47329 - CARTOGRAFIAS NA CIDADE DO MANGUE: ESTRATÉGIAS PARA UMA CLÍNICA COM CORPOS MARGINALIZADOS PELO USO DE DROGAS ANA RACKEL DE PAULA QUINTAS - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE, PATRÍCIA OLIVEIRA LIRA - UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE
Apresentação/Introdução Este trabalho se compõe como uma pesquisa-intervenção junto a pessoas usuárias de álcool e outras drogas acompanhadas pelo Programa ATITUDE, na Região Metropolitana do Recife, considerando o caráter higienista e manicomial que opera as relações entre essas pessoas e o território onde vivem. Diante disso, busca criar interferências no sentido de compor outras vias de ocupação da cidade que produzam, micropoliticamente, novos modos de subjetivação e outras relações com o território. Tem como principais referências teórico-conceituais a filosofia da diferença, notadamente a obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari, bem como a geografia de Milton Santos e Josué de Castro, além dos princípios ético-políticos da Redução de Danos. Inspira-se no Movimento Manguebeat como apelo estético de afirmação da potência instituinte de corpos marginalizados, demarcando a força criativa das multiplicidades que habitam o contexto urbano, propondo a subversão da lógica de higienização desses corpos. Alia-se, ainda, à Jardinagem de Guerrilha enquanto movimento político de intervenção urbana, com o intento de produzir ações sensíveis e autorais de ocupação do território.
Objetivos Geral - Compor novas sensibilidades na relação das pessoas usuárias do programa Atitude com o território onde vivem a partir do apelo ético-estético-político. Específicos – Problematizar coletivamente os modos de vida marginalizados pelo uso abusivo de drogas através da biografia e da obra de Chico Science; Propor encontros comunitários a partir da inspiração do movimento Jardinagem de Guerrilha; Tecer coletivamente as narrativas das experiências urbano-comunitárias; Criar novos mapas, a partir da análise micropolítica dos novos modos de ocupação do território.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa aliada ao método da cartografia proposto por Deleuze e Guattari, enquanto princípio rizomático do pensamento. Diante disso, este trabalho busca traçar provocações, a partir da questão-problema, no sentido de subverter os modos de visibilidade aos quais os corpos das pessoas vulnerabilizadas pelo uso de drogas são submetidos. Buscamos, assim, agenciar novas sensibilidades para ocupação da cidade, provocando outros olhares e outras vivências mais intensivas e mais potentes; outras territorialidades. A partir de vivências coletivas com um grupo da Casa Intensivo que se reúne aos sábados com a pesquisadora-cartógrafa, compomos juntos oficinas de aproximação a partir dos disparadores sensíveis, quais sejam, vida e obra de Chico Science e o movimento suscitado pela Jardinagem de Guerrilha. Como se trata de participantes que podem apresentar risco de morte por dívidas com o tráfico, contamos com a avaliação técnica, junto à equipe, para garantir que a participação na pesquisa não exponha os mesmos ao risco e somente participam aqueles que não apresentam risco no território. A partir desses disparadores e dos processos em curso tecemos proposições para compor oficinas realizadas fora dos muros institucionais. Dentre estas proposições a pesquisa pretende produzir uma narrativa audiovisual documentando as interferências micropolíticas do trabalho, de modo a mapear as novas experiências de territorialização produzidas a partir do apelo estético.
Resultados e discussão A pesquisa tem como aliada a produção de diário de bordo como forma de registro sensível dos processos que irão compor a experiência. Através do diário são mapeados os fluxos, localizando os agenciamentos que potencializam as relações dos participantes com o território de forma diferente das estabelecidas. Neste momento, em consonância com a proposta da cartografia, estão sendo mapeadas vivências relacionadas à relação com diversos aspectos como: a cidade, o mangue, o plantio, a ocupação da cidade, a música, a opressão, o estigma, a criminalização e a marginalização, as forças que operam para o reforço da criminalidade e da exclusão. A partir do processo coletivo ao longo das oficinas, visamos perscrutar as potências de criação de novas experiências territoriais, na medida em que o apelo sensível suscita outros olhares e outras formas de ocupar o entorno, subvertendo a lógica do estigma que captura e bloqueia os fluxos para composição de um laço social capaz de produzir uma saúde coletiva.
Conclusões/Considerações finais Esta pesquisa traz como possibilidade compor vivências para além daquelas institucionalizadas: realizar as intervenções no território provoca outras relações com a cidade, com a comunidade ao redor e com o meio ambiente, reforçando a inclusão e autonomia dos participantes na construção comunitária. Também possibilita um diálogo com o entorno pela via estética, promovendo ruptura dos estigmas e criando outros roteiros de relação com o território - e com eles mesmos, desarticulando a via única de experiências de vulnerabilidade naqueles locais, construindo novas cartografias pessoais e coletivas.
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