47119 - ENTRE GUIAR E SER GUIA: DROGAS, REDES DE APOIO E EXPERIMENTAÇÕES ÉTICAS E POLÍTICAS DA AMIZADE COM JOVENS UNIVERSITÁRIOS INDIANARA MARIA FERNANES FERREIRA - UFRN, LEANDRO ROQUE DA SILVA - UFRN, CARLOS EDUARDO SILVA FEITOSA - UFRN, ANA KARENINA DE MELO ARRAES AMORIM - UFRN
Apresentação/Introdução . A saúde mental e o consumo de drogas entre jovens universitários é uma realidade que gera inúmeras preocupações. No Brasil, o cuidado direcionado as pessoas que fazem consumo problemático de drogas se dá através dos dispositivos de saúde mental, no âmbito do SUS e da Reforma Psiquiátrica Brasileira. No entanto, ainda é escassa a articulação com os contextos universitários que, muitas vezes, não dispõem de estratégias internas para acolher essas demandas. Dentre as problemáticas neste cenário estão o consumo simultâneo de múltiplas drogas, automedicação, potencialização do bem-estar e performance acadêmica, dentre outros. Destacamos ainda preocupações em torno dos efeitos da pandemia e do consumo drogas, os modos como esses efeitos se expressam dentro e fora da vida acadêmica; os impactos do proibicionismo e da criminalização das drogas nos modos e estratégias de cuidado no contexto universitário. Face a isso, compreendemos a redução de danos (RD) como uma aposta na produção de novos olhares e possíveis saídas para o que, neste cenário, se colocam como problemáticas. Com Lancetti, compreendemos a RD como uma ética de ampliação da vida, e, nesse caminho, nos interessamos pelas estratégias de cuidado que se articulam com experiências de amizade e redes de apoio entre jovens universitários. Nos interessamos pela amizade como uma experimentação ética e política que implica, sobretudo, modos de abertura às diferenças e à vida em suas múltiplas formas e possibilidades no qual cada sujeito deve inventar sua própria ética da amizade, tal como pontuam os estudos de Foucault e Ortega. A estes pressupostos articulamos o conceito foucaultiano de cuidado de si, como uma prática não individualizada: como uma prática social que implica o cuidado de si e do outro. Rompendo com uma visão moralista que há, em nossa sociedade, na relação entre drogas e amizades, nos perguntamos: o que pode a amizade no campo das drogas e que práticas de cuidado de si e do outro são possíveis a partir das experimentações ética e política da amizade?
Objetivos Cartografar processos de subjetivação e práticas de cuidado de si que passem por experimentações éticas e políticas da amizade entre estudantes universitários em suas experiências com drogas (prescritas e proscritas).
Metodologia Trata-se de uma pesquisa-intervenção de inspiração cartográfica, partindo dos pressupostos teóricos e metodológicos da Análise Institucional e Esquizoanálise que busca cartografar a amizade no campo das drogas, especialmente no contexto universitário. No percurso cartográfico, foram realizados dispositivos grupais presenciais com jovens universitários de diferentes cursos e universidades inspirados no conceito de Zona Autônoma Temporária de Hakim Bey. Foram realizadas rodas de conversas, oficinas e vivências como disparadores para temáticas decididas coletivamente a partir das produções grupais em cada encontro. Como meio de análise, utilizamjos diários de bordo individual (da pesquisadora) e coletivo (construídos pelas pessoas participantes) e construção de narrativas, na perspectiva benjaminiana, para leitura coletiva e validação nas experiências vividas ao longo da experiência.
Resultados e discussão Os dispositivos grupais tiveram como disparadores temas como saúde mental, redes de apoio e amizade. A experiência com múltiplas drogas foi um elemento transversal a todos. O grupo foi reconhecido como espaço de legitimação da experiência com drogas, visto que há na sociedade uma “proscrição” do tema, atravessado por estigmas, preconceito e criminalização que muitas vezes produz experiências de solidão nas experiências compartilhadas. Os usos recreativos, terapêuticos e medicamentosos foram colocados em cena através do qual foi problematizado múltiplas possibilidades de relações, singulares e coletivas, com drogas (prescritas e/ou proscritas). Episódios de racismo dentro da universidade também foram compartilhados trazendo para o centro do debate a relação entre a criminalização das drogas e o racismo atravessam violentamente as vivências de pessoas negras em nosso país. Mapeamos processos de articulação e produção de redes de apoio, nas quais os vínculos podem produzir redes de apoio que, ao se formarem, podem ser produtoras de cuidado e saúde mental no contexto acadêmico.
Conclusões/Considerações finais As experiências aqui compartilhadas evidenciam modos de amizades e redes de apoio que potencializam estratégias de cuidado, alinhados ao paradigma ético-político da Redução de Danos, anunciando outras compreensões acerca da amizade, do cuidado de si e do outro. Tais redes de apoio, ao se formarem podem ser produtoras de cuidado. Aqui o cuidado não se separa de sua dimensão política - afirmando a autonomia e a participação democrática das pessoas que consomem drogas desde os aspectos micropolíticos do cuidado até aspectos macropolíticos, como por exemplo, a construção de Políticas Públicas de Saúde, Assistência e atenção psicossocial voltadas para esta população.
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