Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.3 - Comunidades tradicionais e contaminação ambiental I

46861 - CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DECOLONIAL AO CAMPO SAÚDE DO TRABALHADOR: CONSTRUINDO OUTROS OLHARES SOBRE O TRABALHO EM POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS
ANDREZZA GRAZIELLA VERÍSSIMO PONTES - DOUTORANDA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA DA UFC. DOCENTE DA UERN., RAQUEL MARIA RIGOTTO - DOCENTE DA UFC.


Apresentação/Introdução
A intensificação da crise civilizatória coloca em xeque a organização hegemônica da vida da sociedade moderna ocidental capitalista e, consequentemente, as formas de trabalho que as alicerçam. É fundamental, além de reiterar os já conhecidos limites da organização e relações de trabalho dominantes, construir novas perspectivas e olhares que se mostrem capazes de fomentar horizontes sociais onde a vida e o trabalho presentes não precisem sacrificar a vida futura e nem subjugar determinados grupos sociais. O campo Saúde do Trabalhador (ST) é chamado a esse desafio em razão dos compromissos e abordagens historicamente construídos em prol da justiça social. Entretanto, essa tarefa parece estar limitada pelos referenciais utilizados nesse campo, majoritariamente centrados em uma compreensão de trabalho que privilegia uma sociedade urbana, moderna, industrial, capitalista e que é lida/interpretada por referenciais eurocêntricos. É inegável a importante contribuição da ST no desvelar de impactos das relações capital-trabalho para o processo saúde-doença. Mas tais referenciais podem ser enriquecidos por um olhar que possibilite reconhecer e valorizar modos de vida e trabalho, como de povos e comunidades tradicionais, que há anos resistem, em sua diversidade e particularidades, à dominação do capital, e que, com suas cosmovisões, atribuem sentidos distintos ao trabalho, à natureza e aos valores, permeando formas de conduzir a vida que podem potencializar o processo saúde-doença individual e coletivo, como nos ensinam as Teorias Decoloniais (TD). Tal olhar também pode ser fecundo para pensar elementos que possibilitem à ST contribuir com a construção de horizontes de trabalhos em outras sociabilidades. É necessário o campo ST dialogar com referenciais como as TD para buscar possíveis contribuições de experiências de trabalhos de povos e comunidades tradicionais na perspectiva de ampliar sua compreensão de trabalho para além das relações capitalistas.

Objetivos
A pesquisa tem por objetivo refletir sobre contribuições do diálogo entre TD e ST para as compreensões de trabalho em povos e comunidades tradicionais que enriqueçam as abordagens convencionais e abram perspectivas para reconhecer e fomentar outras sociabilidades presentes e futuras.

Metodologia
Este resumo apresenta um ensaio teórico realizado partir da base teórica e conceitual de uma pesquisa de doutorado, na qual utilizamos referenciais do campo ST e das TD.

Resultados e discussão
As TD nos convidam a revisitar a história da Modernidade, do desenvolvimento e da ciência, articulando as opressões de classe, gênero, raça e etnia sob a égide do capitalismo, do patriarcado e do colonialismo. Elas possibilitam à ST fazer uma releitura do capitalismo a partir da colonialidade que, como permanência da estrutura de poder colonial, constitui um dos elementos do padrão mundial do poder capitalista, tendo como principais alicerces: a racialização, e as intrínsecas formas racializadas das relações de produção; o eurocentrismo, como forma de produção e controle das subjetividades, das existências; e a hegemonia do Estado-nação, que na colonialidade é construído como periferia. Nela, a Modernidade eurocêntrica constitui uma visão particular de mundo que nega, desqualifica e invisibiliza outros sujeitos e concepções de mundo, natureza, economia, trabalho e formas de conhecimento. Nesse sentido, o pensamento decolonial provoca a ST a visibilizar e credibilizar saberes, culturas e cosmovisões desses povos invisibilizados, como povos e comunidades tradicionais, pois eles estão, de certa forma, resistindo à dominação capitalista e cuidando de proteger uma outra cultura, quiçá uma outra perspectiva civilizatória. Na medida em que o pensamento decolonial vai possibilitando à ST lançar um olhar que reconheça e valorize experiências de povos e comunidades tradicionais com o trabalho, vai contribuindo para a ST participar do desafio de repensar a construção de elementos que alicercem tipos de trabalho nessas outras sociabilidades, não dominados pela lógica do capital, tais como: sentimento de pertencimento à natureza, compromisso de cuidado com a natureza; organização do trabalho permeada por afetos, laços de solidariedade e de cooperação; um sentido de trabalho como produção da vida, atrelado a suas cosmovisões, e que apresentam potencialidades para o processo saúde-doença; temporalidades de trabalho com respeito ao tempo da natureza e dos seres humanos pertencentes a ela.

Conclusões/Considerações finais
Consideramos fecundo o diálogo entre o pensamento decolonial e a ST para a compreensão do trabalho nos modos de vida de povos e comunidades tradicionais o que pode contribuir para participação da ST no desafio de construir elementos que alicercem trabalhos que se mostrem favoráveis à saúde, à boa vida e ao planeta e que, assim, possam guiar a construção de novas sociabilidades.