Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO33.3 - Comunidades tradicionais e contaminação ambiental I

47090 - POVOS TRABALHADORES DA PESCA ARTESANAL E O ENFRETAMENTO DE DESASTRE SOCIOAMBIENTAIL EM TERRITÓRIOS ANCESTRAIS DA BAHIA.
ANA ANGÉLICA MARTINS DA TRINDADE - UFBA, MARIA DO CARMO SOARES DE FREITAS - UFBA, PAULO GILVANE LOPES PENA - UFBA, MONICA ANGELIM GOMES DE LIMA - UFBA, LUIZA MONTEIRO BARROS - UFBA, RITA DE CÁSSIA LOPES GOMES - UFBA, MARTA CRISTIANE FERREIRA DOS SANTOS - UFBA, VERONICA MOITINHO SENA - UFBA, TIALA SANTANA SANTOS - UFBA


Apresentação/Introdução
Crises socioambientais ocorrem de forma cíclica ao redor do mundo. Para países do Sul Global, como o Brasil, a intensificação da devastação ambiental combinada à exploração do trabalho afeta, diretamente, comunidades de povos trabalhadores originários, ameaçando sua existência. Desastres ambientais contínuos estabelecem processos sociais de desordens. alteram lugares, temporalidades, representações e identidades. Mais que acontecimentos pontuais, geram conflitos socioambientais com perdas múltiplas, sejam materiais, sejam simbólicas. As repercussões para os territórios ancestrais são complexas, poluem rios, marés e o ecossistema como um todo, além de interferirem em significações, sensações, relações interpessoais e na organização do trabalho local. Representam ainda mecanismos sociais de neocolonização com base em relações de subalternização com destaque para a situação de pescadores artesanais negados em termos de reconhecimento da sua própria condição de trabalho, de subsistência e de apagamentos ancestrais (FRASER, 2018; FIRPO, 2019; QUIJANO, 2000, UNICAMP, 2023).

Objetivos
O objetivo é compreender como pescadores artesanais e marisqueiras de municípios baianos identificam mudanças na organização e sentidos do trabalho após desastre socioambiental não-natural e de grande proporção.

Metodologia
Este estudo é parte do projeto de pesquisa intitulado: Avaliação dos Impactos do Derramamento do Óleo Bruto/Petróleo na Costa da Bahia: Ações de Saúde e Proteção Ambiental, mais especificamente Componente 2 voltado para Políticas de Saúde e Ciências Sociais aplicadas à saúde, das quais a pesquisa de campo (des)vendou o espaço/território da pesca artesanal na Bahia, ao possibilitar o seu (re) conhecimento. Trata-se de uma pesquisa participante do tipo analítica, descritiva de abordagem qualitativa, apoiado na perspectiva teórica de estudos decoloniais das Epistemologias do Sul.

Resultados e discussão
Pescadores artesanais e marisqueiras destacam o aumento das horas dedicadas ao trabalho, bem como a diminuição das espécies e assoreamento dos rios, o adoecimento de corpos racializados se dá devido a exaustão causada pelo trabalho, somadas às históricas doenças ocupacionais, intensificando o medo, a fome, o desespero e as práticas de racismos. Entretanto, o cotidiano de mudanças no trabalho não abalou a solidariedade das comunidades locais e estimulou diálogos plurais, troca de saberes e articulação política. Os movimentos sociais da pesca se fortaleceram diante das parcerias, das denúncias e ações de auto-organização, podem representar atitudes populares decoloniais ao acompanharem a situação de saúde das pessoas e do ambiente afetados pelos desastres. Tais iniciativas são ainda complementadas por posteriores ações governamentais.

Conclusões/Considerações finais
A versão de pescadores artesanais sobre mudanças no trabalho retrata a valorização das práticas ancestrais de cuidado com as águas e com a produção da pesca artesanal. As reações populares revelam histórias de vida, necessidades e percepções de povos originários silenciadas ao longo do tempo para concretizar formas violentas de dominação de trabalhadores das águas. Os referenciais decoloniais permitem compreender o papel das lutas contra injustiças que articulam poder local contra o colonialismo. Descolonizar formas de ser, sentir e trabalhar exige variadas frentes de reconhecimento de saberes ocultados, da dignidade dos povos trabalhadores e da destruição provocada por desastres socioambientais em territórios da pesca.