Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO5.2 - Corporeidade e práticas de cuidado em saúde

47934 - A DISCIPLINA “CORPOREIDADE E PROMOÇÃO DA SAÚDE” – A SAÚDE PENSADA ENQUANTO POSSIBILIDADE DE EXISTIR
JOSÉ HENRIQUE DE SOUZA - UNICAMP, MÔNICA DE REZENDE - UFF


Contextualização
A disciplina foi pensada e criada durante a Pandemia. Entendemos que, como a vida toda estava online, poderíamos arriscar ofertar uma disciplina que trabalhasse vivências corporais no formato a distância. Isso tornou possível trabalharmos juntos - um de Campinas e outra do Rio de Janeiro - e experimentarmos nossas ideias. É uma disciplina que abarca os nossos saberes e resgata nossa história na relação com o corpo e espiritualidade. Buscamos o diálogo com textos e a interface com as vivências corporais e com o Mapa vital, que dá subsídios à potência de cada aluna para achar seus caminhos na pesquisa.

Descrição
A disciplina baseia-se na filosofia da Mitologia Africana e seu ponto de partida é a construção do Mapa Vital, a partir do nome e da data de nascimento de cada pessoa. Se utiliza da etnomatemática para identificar os signos africanos que rege os orixás e o ser humano. É ofertada nas sextas-feiras de manhã, com carga horária total de 30 horas. São encontros quinzenais, alternados com leituras. É uma disciplina eletiva do mestrado acadêmico em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense e se afina com a Política de ações afirmativas do curso.

Período de Realização
Foram feitas duas ofertas, nos anos de 2022 e 2023, ambas no primeiro semestre. Houve um planejamento inicial fluido, tendo em vista que as ideias pensadas para cada aula vão sendo conduzidas pelas interações ocorridas no momento.

Objetivos
Pensar a noção de corporeidade a partir de elementos que compõem o Mapa Vital e a sua interface com as práticas corporais de Dança Integrativa. Discutir de que forma a cosmovisão africana pode ajudar a pensar outros caminhos para a saúde. Refletir sobre a Promoção da Saúde tendo como base outros referenciais que constituem uma ecologia de saberes.

Resultados
Atualmente somente alunas mulheres tem procurado a disciplina e isso tem um efeito, parafraseando Cecilia Meirelles de “cerimônia mágica”. Após a avaliação da disciplina, destacamos algumas falas das alunas para apontar os resultados. Para preservar a identidade das alunas, atribuímos a elas nomes de flor. A aluna Tulipa avalia que “essa Cosmologia é um processo em círculo. Desconstruo, ressignifico, refaço internamente e com o outro”. A aluna Rosa sente vontade de produzir diferenças e constata que a disciplina não pode parar; tem que continuar com essa energia vibracional no meio acadêmico e sobretudo na vida das pessoas. A aluna Margarida cita Caetano “cada um sabe a delícia de ser o que é” e fala do mix de sentimentos pós aula e do encantamento vivenciado, fazendo-a aguardar ansiosamente o horário das aulas. A aluna Orquídea, narrou o seu corre-corre no trabalho levando-a a faltar três encontros. Pensou em desistir, mas, no primeiro encontro que veio, teve relaxamento, musicalidades sem o rigor acadêmico e se sentiu acolhida. A partir dessa experiência, criou em seu trabalho um grupo de atendimento com dança, movimento, musicas, deixando reverberar a sensação de ouvir o outro: o grupo ACOLHER. A aluna Lírio pontuou que, a partir da disciplina criou a prática de ler contos africanos, buscando a conexão com a espiritualidade e a ancestralidade. Assim, a disciplina produziu processos de ressignificação, desconstrução e reconstrução, gerando (re)existências.

Aprendizados
Percebemos que a cada encontro experimentamos transformação. Trabalhar com a Dança integrativa, a Filosofia afro-perspectiva, as noções de corpo-terreiro e corpo-território, mito e encantamento e promoção da saúde mobilizou problemáticas que aparentemente estão fora das questões de pesquisa, mas que nos atravessam no cotidiano e, portanto, também nas nossas produções, como docentes e discentes. Há vários desafios. Dentre eles, entender como será a aceitação daquilo que propomos que parece externo ao meio acadêmico e ao padrão colonizado instituído. Há descompassos que precisam ser vivenciados, sentidos e percebidos. É difícil interagir com o invisível e com aquilo que muitas vezes não conseguimos compreender. Mais difícil fazer isso num espaço que cinde corpo e mente, onde a maior cobrança é pela cognição e compreensão intelectual.

Análise Crítica
A disciplina é parte do trabalho que estamos desenvolvendo para (re)pensar a saúde a partir de referenciais culturais, marcadores sociais e cosmológicos. Não pretendemos ensinar conceitos fechados e respostas prontas. Entendemos as aulas como terreiros – espaços de encantamento donde surgem novas possibilidades. Precisamos ampliar entendimentos e sentires para construirmos saúde de forma que abarque a diversidade. A mente está no corpo e não pode se dissociar das informações que se transformam em linguagens performáticas e de potências, com pensamentos no cotidiano para desencantar, com um Ebó de axé vital, a educação eurocentrada.