48081 - TRAJETÓRIAS DO DESENVOLVIMENTO COLABORATIVO DO INSTRUMENTO ZERÓBITO PARA A VIGILÂNCIA EM ACIDENTES DE TRABALHOS FATAIS: ESTIMULANDO A APRENDIZAGEM E PROTAGONISMO
FRANCIELE MACHADO - UFPI, MANOELA GOMES REIS LOPES - UFPI, IRINA NATSUMI HIRAOKA MORIYAMA - USP
Apresentação/Introdução
O Brasil está entre os países com maior ocorrência de acidentes de trabalho (AT) fatais, os quais são considerados um grave problema de saúde pública, com elevado custo econômico, social e humano (SANTOS, 2018). A Saúde do Trabalhador (ST) busca intervir nos determinantes do processo saúde-doença para a prevenção de novos eventos, com ênfase na Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT). Em Piracicaba/SP, o Sistema de Vigilância de Acidentes de Trabalho (SIVAT) vem sendo fortalecido para a sua ampliação e intersetorialidade, com estratégias que propiciem o protagonismo, engajamento e aprendizagem dos atores envolvidos, como no desenvolvimento colaborativo do instrumento ZerÓbito (aplicação Web para atuação intersetorial na prevenção de AT fatais). Neste sentido, a Teoria da Atividade Histórico-Cultural (TAHC) e a Aprendizagem Expansiva (ENGESTRÖM, 2016) podem contribuir neste processo.
Objetivos
Analisar o aprendizado dos participantes no desenvolvimento colaborativo de novo instrumento (ZerÓbito) para a vigilância de AT fatais.
Metodologia
Trabalho de iniciação científica baseado em pesquisa de abordagem qualitativa do projeto temático de cooperação internacional entre Brasil e França - Innovation and Transformation for Prevention Activity of Professional Risks (ITAPAR). Foram analisadas as transcrições de cinco oficinas para o desenvolvimento de novo instrumento para a prevenção de AT fatais, de forma colaborativa entre 32 participantes de diversos serviços e setores relacionados à ST. À luz da TAHC e da Aprendizagem Expansiva, foi construída uma narrativa com a descrição de cada oficina, identificando os atores envolvidos, estratégias, séries de dupla estimulação (DE), suas ações e resultados expansivos.
Resultados e discussão
Foram evidenciadas cinco séries DE que apresentaram como resultado final uma simulação do fluxo da vigilância ampliada de AT fatais com possíveis soluções trazidas pela criação da ferramenta, desde o aviso do óbito até intervenção e avaliação final do processo. Na primeira série DE, os participantes analisaram a captação de óbitos por AT, por meio da mídia, fichas de notificação ou serviços de emergência. Na segunda, listaram as lacunas existentes em cada etapa do fluxo da vigilância de AT fatais, tais como a deficiência na capacitação e instituição de roteiros, dificuldades de apoio técnico, material e de infraestrutura, e fragmentação das ações. Na terceira, propuseram soluções factíveis para tais lacunas com a criação de aplicativo como estratégia para coesão da rede. Na quarta, detalharam possíveis soluções pelo desenvolvimento da ferramenta; e na quinta série de DE, com base em mapa mental, simularam o novo fluxo que seria realizado por meio do aplicativo. A partir das séries de DE, os participantes foram estimulados a analisarem e construírem modelos conceituais, o que permitiu a expansão da compreensão do objeto, proporcionando, assim, ascensão do abstrato para o concreto, evidenciada pelo ciclo de aprendizagem expansivo percorrido com as ações de questionamento e análise do fluxo existente; modelagem de soluções e simulação mental da sua viabilidade (ENGESTRÖM; SANNINO, 2010). Os participantes manifestaram envolvimento e protagonismo em todo processo, evidenciando-se diferentes tipos de ações agentivas (resistência, crítica e tomada de ações) (HAAPASAARI; ENGESTRÖM; KEROSUO, 2016).
Conclusões/Considerações finais
Os participantes foram estimulados a analisarem colaborativamente sobre lacunas, dificuldades, construção de fluxograma da Vigilância Ampliada de AT fatais e proposição de soluções pelo aplicativo para superar as contradições vivenciadas, tendo o seu protagonismo e engajamento evidenciados pelas ações agentivas. Durante as oficinas, foi percorrido o ciclo de aprendizagem expansiva, com transformações qualitativas de todos os componentes do sistema de atividades. Ao final, o grupo conseguiu, além de identificar lacunas importantes, transpô-las com indicações de normas e premissas, estabelecendo, portanto, uma perspectiva transversal para a exequibilidade da ferramenta na vigilância de AT fatais.
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