Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO9.2 - Racismo, formação e saúde

47225 - A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA EDUCAÇÃO FARMACÊUTICA DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DO NORDESTE BRASILEIRO
NAYARA COSTA CAVALCANTE - UFS, FERNANDO DE CASTRO ARAÚJO NETO - UFS, MILLENA RAKEL DOS SANTOS - UFS, DIVALDO PEREIRA DE LYRA JUNIOR. - UFS


Apresentação/Introdução
Grupos étnico-raciais socialmente estigmatizados apresentam os piores indicadores de saúde do mundo. No Brasil, as populações negra e indígena possui severas desvantagens em relação à branca, sendo que as iniquidades sociais vividas por essas populações causam impactos negativos na saúde. Assim, o ensino das questões étnico-raciais na formação dos profissionais de saúde é uma estratégia valiosa para a redução das desigualdades em saúde, combate ao racismo, bem como na busca pela promoção da justiça social e a equidade em saúde.

Objetivos
Caraterizar a inserção da temática étnico-racial na formação dos estudantes de Farmácia das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) do nordeste brasileiro.

Metodologia
Foi realizado um estudo descritivo entre setembro 2021 e julho de 2022, utilizando os projetos pedagógicos e ementários dos cursos de Farmácia das IFES do nordeste brasileiro. A extração dos dados foi realizada por dois pesquisadores de forma independente. As informações extraídas foram referentes a presença da temática, características dos documentos, perfil das disciplinas e conteúdo abordado. As disciplinas também foram identificadas e classificadas em duas categorias: “específica da temática” a qual é ofertada apenas para o ensino das questões étnico-raciais e “aborda a temática”, ou seja, que possui conteúdos relacionados às questões étnico-raciais. Em seguida, foram categorizadas em três grandes áreas, como das Ciências Sociais, Comportamentais e Administrativas; Ciências Clínicas e Ciências Básicas/Outras. Após a extração dos dados e classificação, um terceiro pesquisador comparou os resultados obtidos, sinalizando as divergências e as diferenças foram discutidas e resolvidas por consenso. A análise descritiva (frequências absolutas e relativas) foi utilizada. Os conteúdos também foram analisados por meio da leitura exaustiva dos fragmentos textuais para inferências e interpretações do material analisado, utilizando a literatura como respaldo.

Resultados e discussão
Dos currículos analisados (n=15), pouco menos da metade apresentava alguma disciplina sobre a temática étnico-racial (47%). Quanto ao perfil das disciplinas, a maior parte era classificada como obrigatória (53%), da área das Ciências Sociais e Comportamentais (67%), não eram específicas sobre a questão étnico-racial (80%) e apresentavam carga horária inferior a 60 horas (47%). No que se refere ao ano de publicação dos documentos, a maior parte data após 2004 (87%). Quanto ao conteúdo, a temática étnico-racial tem sido abordada por meio de aspectos biológicos/fisiológicos, determinantes sociais, conceitos antropológicos, políticas públicas, ambientais e farmacêuticas, assim como por meio dos conhecimentos tradicionais e história da cultura afro-brasileira e indígena e seu impacto na formação brasileira. a disputa que marca a educação envolve forças sociais, políticas, econômicas e culturais, e que implicam em fenômenos importantes como a justiça social e a educação antirracista. Para tanto, o currículo deve ser o espaço central e estruturante das políticas públicas para a educação nacional e a seleção dos conteúdos abordados. Entretanto, ele não é neutro e atende a interesses das classes dominantes, especialmente ao definir o que deve ser aprendido e ensinado. Nesse sentido, apesar das legislações de orientação e incentivo para inserção dos conteúdos étnico-raciais nos currículos terem sido publicadas há quase 20 anos, menos da metade das instituições abordava essa temática. Dos conteúdos analisados, foi possível verificar que a abordagem biológica ainda faz parte da formação dos estudantes de Farmácia, mesmo após tantos anos do sequenciamento do genoma, e a comprovação de que não existem diferenças biológicas que justifiquem diferenças entre os seres humanos. O ensino da questão racial pelo viés biológico pode prejudicar a prática do cuidado centrado nos pacientes pelos futuros farmacêuticos. Como apontado por Almeida (2020), apesar do reconhecimento da raça como uma construção social, ainda é um fator político importante, utilizado para naturalizar desigualdades e legitimar a segregação e o genocídio de grupos sociologicamente considerados minoritários. Em contrapartida, outras instituições trouxeram perspectivas mais críticas no ensino da questão étnico-racial, como abordagem do racismo e preconceito, bem como a valorização dos conhecimentos tradicionais.

Conclusões/Considerações finais
O presente estudo aponta a necessidade de mais ações institucionais para efetivação das políticas educacionais, buscando garantir a justiça social e o cuidado centrado no paciente.