02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO5.2 - Corporeidade e práticas de cuidado em saúde |
46834 - CORPOREIDADE DAS IYABÁS COMO PROMOTORA DO CUIDADO ANCESTRAL BRUNA MARIA CRISPIM - UFABC
Apresentação/Introdução É nas religiões de matriz africana, em especial no Candomblé, que as Iyabás são cultuadas como a natureza feminina que representa força, autonomia e resistência, e através da corporeidade, proporciona o ensinamento comunitário e ancestral afro-diaspórico. A construção e organização do conhecimento da população negra propõe uma profunda reflexão em relação ao impacto da colonialidade nas dinâmicas de cuidado e da cultura afro-brasileiras, compreendendo a complexidade da decolonialidade por meio da corporeidade como uma forma de conexão entre a ancestralidade e algo a mais que ultrapasse a modernidade.
Neste sentido, este trabalho apresenta o relato de pesquisa sobre a sutileza dos movimentos corporais e as experiências vivenciadas por mulheres de candomblé na construção e manutenção da memória e dos conhecimentos ancestrais, traçando um fio condutor entre o que já foi e o que há por vir. No culto dos povos tradicionais de terreiro, o corpo é mais do que uma composição de matéria, o corpo é território onde habita a ancestralidade. O candomblé é matriarcal, de herança africana e negra, alocado em terreiros, quilombos e nas periferias, no qual as pessoas mais velhas são profundamente respeitadas e reconhecidas por serem portadoras dos conhecimentos mais profundos e complexos. Mesmo com sua condução abarcada na decolonialidade, o candomblé ocupa muitos espaços dentre os marcadores sociais da diferença, tornando-se por hora criminalizada e constantemente marginalizada.
Sendo assim, é neste trabalho que se manifesta o interesse de propor como os conhecimentos ancestrais de origem africana se perpassaram, ultrapassando as repressões e criminalizações de cunho racial e religioso, e que até os dias atuais constroem o conhecimento por via não ocidental.
Objetivos Objetivo Geral
Compreender as expressões corporais que promovam força, resistência e protagonismo feminino nos ritos de candomblé (Ketu) por meio das danças das Iyabás.
Objetivos Específicos
• Observar o processo de ensino/aprendizagem dos movimentos de dança relacionados às Iyabás no espaço de memória ancestral;
• Identificar as formas de expressão corporais em promoção da força, resistência e protagonismo feminino;
Metodologia A fim de alcançar uma pesquisa efetiva dentro da temática em que se apresenta, a pesquisadora optou por utilizar da metodologia de etnografia, com as seguintes propostas metodológicas:
1. Observação participante no terreiro já frequentado, o Ilê Maroketu Asé Ominare além de outras duas casas, o Ilê Maroketu Asé Osun (ambas em São Paulo, SP) e Ilê Iaomim Axé Iamassê – Terreiro de Gantois (Salvador, BA).
2. Entrevista Etnografica com as Iyawos iniciadas em cultos de candomblé Ketu e que incorporam as orixás femininas, Iyabás.
Resultados e discussão Falar da população que teve sua história fundamentada na colonialidade, assim como as violências que afetaram e ainda afetam toda organização social e cultural de um povo, nos faz também compreender as construções de premissas decoloniais afrodiaspóricas, que nos possibilita traçar uma linha de memória que relembra o passado e que propõe um futuro de conexão diretamente ligado à ancestralidade, em uma perspectiva de retomar aquilo que se perdeu e propor novas experiências de conhecimento por meio da arte, da religiosidade e da sutileza, que tornou a mulher negra (principalmente) criadora de sua própria dinâmica cultural.
As tradições da população negra foram demarcadas pelo apagamento, no qual as línguas de origem foram proibidas e os povos e nações misturados para que não pudessem se organizar e se comunicar, a não ser que mediado por um padrão eurocentrado, como a catequização e o aprendizado da língua local (do colonizador) e a escrita. Contudo, dentro do processo de colonização se deu outras formas de estabelecer a comunicação, a organização e a produção de uma dinâmica cultural afro-brasileira, no qual os conhecimentos poderiam tornar mais eficaz a aproximação da ancestralidade, origem e cultura afro-diaspórico.
Portanto, por meio das expressões corporais se dá uma das formas de comunicação e atualização da memória ancestral, principalmente quando as representações são demarcadas em corpos negros e femininos.
Conclusões/Considerações finais São por meio dos conhecimentos ancestrais que se tem o conhecimento sobre o cuidado do corpo e com o Orí. São os rituais de folhas, os ebós e as expressões corporais e de incorporação que preservou as tradições da população tradicional de terreiro até aqui e por meio da linha de memória que se propõe uma trança entre o passado e presente o futuro.
O cuidado ancestral por meio da corporeidade comunica a história dos antepassados em uma concepção decolonial, sugere caminhos para as resoluções de conflitos cotidianos, proporciona ritos de cura e mesmo dentro dos marcadores sociais da diferença, estabelece uma ação antagônica a lógica colonial.
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