02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO12.2 - Epistemologias da Saúde desde o Sul: Pesquisa participativa e construção compartilhada de saberes |
46267 - ASSUNTAR A EXPERIÊNCIA: PESQUISA EM TERRITÓRIO QUILOMBOLA RAFAELA CAVALCANTE DE BARROS - UPE, SUELY EMILIA DE BARROS SANTOS - UPE, WANESSA DA SILVA GOMES - UPE
Contextualização As Comunidades Descendentes de Quilombos desenham caminhos singulares de cuidado e apresentam formas próprias de vivenciar o processo saúde-doença, de acordo com suas cosmovisões. A saúde quilombola tem relação direta com as tradições orais, pois a oralidade é o caminho de perpetuação e transformação dos traços culturais locais. Os saberes tradicionais em saúde irradiam autonomia, carregam histórias antigas e apresentam raízes profundas no tecido da existência humana.
A pesquisa acadêmica em territórios quilombolas anuncia a necessidade de um olhar atento às singularidades. Sendo assim, é indispensável se despir de metodologias acadêmicas-coloniais de pesquisa e coconstruir caminhos decoloniais deste fazer. O presente relato de experiência, almeja compartilhar um pouco sobre a trajetória no mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental (PPGSDS-UPE) com o trabalho intitulado “Trilhas para Preservação dos Saberes Tradicionais em Saúde de uma Comunidade Quilombola no Agreste Pernambucano"
Descrição O estudo é vivênciado no território quilombola de Curiquinha dos Negros, localizado em Brejão no interior do Agreste pernambucano. A chegada no quilombo tem data anterior ao mestrado e aconteceu de maneira gradual. Esta aproximação se costura em resposta a alguns movimentos no despertar do papel enquanto pesquisadora e mulher branca na sociedade. Assim, vamos assuntando os fios que nos interligam a este território e reconhecemos que a luta contra os racismos pertence a todos nós.
No caminhar do mestrado, desenhamos a seguinte questão suleadora “Como se mostra a trajetória percorrida pelas guardiãs e guardiões da comunidade quilombola de Curiquinha dos Negros na preservação dos saberes e práticas tradicionais em saúde?”. Esta pergunta foi construída a partir de reflexões advindas do território e de inquietações nossas.
Período de Realização Início em Outubro de 2022, quando foi aprovado o projeto no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), e será finalizado em Fevereiro de 2024, ao final do mestrado.
Objetivos Assuntar a experiência e narrar as caminhos contracolonias no envolvimento de uma pesquisa no território quilombola de Curiquinha dos Negros em Brejão/PE.
Resultados O território de pesquisa, também conhecido como Quilombo da poesia, anuncia a sensibilidade através da poesia, e faz brotar um versar afetivo em nossas narrativas. Para encaminhar a questão suleadora, proposta no mestrado, traçamos um caminho metodológico no campo da pesquisa qualitativa, interventiva e cartográfica. Nele, utilizamos o Diário de Bordo, a Roda de Conversação e a Cartografia Clínica para colher as narrativas locais e a Analítica do Sentido enquanto método de análise das narrativas cocriadas em território.
No caminhar da pesquisa, foram encontrados 5 guardiãs e guardiões dos saberes e práticas de saúde, que estão compartilhando suas narrativas sobre a trajetória de cuidado no quilombo. Atualmente, estamos finalizando a transcrição da Roda de Conversação e neste tatear já brotaram algumas reflexões, que foram colocadas em ação. Dentre elas, pensamos em como ultrapassar a bolha científica acadêmica, em direção às narrativas dos povos tradicionais. Como fazer um giro decolonial na academia, nesse campo de estudo, sem escritos da comunidade quilombola? Como incluir as Escrevivências e as Oralituras dos povos tradicionais e periféricos no corpo de citações dos trabalhos acadêmicos? Para isto, escolhemos o caminho da decolonialidade e a abertura para leituras que vão além dos periódicos e das plataformas acadêmicas de registro.
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Aprendizados Dentre os aprendizados e posicionamentos adotados nesta pesquisa, destacam-se: priorizar pessoas negras, indígenas e populações tradicionais no corpo de citações dos trabalhos; coconstruir espaço de fala das populações tradicionais sobre sua própria vida e sua visão sobre a história no espaço acadêmico, ou seja, a escuta e a sistematização das narrativas a partir de suas escrevivências; deixar fluir a poética na escrita em diálogo a poética no existir das populações tradicionais; desenvolver um olhar atento às oralituras das tradições; envolver visões sobre o que não pode ser visto, como o tempo, a espiritualidade e a fé; compreender a diversidade das compreensões do tempo, evitando reducionismos lineares através da incorporação do tempo espiralar e circular.
Análise Crítica Os caminhos percorridos nesse mestrado, anunciam a necessidade do envolvimento e criação de metodologias que abracem as narrativas/oralituras dos povos tradicionais. Uma vez que, para realizar trabalhos coerentes e que expressem as realidades dos territórios, é essencial a escuta de suas narrativas, pois a oralidade é um modo de contar as histórias das comunidades e as memórias das tradições do povo afrobrasileiro, bem como, o banhar-se em seus modos de ver e estar no mundo. Assim, consagramos uma retomada epistemológica em caminhos de diversidades, contracoloniais, coconstruindo autonomia e justiça para os povos tradicionais.
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