Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO13.2 - Extensão na perspectiva decolonial

46837 - A INFÂNCIA, A CIDADE E O BRINCAR: REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA A PARTIR DA EXTENSÃO POPULAR
SÔNIA MARIA DANTAS BERGER - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, FILIPI DIAS DE SOUZA MALTA - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, RANULFO CAVALARI NETO - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, ENILCE DE OLIVEIRA FONSECA SALLY - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, MARLENE MERINO ALVAREZ - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, ISABELA RAMOS MAIA - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, ELIZABETH CLARKSON MATTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, SAFIRA LINHARES HOSKEN - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE


Contextualização
O presente trabalho objetiva apresentar reflexões sobre a formação em psicologia a partir da experiência na ação coletiva “Ocupa Praça – ocupa , cuida e brinca”, parte do projeto de extensão “Crianças e adolescentes em situação de rua e acolhimento institucional: construindo estratégias de territorialização afetiva”. Ao refletirmos sobre a função social da universidade e o novo horizonte de formação universitária oferecido pela regulamentação das atividades de extensão desde a Resolução nº 7 MEC/CNE/CES, destacamos a importância do diálogo e das trocas afetivas com a população em situação de rua (PSR) na formação do profissional de psicologia, bem como da atuação do psicólogo nas lutas populares pelo direito à cidade, entendendo-as como reivindicações próprias ao campo da saúde coletiva.


Descrição
Com o objetivo de oferecer cuidados em saúde, numa perspectiva de saúde ampliada, interdisciplinar, para bebês, crianças e adolescentes vulnerabilizados e suas famílias, com foco nos que vivem e/ou circulam pelas ruas. O “Ocupa Praça”, utilizando-se da ludicidade, é uma estratégia intersetorial realizada nas praças públicas. Por meio de oficinas de contação de histórias, música, capoeira, teatro do oprimido, slackline, silk screen - entre outros caminhos.

Período de Realização
Tal atividade é permanente e ocorre a cada dois meses nas praças da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, desde 2016. A experiência aqui descrita enfatiza os anos de 2021 e de 2022.

Objetivos
Aquilo que realizamos não se encerra no brincar: temos captado as implicações de intervenções na cidade que, ao mesmo tempo em que resgatam a acepção original de uma praça como um local de reunião e não de policiamento e repressão estatal da PSR, tem provocado debates sobre a potencialidade dos princípios éticos, políticos e pedagógicos da Educação Popular para o aprimoramento da formação em saúde, fomentando práticas de cuidado e de participação social mais dialógicas nos territórios. Assim, apostamos que a formação do profissional de psicologia não poderia deixar de perpassar junto a luta pelo direito à cidade, uma vez que o território é espaço de cuidado e produção das subjetividades.


Resultados
Ao estreitar vínculos com essa população e com a cidade temos percebido possíveis resultados dessa estratégia de territorialização afetiva: temos articulado junto dos movimentos de luta popular pelo direito à cidade, de dentro e fora da universidade, como o Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNML-Maricá) e o Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (NEPHU-UFF); bem como, podemos ouvir e aprender sobre e com as vivências contra-hegemônicas das crianças e adolescentes em situação de rua, sobre suas estratégias, seus saberes e mesmo as violências sofridas por elas e eles e suas famílias. Destacamos que a sociedade civil que transita pelas ruas e presencia a atividade, tem nos retornado ressaltando a alegria de ver uma praça repleta de crianças brincando.


Aprendizados
Sustentamos que a atuação do psicólogo não pode estar apartada da cidade, enclausurada entre as quatro paredes de seus consultórios. Somente a partir de uma formação diferenciada e implicada, orientada pela extensão de caráter popular, é que tais profissionais poderão criar possibilidades concretas de intervenção na realidade social e política do Brasil.


Análise Crítica
Diante de tal realidade interrogamo-nos sobre as possibilidades advindas da creditação da extensão nas grades curriculares dos cursos de psicologia como uma importante disputa política na direção não apenas da democratização dos produtos da universidade brasileira, mas também da construção de uma relação/aproximação com as populações vulnerabilizadas, uma vez que a realidade na maior parte desses cursos no país ainda tem sido a formação de profissionais voltados para o atendimento clínico nos consultórios particulares, afeitos sobretudo aos interesses do capital, da classe média e pequeno-burguesa brasileira, alheios à realidade das ruas, incapazes de operar com a alegria e a revolta que surgem dela, sem uma perspectiva iminente de ajustamento e de sustentar uma pretensa neutralidade. Se a necessidade de interação e formação de profissionais preparados para lidar com o sofrimento da PSR já era gritante, nos últimos anos, e em decorrência da pandemia do COVID-19, a quantidade de pessoas migraram para as ruas é alarmante, especialmente no que se refere à região sudeste, que abriga pouco mais da maioria de toda a PSR do país.