Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO4.2 - Tecnologias sociais e a inclusão no Sistema Único de Saúde

47596 - PRODUÇÕES, INVENÇÕES E DESAFIOS NO CUIDADO ÀS VIDAS VULNERABILIZADAS E INVISIBILIZADAS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 NO ESTADO DE SÃO PAULO
GREICE HERÉDIA DOS SANTOS-MOURA - UNIFESP, VALÉRIA MONTEIRO MENDES - UNIFESP, DEBORAH NIMTZOVITCH CUALHETE - UNIFESP, LUMENA ALMEIDA CASTRO FURTADO - UNIFESP, LETICIA BUCIOLI OLIVEIRA - UNIFESP, ADEMAR ARTHUR CHIORO DOS REIS - UNIFESP, CARLOS ROBERTO DE CASTRO-SILVA - UNIFESP


Apresentação/Introdução
A emergência da COVID-19 impôs aos gestores do SUS distintos desafios. Neste sentido, analisar as experiências nas regiões de saúde é fundamental, dada as diferenças sanitárias, econômicas, sociais, demográficas e de acesso aos serviços de saúde, em particular no Estado de São Paulo, cujos indicadores foram significativos. Investigou-se os enfrentamentos nos âmbitos das produções, invenções e desafios da gestão do cuidado em rede segundo os eixos gestão, vigilância, assistência e vulnerabilidades.

Objetivos
Analisar e discutir o cuidado para populações vulnerabilizadas de municípios de uma Região de Saúde da região metropolitana (RSRM) e de uma Região de Saúde do Interior (RSI)

Metodologia
Investigação qualitativa, tipo estudo de casos múltiplos, desenvolvida por pesquisadores de universidades, Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP) e Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems-SP). A primeira fase, de caráter exploratório, contou com questionário semiestruturado para gestores locais e regionais das Secretarias Municipais de Saúde (SMS) e Departamentos Regionais de Saúde (DRS), para compreender como as 63 regiões de saúde do estado produziram cuidado em rede. Na segunda fase, voltada às análises das produções, invenções e desafios em municípios de porte grande (MGP), médio (MMP) e pequeno (MPP) de duas regiões de saúde, foram selecionadas a RSMR e RSI, considerando a relevância, originalidade, resultados preliminares e análise documental e avaliação dos Planos de Contingência das referidas regiões. Na terceira fase, os resultados embasaram a proposição de medidas gerais para gestores, visando o aperfeiçoamento do sistema de saúde e capacidade de resposta a futuras emergências sanitárias. Estudo financiado pela Fapesp/PPSUS.

Resultados e discussão
As análises das entrevistas em profundidade mostraram que persistem invisibilidades e uma perspectiva homogeneizadora e pouco adensada sobre “ser/estar vulnerável”. Sem desconsiderar os atravessamentos do período na saúde (ausência de coordenação federal e disputas/limitações/interesses locais), evidenciou-se a prioridade para a Atenção Hospitalar em detrimento do fortalecimento da Atenção Básica e da Vigilância em Saúde, bem como de conexões entre saúde, Assistência Social, Educação e movimentos sociais dos territórios. Na RSRM, ressalta-se: a) Em MGP: assistência em presídios; escolas transformadas em albergues para acolhimento de populações vulneráveis; nenhuma menção de ações para outras populações vulnerabilizadas; b) Em MMP: menção à atuação entre Consultório de Rua e Assistência Social após paralisação da Atenção Básica; atenção em albergues pela Assistência Social, com monitoramento pela saúde de casos de COVID-19, possibilitando identificação de outras necessidades. Na RSI, destaca-se: a) Em MGP: busca ativa entre Atenção Básica e Assistência Social, possibilitando contato com territórios inacessíveis; ações entre Educação e Assistência Social com distribuição de marmitas e cestas básicas (doações igrejas, ONGs e população); abordagem/encaminhamentos semanais de potenciais casos de pessoas em situação de rua; ação semanal em favela de extrema vulnerabilidade; ação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) em assentamento do MST; ação em presídios; criação do Programa Bolsa Cidadania; criação do edital Apoiadores da COVID-19 para contratação de pessoas em vulnerabilidades; articulação entre Saúde e Serviço Social para garantir hotel com visita médica e alimentação à população em situação de rua com COVID-19; produção de rede de solidariedade coordenada pela secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social em parceria com o fundo social da solidariedade, coordenadoria de participação popular e setores locais; criação de canal telefônico gratuito para contato pela população; ação entre Vigilância em Saúde, Promoção Social e vacinação para arrecadação de alimentos, com atuação da saúde na identificação/encaminhamentos para a Promoção Social; menção de ações da Atenção Básica, Consultório de Rua, Vigilância em Saúde e rede de solidariedade “mantidas após a pandemia”. b) Em município MMP: arrecadação de alimentos durante a vacinação; c) Em MPP: potencialização de ações entre Saúde e Assistência Social (oferta de cestas básicas); menção da internação da população em situação de rua infectada como prioridade regional do GT-COVID.

Conclusões/Considerações finais
Evidencia-se a necessidade de problematizações com/entre as regiões de saúde para adensamentos intersetoriais entre Saúde, Assistência Social, Educação e movimentos sociais/coletivos que favoreçam arranjos baseados nas necessidades e singularidades das vidas vulnerabilizadas, considerando que as iniciativas identificadas pouco apontam para movimentos diferentes da lógica tradicional de pensar-agir em saúde. Reconhecer e construir conexões com as invenções, cuidados e potencialidades coletivas de territórios invisibilizados-vulnerabilizados é urgente não apenas no campo da saúde.