Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.5 - Comunidades tradicionais e contaminação ambiental e Covid 19

46497 - CONDIÇÕES DE TRABALHO E VULNERABILIDADE: DISCURSIVIDADE DE ENFERMEIRAS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO ENFRENTAMENTO À PANDEMIA DE COVID-19
DAIANE CARDOSO DA SILVA - UFG, HELLEN CRISTINA STHAL - UFG, ROBERTA RIBEIRO RAMOS - UFG, IZABELLA MENDONÇA REGIS - UFG, JOHANNES ABREU DE OLIVEIRA - UFG, JANAINA SACRAMENTO ROCHA - UFG, ROXANA ISABEL CARDOZO GONZÁLES - UFG


Apresentação/Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive em situações de emergências sanitárias. Enfermeiras(os) da APS encontram-se em posições estratégicas, com potencial de atuação em crises sanitárias devido a familiaridade com o contexto local e a relação contínua estabelecida com o usuário, contudo também encontram-se expostas a condições complexas de trabalho, que podem potencializar situações de vulnerabilidade.

Objetivos
Analisar a discursividade de enfermeiras da Atenção Primária à Saúde acerca das condições de trabalho e situações de vulnerabilidade no enfrentamento à pandemia de Covid-19

Metodologia
Estudo qualitativo, realizado de outubro a dezembro de 2022. Tendo como referencial teórico-metodológico a Análise do Discurso, de matriz francesa para análise dos dados. Este estudo está inserido em uma pesquisa multicêntrica intitulada “Repercussão da pandemia da Covid-19 na tuberculose em capitais brasileiras: realidade e novas perspectivas na Atenção Primária”, desenvolvida em seis capitais brasileiras, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 18/2021). Para este estudo, foram analisadas as entrevistas do município de Goiânia-GO, tendo como enunciadores 22 enfermeiras das unidades de APS. Os dados foram coletados por meio de entrevistas gravadas e transcritas na íntegra.

Resultados e discussão
Nos discursos analisados evidenciaram-se condições de trabalho inadequadas, geradoras de sofrimento e adoecimento, apontadas no bloco discursivo: condições de trabalho e vulnerabilidade na APS, destacando as seguintes marcas textuais:“Foi muito difícil [..]a sala (usada para triagem de sintomáticos respiratórios) era extremamente quente, não tinha ventilação [...]”(E4). “Nós vivenciamos o medo, o receio da contaminação, a sobrecarga” (E6). Considerando que as condições de trabalho são aspectos importantes que determinam, não apenas a resolutividade dos serviços de saúde, mas também a saúde e adoecimento do trabalhador, os discursos constituem o cerne da relação com o trabalho durante a pandemia. Outra marca textual identificada foi: [...] “A falta de paramentação foi um caos. Imagina você ter que trabalhar com uma máscara N95 por dez dias no auge da pandemia, [...] faltou álcool gel, limpeza adequada. [...] A unidade deixou de ser uma APS e passou a ser urgência” (E7) [...] “Não tivemos apoio nenhum, nem psicológico, nada! E as consequências estão aí até hoje. Muitos quadros de ansiedade, cardiopatias, [...] neuropatias pós-covid, síndrome de Burnout” (E8). “A demanda aumentou e a equipe diminuiu” (E9). A escassez de trabalhadores, espaço físico inadequado, insegurança na assistência e o uso racionado de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) durante a pandemia demonstram as fragilidades das condições de trabalho a que enfermeiras da APS foram submetidas, potencializando situações de vulnerabilidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) demonstram preocupação sobre a saúde mental da população trabalhadora e estabelece diretrizes globais e recomendam ações para enfrentar os riscos à saúde mental, minimizando condições que resultem em sofrimento no trabalho, inclusive durante emergências sanitárias. Predomina nos discursos o esgotamento físico e emocional das enfermeiras, o adoecimento, o sentimento de abandono organizacional, a falta de condições mínimas de trabalho e as consequências na saúde de um processo de trabalho penoso. Nessa perspectiva, as características das condições de trabalho da APS na pandemia não contribuem com a Saúde do Trabalhador, caracterizando situação de vulnerabilidade das enfermeiras enunciadoras.

Conclusões/Considerações finais
A força de trabalho de enfermagem é a chave para a construção de sistemas de saúde resilientes e para avançar em direção a uma maior equidade na saúde, porém, a recuperação dos efeitos da pandemia só será possível quando houver o devido investimento em melhores condições para os trabalhadores da Enfermagem. As instituições públicas devem assumir sua responsabilidade e se redimir pela ausência de planejamento e de respostas políticas adequadas durante a pandemia, estabelecendo estratégias efetivas de apoio institucional e respostas políticas adequadas visando amenizar os danos na Saúde do Trabalhador. Investir na valorização e cuidado da força de trabalho de enfermagem claramente adoecida pode reverter o estado precário atual da saúde global.