Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO4.3 - Produção do cuidado e saberes compartilhados

47088 - TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE COMO FORMA DE ENFRENTAR VULNERABILIDADES E PROMOVER CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
MARINA SANTOS DE ANDRADE - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL., WELLINGTON MONTEIRO FERREIRA - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL., THAYSA GABRIELLE SILVA OLIVEIRA - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL., PAULA CHRISTINA TORRES CARVALHO - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL., MARIA CRISTINA DA SILVA RIBEIRO - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL., JOHNNY MIGUEL DA SILVA - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL., MAYARA SUELIRTA DA COSTA - PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM ATENÇÃO BÁSICA, ESCOLA DE GOVERNO FIOCRUZ - BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL.


Apresentação/Introdução
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro foi construído por meio de muita luta da sociedade em um período de repressão política, migração populacional para as periferias urbanas e aumento da desigualdade social. Fundamentado num projeto territorial descentralizado, hierarquizado e integrado através das Redes de Atenção à Saúde (RAS), o SUS tem na Atenção Primária à Saúde (APS) a base presente em todo o território nacional, que funciona como porta de entrada do usuário e centro de comunicação da RAS. Nesse sentido, o processo de territorialização em saúde é de suma importância para a APS, pois possibilita o diagnóstico cuidadoso e preciso do território com um olhar ampliado, indo além do modelo biomédico, abordando aspectos biopsicossociais e possibilitando o planejamento das ações em saúde, especialmente para os mais vulneráveis, sendo também um instrumento para obtenção e análise de informações, usado para entender e trabalhar os contextos do território.

Objetivos
Refletir acerca das vulnerabilidades sociais vivenciadas pelo território a partir do processo de territorialização em saúde.

Metodologia
Estudo com abordagem qualitativa de natureza exploratória descritiva, caracterizado como um diagnóstico de territorialização em saúde. A população do estudo foi o território de abrangência da UBS nº 17, localizada na Região Administrativa de Ceilândia, que é caracterizada por ser uma das maiores áreas de periferia do Distrito Federal, e com uma população de quase meio milhão de pessoas. A área adstrita abrange também a região do Pôr do Sol, que o IBGE, em 2022 considerou ser a maior favela do Brasil. Este trabalho faz parte do componente teórico da Residência Multiprofissional em Atenção Básica da Escola de Governo da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), realizado entre março e maio de 2023, em um contexto pós pandemia, com mudanças no Governo Federal e a reeleição do Governador do Distrito Federal. Foi realizado por seis residentes da equipe multiprofissional, com formação em Enfermagem, Serviço Social, Educação Física, Farmácia e Fisioterapia. Os elementos estudados no território foram: descrição geral da área e população adscrita; história; cartografia, área e limites; dados demográficos, sociais, ambientais, políticos, econômicos, sanitários e epidemiológicos; aparelhos sociais; caracterização da UBS; rede de serviços; riscos e vulnerabilidades percebidos na comunidade; situação da COVID-19 e análise do processo realizado, com suas impressões, limites e fragilidades.

Resultados e discussão
Este trabalho permitiu ter uma percepção ampliada do território, indo além do conceito de área delimitada a ser atendida, para um conceito que abrange os contextos essenciais do ser humano. Foi possível observar e refletir sobre fatores expressivos, tais como: necessidades, vulnerabilidades, riscos e potencialidades do território adstrito. A principal vulnerabilidade percebida foi a falta de acesso a renda, que gera diversas outras vulnerabilidades, refletindo também na locomoção dos usuários para a UBS, assim como no acesso ao alimento, gerando situações de insegurança alimentar. Identificamos que em relação a distância, o serviço de saúde pode estar trabalhando em ações focalizadas no território, como pontos de apoio nas regiões mais distantes ou vulneráveis, além de ações intersetoriais, acionando parcerias dos serviços formais da rede (CRAS, CAPS, SEMOB) junto aos serviços não formais (escolas, igrejas, centros comunitários, ONGs), para assim também trabalhar o acesso à renda no território e em ações sobre a insegurança alimentar. Identificamos também relação dessas vulnerabilidades com o processo de saúde-doença desse território, principalmente adesão ao tratamento, evasão nos atendimentos clínico-assistenciais e influência nas condições crônicas de saúde. É expressiva também a necessidade do fortalecimento de vínculos, diálogos e construção do processo de saúde entre os usuários do território com a UBS, propiciando de acordo com a realidade do território uma longitudinalidade e integralidade do cuidado em saúde para esses usuários, assim como maior vínculo para um trabalho coletivo. O processo de territorialização em saúde foi desafiador, principalmente pela distância da UBS para sua população adstrita e devido às fragilidades dos sistemas de dados e das plataformas informacionais. A presença da Residência Multiprofissional no território foi considerada potencializadora na identificação das vulnerabilidades e construção de estratégias de enfrentamento, principalmente devido ao processo de territorialização em saúde realizado na UBS.

Conclusões/Considerações finais
Diante disso, identificou-se que o acesso a renda, transporte, mobilidade urbana e insegurança alimentar foram as principais vulnerabilidades vivenciadas pelo território, implicando no processo de saúde-doença da comunidade, necessitando de maior atuação do setor saúde sobre, assim como de outros setores, de forma coletiva e multisetorial. Ainda, a importância de uma relação próxima entre os serviços de saúde e o território.