, EVANILDA SOUZA DE SANTANA CARVALHO - UEFS
Contextualização Desde os primeiros casos de crianças com microcefalia associada ao vírus Zika são escassas as iniciativas de cuidado as mães. O CACTO é um programa de cuidado unitário às mães de crianças com Síndrome Congênita do vírus Zika (SCZ) que pode ser ampliado para promover a restauração das mães de crianças com deficiência. O programa foi desenvolvido durante tese de doutoramento em saúde coletiva elaborada pelo primeiro autor, pode ser utilizado pelas mães e por qualquer cuidador profissional, e reúne aspectos centrais que caracteriza-o enquanto tecnologia social.
Descrição Para desenvolvimento do CACTO foram cumpridos seis momentos: teórico, compreensivo, criativo, modalidades de cuidado, caritas-veritas, e diagramação. Em seguida o CACTO foi colocado para sugestões e críticas de experts na teoria que fundamentou-o, cuidadores profissionais e mães de crianças com SCZ. Entende-se tecnologia em saúde como um meio ou instrumento, elaborado a partir do conhecimento científico, que incide sobre as necessidades (objeto) de um povo, objetivando a melhoria, equilíbrio ou restauração do seu processo saúde-doença. O conceito de tecnologia social considera-a enquanto um tecido sem costuras, que integra elementos sociais, políticos, econômicos e técnicos, valoriza conhecimentos oprimidos e rompe com o determinismo e neutralidade tecnológica. A abordagem sociotécnica, a partir de aspectos do construtivismo social, é a mais frequente contribuição teórica encontrada nas tecnologias sociais.
Período de Realização Abril de 2018 a Março de 2022.
Objetivos Relatar a experiência de desenvolvimento do CACTO: Programa de Cuidado Unitário às mães de crianças com SCZ enquanto tecnologia social.
Resultados O CACTO foi desenvolvido após provocação das mães de crianças com SCZ que estavam cansadas de participar de pesquisas científicas observacionais que não apresentavam resultados diretos e imediatos para elas. O desenvolvimento do programa estruturou-se na Ciência do Cuidado Unitário, ao considerar que todos os seres se relacionam a partir de uma energia cósmica universal. Definido a abordagem teórica, o momento compreensivo destinou a compreender as crenças, valores, princípios, saberes, conhecimentos e cultura das mães. Os momentos seguintes foi destinado a elaboração de cuidados científicos e tradicionais integrados, resultando nas modalidades de cuidado “Cuidando da minha mente”, “Posição ereta e correta”, “Cuidando do meu sono”, “Família que chega junto”, “Mãe que cuida de mãe”, “Espelho espelho meu” e “Enfrentando preconceitos”. Após construído, o CACTO foi validado por 12 cuidadores profissionais e 13 mães de crianças com SCZ integrantes de associações, que emitiram sugestões e opiniões para melhor representatividade do programa. O CACTO não é um protocolo, seu processo de implementação inclui a participação ativa das mães na gerência e condução das modalidades de cuidado, alinhando-se com o conceito de tecnologia social.
Aprendizados É possível desenvolver tecnologias sociais em saúde integrando conhecimentos científicos e saberes tradicionais a partir do envolvimento contínuo do público-protagonista, superando perspectivas opressoras e assegurando caminhos para emancipação. Os coletivos de pessoas em situação de vulnerabilidade são importantes laboratórios para desenvolvimento de tecnologias sociais.
Análise Crítica A dimensão da solidariedade inerente a tecnologia social é um aspecto singular que lhe atribui melhor eficiência ao compará-la com as tecnologias convencionais, por envolver aspectos políticos, sociais e culturais daquele povo. Apesar do potencial das TS são escassas as políticas públicas que financiam o seu desenvolvimento e incentivam sua institucionalização, as universidades se mantêm afastadas dos movimentos sociais e as dificuldades de construção de parcerias entre grupos sociais são constantes. Apesar dos avanços nas políticas públicas como a criação da Política de Avaliação de Tecnologias em Saúde e a criação da Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde, entende-se que o processo de incorporação de tecnologias no SUS não está alinhado com as prioridades da política de saúde, há pouca participação de usuários, trabalhadores e gestores nos espaços de decisão. Em contrapartida, se convive com fortes influências de setores industriais e empresarias para a incorporação de tecnologias de alto custo, em detrimento daquelas direcionadas à prevenção de adoecimentos.
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