46640 - A ESTRATÉGIA DO TRATAMENTO SUPERVISIONADO PARA PESSOAS QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL EM UMA DAS MAIORES FAVELAS DO BRASIL JULIANA CARRIJO JORGE - SMS-RJ, EMANOELLA TAVARES GODOIS - SMS-RJ, THAMIRES SIMÃO MARQUES - SMS-RJ, KARINE GOMES PENEDO DE AZEVEDO - SMS-RJ, FLAVIANA PAULA MACIEL - SMS-RJ, REBECA CRISTINA COUTINHO HENRIQUE DAMASCENO - SMS-RJ, CRISTIANE GONZAGA CAMILO COSTA - SMS-RJ, BRUNO CESAR SOUZA BRANCO - SMS-RJ, VINICIUS ANTONIO ALVES PEREIRA - SMS-RJ, THAYS CONTI DE SOUZA OLIVEIRA - SMS-RJ, DANIEL COSTA PORTO - SMS-RJ, ANA PAULA DE OLIVEIRA INÔ - SMS-RJ, VANESSA DE LIMA SEABRA - SMS-RJ
Contextualização A vulnerabilidade remete a precariedade de acesso a serviços públicos, a renda, fragilidade dos vínculos afetivos relacionais, considerando fatores que transcendem ao biológico. Logo, a condução do cuidado, precisa ser construída desprendendo-se do engessamento da assistência, considerando as adversidades sociais da comunidade assistida. A percepção de família como um complexo sistema de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas ligadas diretamente às transformações da sociedade, tende a buscar a melhor adaptação possível para sua sobrevivência. Atualmente, entendemos que o ponto principal está em construir “pontes” que aproximem os problemas de suas soluções. Essas pontes se fazem em um percurso que vai da observação da realidade até o desenvolvimento da capacidade de produzir soluções. A tecnologia social visa a diversidade de abordagens, o que enriquece o debate e alimenta de ideias e experiências os seus múltiplos atores. Neste contexto, o papel da vigilância em saúde se faz fundamental, pois através de uma análise crítica elaboramos estratégias visando o planejamento e a implementação de medidas que promovam a proteção e promoção da saúde da população. O papel do enfermeiro na estratégia de saúde da família vislumbra um cuidado continuado, longitudinal e coordenado nesse processo, desenvolvendo ações que permeiam para além dos processos de saúde doença.
Descrição Criança, 2 anos de idade, moradora de uma comunidade no Rio de Janeiro, comparece à unidade de saúde acompanhando a mãe, 46 anos, vivendo com transtorno esquizofrênico paranoide, que recebe auxílio financeiro governamental, com menos de 5 anos de escolaridade e rede familiar fragilizada. Durante a consulta da genitora, a criança manipula lixo infectante, sofrendo acidente biológico, contato da mucosa oral com dispositivo contaminado de uma usuária vivendo com HIV, sem tratamento adequado. Após o ocorrido, profissionais da equipe realizaram o acolhimento e informação para a família sobre o tratamento de Profilaxia Pós Exposição ao HIV - PEP infantil. Observando o contexto social em que a família está inserida, analisa-se a fragilidade da mesma em realizar o tratamento adequado. Visto isso, a equipe de saúde problematizando as diversas possibilidades, concluiu que o tratamento através de doses supervisionadas garantiria um desfecho favorável. Outras “pontes” que conduziram para alcançar o resultado foi a articulação entre as redes dos serviços de saúde do Rio de Janeiro, cada instância com a sua responsabilidade sanitária apoiou nas tomadas de decisões, a exemplificar: Nível Central, Centro de Apoio Psicossocial (CAPS III) e Unidade de Saúde da Família. As doses eram administradas no domicílio da criança duas vezes ao dia, ficando sob a responsabilidade de segunda a sexta feira a clínica da família, e aos finais de semana e feriados ao CAPS III. Os profissionais se mobilizaram em garantir o tratamento ao longo dos 28 dias, conforme prescrição do PEP, e desenvolveram estratégias facilitadoras neste processo, como por exemplo o armazenamento das medicações em saco vedado com lacre para evitar uso indevido pela responsável, grupo no WhatsApp com os profissionais envolvidos para facilitar a comunicação; cartão espelho para checagem e acompanhamento das doses administradas. Ao longo desse processo, foi possível um melhor reconhecimento do contexto e das condições socioeconômicas desta família, a princípio com higiene do lar precária; acúmulo de móveis e roupas e cuidado inadequado da criança. Contudo, durante o acompanhamento observamos melhorias significativas nos problemas identificados; a genitora demonstrou melhor adesão ao próprio tratamento da esquizofrenia, conseguindo se organizar nos processos da vida diária e nos cuidados com a filha.
Período de Realização As ações deste relato de experiência ocorreram no período de 28 dias no mês de dezembro de 2022. Contudo, o acompanhamento permanece até os dias atuais, visto a um dos princípios da APS, longitudinalidade.
Objetivos Apresentar as estratégias elaboradas e desenvolvidas pela rede de atenção à saúde no cuidado com a pessoa que vive em situação de vulnerabilidade social.
Resultados Como resultado, este relato de experiência, apresenta êxito na conclusão do tratamento, com garantia de todas as doses administradas e da realização dos testes rápidos de acompanhamento, além da construção sólida do vínculo com a família.
Aprendizados Entendimento dos dispositivos intersetoriais como resposta a um problema social, rompendo-se barreiras engessadas do cuidado, gerando conhecimentos transformadores e de fácil aplicabilidade pela própria família e comunidade.
Análise Crítica Foi perpassada a limitação das vulnerabilidades e a fragilidade social para a construção de vínculo e cuidado integral à saúde, fazendo com que a família identificasse a necessidade de responsabilização pelo auto cuidado e organização das atividades de vida diária.
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