02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO11.2 - Envelhecimento e cuidado em saúde |
46672 - COMER E SOFRER: COMENSALIDADE, AUTONOMIA E SOFRIMENTO DE PESSOAS IDOSAS EM CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS A PARTIR DO FILME “ANTES DE PARTIR” CAROLINA BARBOSA DAUMAS - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UERJ), MARIANA FERNANDES COSTA - INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA), FRANCISCO ROMÃO FERREIRA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UERJ)
Apresentação/Introdução O presente trabalho analisa aspectos dos cuidados paliativos oncológicos quando relacionados à autonomia e ao sofrimento humano no contexto de comensalidade. Nesta perspectiva, vamos articular o campo das ciências humanas e sociais aos estudos sobre a população que vive com doença oncológica e recebe cuidados paliativos. Analisaremos, a partir das reflexões geradas no campo da Bioética, como o princípio da autonomia, presente nas tomadas de decisão referentes a alimentação, pode estar relacionado ao sofrer humano. Entendendo que não apenas sintomas físicos referem dor e sofrimento ao sujeito, mas também aspectos mentais, espirituais e sociais.
Objetivos O objetivo deste trabalho é analisar os aspectos da filosofia de cuidados paliativos quando relacionados à autonomia e ao sofrimento de pessoas idosas que vivem com câncer, no contexto de comensalidade, a partir do filme “Antes de partir”.
Metodologia Trata-se de uma análise teórico-conceitual a partir das análises fílmicas de cenas advindas do filme Antes de Partir. A escolha do filme obedeceu os seguintes critérios: fácil acesso em plataformas de streaming; dublagem e/ou legendas em português; e abordar personagens vivendo com câncer (elegíveis aos cuidados paliativos), exercendo autonomia em suas tomadas de decisão referentes a sua alimentação. É uma produção norte-americana, de 2007, que traz em sua temática dois personagens idosos vivendo com câncer e que escolhem sair da instituição hospitalar em que estão internados e seguir viagem com uma lista de desejos para realizarem antes de morrerem. Utilizamos as cenas do filme como – estudos de caso – para nos aproximarmos dos personagens e seus cotidianos para que pudéssemos analisar a autonomia, a comensalidade e o sofrimento vivenciados diante do câncer e o processo de morte e morrer. O cinema nos oportuniza cenários que a realidade não consegue nos proporcionar. Conseguimos entrar em um quarto de hospital e conversar com os sujeitos através do efeito de realidade produzido (DUARTE, 2016). Para as análises, foi utilizado o modelo proposto por Vanoye e Galiot-Lété (2011), cujo processo é fundamentado nas etapas de decomposição e reconstrução das cenas. E também, foi utilizado o método indiciário (1989) proposto por Carlo Ginzburg. Para este autor, indícios e sinais contidos nos detalhes dos filmes, podem oportunizar um fio condutor que revela conexões e fenômenos mais profundos para analisar as relações sociais. Além das contribuições de Edgar Morin (2014) para olhar os jogos de imagens e imaginários, os simbolismos das cenas.
Resultados e discussão A predominância do paradigma biomédico se reflete nas práticas em saúde prevalentes. Lançar mão de reflexões filosóficas e antropológicas acerca do comer auxiliam a compreender linguagens e significados deste fenômeno complexo (FREITAS; MINAYO; FONTES, 2011). Vale lembrar que os sujeitos aqui ainda possuem capacidade de exercer autonomia em suas tomadas de decisão. Seja referente a seus tratamentos, seja em sua alimentação. Podemos perceber isso através das cenas que retratam a comensalidade. Ao desejar e comer uma comida “de fora” da instituição hospitalar, temos a representação dessa pessoa exercendo autonomia. Quando cuidadores e familiares trazem comida de fora do hospital, por exemplo, e consomem juntamente com o idoso internado, eles estão oferecendo cuidado e afeto. Essas escolhas podem nutrir o corpo subjetivo mas em contrapartida acarretar consequências fisiológicas ao corpo biológico, influenciando no sofrer deles. Além disso, o filme trata com bom humor o processo de morte e morrer dos personagens e a comensalidade perpassa o filme inteiro e, em diferentes cenas, retrata o contraste dos dois mundos, desde o café luxuoso ao simples jantar em casa, com a família.
Conclusões/Considerações finais A discussão se deu em torno da autonomia, comensalidade e sofrimento desses idosos que recebem cuidados paliativos oncológicos. Gostaríamos de destacar a complexidade dessas temáticas e evidenciar que para além das qualidades biológicas do alimento, sofrimentos também estão à mesa, ou melhor dizendo, à beira leito. Este trabalho acaba se tornando um convite para percebermos a bioética, o sofrimento e a comensalidade em um processo indigesto para o campo da alimentação e nutrição: a morte e o morrer.
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