Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO13.2 - Extensão na perspectiva decolonial

47678 - A EXPERIÊNCIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COMO ESTRATÉGIA PARA O DIÁLOGO SOBRE DIREITOS SOCIAIS E INTERSECCIONALIDADES NA COORDENADORIA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA 3.1
LETÍCIA OLIVEIRA VILAS BOAS DOS SANTOS - UFRJ, SIMONE DE SOUZA PIRES - SMS/PCRJ, FERNANDA RODRIGUES ARRAIS - UFRJ, LAYLA FERNANDA DA CUNHA TEIXEIRA DE MELO - UFRJ, VICTÓRIA LAVOR CABRAL RÔLA - UFRJ, LÍVIA PEREIRA DE OLIVEIRA LOPES - UFRJ


Contextualização
O Projeto de Extensão "Saúde, Serviço Social e Democracia: articulação de saberes e lutas em saúde" é uma iniciativa da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ), iniciado em 2019, pouco tempo antes da deflagração mundial da pandemia da COVID-19. Tal ação tem como proposta articular assistentes sociais, trabalhadores da saúde e movimentos sociais no sentido de qualificar as ações profissionais desses trabalhadores, além de contribuir na perspectiva de socialização de informações e acesso aos direitos sociais dos usuários dos serviços de saúde pública do município do Rio de Janeiro.

Descrição
O projeto e as suas atividades são desenvolvidos em diferentes espaços da política de saúde, tais como, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Maternidade Escola (ME/UFRJ) e espaços da Coordenadoria Geral de Atenção Primária da AP 3.1 (CAP 3.1 – SMS/RJ).
A metodologia para o desenvolvimento das ações do projeto foi organizada em eixos, respeitando as especificidades das instituições parceiras: identificação das demandas, das transformações e da organização dos processos de trabalho; realização de consultorias a partir das questões prioritárias identificadas; participação e acompanhamento das reivindicações e lutas dos movimentos sociais na saúde; ações socioeducativas em saúde, voltadas diretamente aos trabalhadores e à população usuária dos serviços de saúde.


Período de Realização
O Projeto teve início em 2019 e se mantém até o presente momento desenvolvendo suas ações com periodicidade semanal.


Objetivos
O objetivo do trabalho organizado no espaço da Coordenadoria Geral de Atenção Primária (CAP 3.1/SMS/RJ) é instrumentalizar e articular as diversas categorias da área da saúde acerca da rede intersetorial, assim como provocar a reflexão sobre a interseccionalidade e os direitos sociais na contemporaneidade. Para tanto, o grupo de extensionistas vem construindo um mapeamento da rede intersetorial da Área Programática 3.1 (AP 3.1), e material socioeducativo sobre direitos, benefícios sociais na saúde e interseccionalidades. Este último material passou a fazer parte de uma estratégia de discussão coletiva com os profissionais de saúde a fim de provocar o debate sobre interseccionalidades, trazendo à tona temas como questão racial, LGBTQIAPN+fobia e gordofobia no acesso aos serviços de saúde.


Resultados
Estão sendo realizadas Oficinas sobre direitos sociais na Saúde: um debate interseccional, em unidades de atenção primária e hospitalar direcionadas para profissionais e residentes, com metodologia ativa, pela qual se utiliza dinâmicas e estímulo à participação a fim de provocar a reflexão sobre o tema abordado. Além disso, os encontros têm sido um terreno fértil aos profissionais de saúde de diversas instituições vinculadas ao território da área programática 3.1, pois permitem o compartilhamento de experiências da prática profissional que enriquecem a troca.

Aprendizados
Foi possível o resgate dos objetivos do projeto de extensão, de articulação de saberes na área da saúde, visando à construção coletiva, o debate, e a comunicação e informação em saúde como centrais na construção de respostas aos problemas sociais compartilhados pela sociedade brasileira. A importância de dialogar e articular saberes com profissionais de saúde, entendendo o processo saúde-doença a partir do conceito ampliado de saúde, faz com que seja possível aproximar das demandas dos usuários. O tema da interseccionalidade tem ganhado grande relevância nas discussões, para surpresa do grupo de alunos envolvidos no projeto.

Análise Crítica
A necessidade do tema da interseccionalidade se deu a partir da compreensão da dimensão social da saúde, pela qual é possível identificar como as desigualdades sociais interferem e interseccionam a vida dos sujeitos, usuários dos diferentes serviços, em diversos níveis. Compreende-se, assim, as desigualdades sociais em saúde como "as diferenças no estado de saúde entre grupos definidos por características sociais, tais como riqueza, educação, ocupação, raça e etnia, gênero e condições do local de moradia ou trabalho" (BARATA, 2009, p. 11).
Oliveira et al. (2020, p. 2-3) falam sobre a importância do olhar interseccional e indicam que "a utilização da abordagem interseccional na saúde congrega a perspectiva de equidade e justiça social". Assim, toma-se como pressuposto que a interseccionalidade entre gênero, raça e classe, entre outros diversos marcadores sociais, é uma importante ferramenta analítica e norteadora das ações (COLLINS & BILGE, 2021) e precisa fazer parte do olhar dos diferentes profissionais de saúde na perspectiva de desconstruir saberes colonizadores das práticas em saúde e garantir novos caminhos para uma assistência mais justa e igualitária na saúde, que só encontra viabilidade na construção coletiva.