02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO9.2 - Racismo, formação e saúde |
46777 - A INSERÇÃO DA PAUTA ANTIRRACISTA NA FORMAÇÃO EM SAÚDE MENTAL ALESSANDRA RIOS DE FARIA - ESP MG, SUZANA DE ALMEIDA GONTIJO - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE OURO PRETO, ANA REGINA MACHADO - ESP MG, GUSTAVO DIAS RIBEIRO - UFMG
Contextualização A Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG), ao longo de sua história, sempre ofertou ações de formação no campo da saúde mental para trabalhadoras/es do SUS de MG. Nos últimos 03 anos, dentre outras ofertas, realizou uma turma de especialização em Políticas de Saúde Mental e Atenção Psicossocial e é sobre esta experiência que este resumo versará.
Descrição A especialização em Políticas de Saúde Mental e Atenção Psicossocial é um curso de pós-graduação lato-sensu e tem como objetivo promover a formação crítica e reflexiva de trabalhadoras/es e gestoras/es do Sistema Único de Saúde – SUS, em Minas Gerais, para que possam atuar a partir do paradigma da atenção psicossocial qualificando as redes de serviços do SUS de diferentes municípios e construindo respostas aos processos de adoecimento e sofrimento mental da população mineira.
O curso teve carga horária de 400 horas distribuídas em oito módulos: a) Saúde Coletiva, Reforma Sanitária e Sistema Único de Saúde, b) saúde, Sociedade, Loucura e Sofrimento Mental, c) atenção Psicossocial: campo de saberes e práticas, d) políticas e práticas de atenção em saúde mental, e) atenção Psicossocial junto a pessoas atingidas por desastres e crimes ambientais, f) atenção Psicossocial a crianças e adolescentes, g) atenção Psicossocial às pessoas em uso prejudicial ou dependente de drogas e h) produção de TCC: formatos e metodologias.
Contou com a participação de 45 trabalhadoras/es de 20 municípios mineiros, com diferentes formações profissionais, inserções em serviços da Rede de Atenção Psicossocial e trajetórias no campo da Saúde Mental.
Período de Realização O curso teve início em setembro de 2021 e término em maio de 2023.
Objetivos Este resumo busca apresentar e analisar a construção e sustentação de discussões sobre raça e gênero na especialização em políticas de saúde mental e de atenção psicossocial.
Resultados Existia, por parte da coordenação do curso, a intencionalidade prévia em discutir raça e gênero ao longo do curso, através de rodas de conversa. Como potência mobilizadora desta experiência, havia na turma alunas-trabalhadoras negras comprometidas e atravessadas pela temática racial que suscitaram e tensionaram o debate. A coordenação e o corpo docente estavam abertos a reconhecer sua responsabilidade nessa discussão. Como resultado, outros espaços de debate foram construídos e as discussões sobre raça e gênero fizeram-se presentes em várias disciplinas, transversalizando os debates. Foi tecido coletivamente um espaço potente para reflexão de uma clínica racializada.
Além das alunas-trabalhadoras, pudemos dialogar com militantes, trabalhadoras e pesquisadoras negras, refletindo sobre o racismo e o machismo nos serviços de saúde mental, tensionando a identidade racial do branco como norma hegemônica na produção de cuidado. Nos relatos em sala, observou-se que para muitos o debate se colocava de maneira inédita, para outros se colocava como uma possibilidade de nomear incômodos vividos e compartilhar reflexões por vezes solitárias.
Os resultados desses momentos formativos foram diversos: trabalhos de conclusão de curso sobre o tema, intervenções artísticas, entre outros. Na medida que essas problematizações são acolhidas, incita-se a mobilização de estratégias antirracistas e de combate ao machismo, classismo e outras violências em distintos espaços, como no ambiente de trabalho. À medida que as trabalhadoras compartilhavam relatos sobre violências, principalmente de raça e gênero, a que eram submetidas ou presenciaram, o acolhimento e escuta por parte da turma tornava-se também uma forma de produção de conhecimento. Conhecimento afetado, atravessado e expresso em outras linguagens por vezes desvalorizadas pela ciência dominante.
Aprendizados Após essa experiência, a matriz curricular do curso foi reformulada passando a dispor de uma disciplina específica para discutir políticas e práticas de saúde mental na perspectiva antirracista, articulada com saberes e práticas decoloniais e emancipatórias.
Análise Crítica Avalia-se a importância de seguir promovendo espaços de troca e discussão nos quais o protagonismo seja de trabalhadoras/es, gestoras/es, cidadãs negras que utilizam os serviços de saúde mental. Considera-se também que tais espaços são fundamentais para que trabalhadoras/es passem a reconhecer o impacto do racismo na produção de subjetividades das pessoas acolhidas, bem como desenvolver práticas antirracistas nas RAPS. No âmbito institucional, discute-se a implementação de ações afirmativas nos processos seletivos para ações educacionais. Quanto às ausências e invisibilidades, identifica-se a necessidade de provocar discussões acerca das especificidades da produção de cuidado em saúde mental das comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas residentes em Minas Gerais.
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