Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO15.3 - Formação, Educação Permanente em Saúde e vivência acadêmica

47292 - A CONSTRUÇÃO DE UM GRUPO DA PESQUISA EM SAÚDE LGBTI+: A PRÁTICA, OS ENCONTROS E TRANSPOSIÇÃO DE FRONTEIRAS.
BRÍGIDA GABRIELE ALBUQUERQUE BARRA - UFRN, MARIA ÂNGELA FERNANDES FERREIRA - UFRN, AMANDA DE MEDEIROS AMANCIO - UFRN, SAMANTHA ARAÚJO MELO - UFRN, CLARA RAFAELA DE LIMA CAETANO - UFRN, GABRIEL TIBÚRCIO DOS SANTOS - UFRN, CATARINA DE LIBRA - UFRN, LEONAN DAVI LIMA TENÓRIO - UFRN, ANA LUISA SILVA MACIEL - UFRN, GABRIELLE KARLA DE OLIVEIRA DANTAS - UFRN, ISABELA CORONELLI AUGUSTO - UFRN, RYAN MOURÃO PAULINO - UFRN, LÍDIA NOEMY DE ALMEIDA - UFRN, CAMILA DA FONTE PORTO CARREIRO DE LIMA VALE - UNP, MARIA EDUARDA BENEVIDES RODRIGUES - UFRN


Contextualização
A universidade e principalmente os cursos e programas de pós-graduação da área da saúde tem ainda insistido em uma postura às vezes utilitarista com as populações vulnerabilizadas. A população LGBTI+ tem sido objeto de estudo crescente e publicações sobre a temática tem ganhado visibilidade na saúde. é importante que pesquisadores e comunidade acadêmica que se dispõe a essas discussões estejam sempre em reflexão sobre as formas e as posturas que a universidade adota para essas práticas, tentando fazer com que os interlocutores sejam escutados, respeitados e possam participar como interlocutores ativos no processo de construção do conhecimento. A criação de espaços acadêmicos plurais são fulcrais para uma universidade mais implicada, mas ainda é um desafio a construção dessas relações.

Descrição
O Grupo Interprofissional de Pesquisa em Saúde LGBTI+ (GIPS LGBTI+) da UFRN tem iniciado suas atividades nos últimos meses. O grupo surgiu a partir da realização de uma pesquisa-ação no município de Natal e tem ganhado novos objetivos e desdobramentos com a chegada de novos membros e respondendo às demandas da comunidade, da gestão e dos movimentos sociais. O grupo é formado por 25 participantes entre professores e alunos de diversos cursos como Saúde Coletiva, Odontologia, Ciências Sociais, Medicina, Psicologia e Serviço Social. Também participam mestrandos e doutorandos da pós-graduação em saúde coletiva. As reuniões de planejamento acontecem semanalmente e é comum a participação dos profissionais da assistência e gestão em saúde, parlamentares, representantes dos movimentos sociais e outros grupos de ligas acadêmicas e projetos de extensão da universidade.

Período de Realização
Agosto de 2022 a Junho de 2023.

Objetivos
Descrever e refletir sobre as práticas e construção de um grupo de pesquisa em saúde LGBTI+ nos espaços da universidade, sistema público de saúde, políticas públicas e controle social.

Resultados
A criação do Grupo de pesquisa se deu como uma resposta a uma necessidade anunciada tanto em outras pesquisas quanto também fora da universidade. Um mapeamento realizado pela UNESCO no estado do Rio Grande do Norte concluiu que a maior necessidade de saúde LGBTI+ seria a falta de preparo e disponibilidade dos profissionais de saúde para o cuidado dessa população. Somado a isso, no ano de 2021 foi criada em Natal a lei municipal de saúde integral LGBTI+. A Universidade entrou como parceira para a implementação da política através de uma pesquisa-ação financiada por uma emenda parlamentar e construída com a secretaria municipal de saúde. O grupo foi montado para atuação nessa perspectiva, os processos seletivos e a construção da identidade do grupo foi acontecendo com a participação de diversos atores. Hoje o grupo atua com diversas pesquisas em andamento, promoção de eventos, participação em conferências, agendas políticas e dando suporte sobre saúde LGBTI+ no município e estado.

Aprendizados
O grupo atualmente atua em uma cogestão, compreendendo que pesquisadores se movimentam às vezes como interlocutores, por serem pessoas LGBTI+, pessoas dos movimentos sociais atravessam para o lugar de educadores, profissionais e gestores ensinam e aprendem. A existência do GIPS ultrapassa os muros da universidade, ele existe nas unidades básicas de saúde, responde às demandas da gestão, como a realização de eventos, com a orientação dos movimentos sociais e responde às solicitações dos movimentos sociais convocando a gestão. Essa horizontalidade de saberes traz um aprendizado constante para todos os atores envolvidos. Além disso, a existência desse movimento proporciona trocas que a pesquisa algumas vezes não consegue. A postura de um cuidado ampliado e um olhar crítico forma pesquisadores mais implicados, uma pesquisa no campo aproxima a comunidade da universidade. Alguns envolvidos na pesquisa optaram por adentrar ao espaço acadêmico, pois começaram a enxergar esse espaço como possível. A representatividade das pessoas que compõem o GIPS torna a atuação mais assertiva.

Análise Crítica
A aproximação da pesquisa e da universidade com a comunidade, a gestão, a criação de políticas públicas e um movimento potente de democratização da ciência. Discutir saúde LGBTI+ sem a presença de corpos LGBTI+ na produção desse conhecimento pode continuar a caracterizar essa população da perspectiva da doença e de problema. O saber da Universidade não é soberano ao saber das vivências, compreender isso e realizar um movimento em que essa autoridade de saber se inverte é urgente. No contexto da saúde, especialmente na atenção primária, o papel da universidade pode ser de fomentar espaços de discussão e em uma perspectiva emancipatória esperançar na ideia de que a própria comunidade pode ser protagonista na formação dos profissionais e gestores. O GIPS e um grupo acadêmico que existe com responsabilidade científica, mas também implicado a ser resolutivo em espaços para além do epistemológico.