Comunicação Oral

02/11/2023 - 13:10 - 14:40
CO15.3 - Formação, Educação Permanente em Saúde e vivência acadêmica

47639 - A CULTURA LGBTQIA+ NO PROCESSO DE FORMAÇÃO NA SAÚDE: EXPERIÊNCIA COM INGRESSOS NO CURSO DE MEDICINA DA UFF
LUIZ ALBERICO ARAÚJO MONTENEGRO - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO EM SAÚDE


Contextualização
A formação em saúde, de acordo com as diretrizes curriculares em saúde (2014), deve levar em consideração aspectos da dinâmica social, alicerçada na formação de profissionais generalistas, éticos e humanistas. No entanto, muitas das práticas colocadas no processo de ensino aprendizagem, parecem desconsiderar a totalidade social nas investigações das demandas de certos grupos vulnerabilizados. Dentre estes, como recorte para o relato, tem-se a saúde da população LGBTQIA.
O tema é um dos diversos temas tratados na Disciplina de Campo Supervisionado 1 a (TCS 1a), que acontece no primeiro período do curso de medicina da Universidade Federal Fluminense, na cidade de Niterói. Apresenta como eixo central: saúde e cultura na perspectiva da diversidade e direito à saúde. A disciplina se constrói na busca da diversificação de cenários de ensino-aprendizagem, com o desafio de ampliar a capacidade crítica/reflexiva dos estudantes de medicina nas questões que envolvem o processo saúde-doença.
Outros temas trabalhados são: Saúde, Cultura e Envelhecimento; Saúde Mental, Cultura e Inclusão Social; Saúde, Cultura e Infâncias; Saúde, Cultura, HIV e AIDS; Saúde, Cultura nos cotidianos do trabalho médico; Saúde, Cultura e Bioética; Saúde, Cultura e Doenças Negligenciadas.


Descrição
Especificamente para o tema saúde da população LGBTQIA+, o processo de ensino/aprendizagem é pavimentado pelos versos do samba da Mangueira, campeão do carnaval 2019, que diz: “(...) Brasil, meu nego Deixa eu te contar, a história que a história não conta, O avesso do mesmo lugar, na luta é que a gente se encontra (...)”. Estes versos transversalizam as discussões sobre gênero e sexualidade, aspectos históricos, políticos, sociais, epidemiológicos que emolduram vivencias e demandas LGBTQIA+ nas mais variadas dimensões do contexto social como: população carcerária, indígenas, Movimento dos Sem Terra, População em Situação de Rua, a “bixa preta periférica”, Transfeminismo, Mercado de Trabalho, etc. As aulas, quando em sala de aula, são realizadas em sua totalidade no formato de roda de conversa entre professoras/es, alunas/os e convidadas/os, estes representantes dos movimentos sociais do assunto a ser trabalho. Discentes são avaliados, ao longo do semestre, considerando: interesse na temática, participação em sala, colaboração com os debates, sugestões na construção dos assuntos como: filmes, músicas, poesias, textos, eventos, entre outros. Há também uma avaliação final, em que professor e estudante dialogam sobre os assuntos tratados e os impactos para formação discente.

Período de Realização
Fevereiro de 2020 até junho 2023

Objetivos
Refletir e dialogar sobre as percepções dos discentes no que tange o processo saúde-doença advindas dos contextos de exclusão social da população LGBTQIA+ e quais relações podem ser estabelecidas com a prática médica a partir da avaliação final da disciplina

Resultados
Demonstrou-se, ao longo dos semestres, uma narrativa avaliativa de forma semelhante em que são anunciados pelos discentes uma “ressignificação” sobre a população específica, que potencializa a necessidade de desenvolver escutas qualificadas, papel humanizador durante a formação, possibilita a interação entre discentes e diversos cenários /territórios de existências e aprendizagem. Há uma costura entre assuntos que agrega conhecimentos, vistos até mesmo como “surpresa da diversidade na diversidade”. A disciplina fez ter contato direto com teoria e pessoas com vivencias e experiências, o que gera “vontade de conhecer mais sobre a temática”. Construção importante para restabelecer relações com grupos historicamente excluídos do contexto social. Desenvolvimento da sensibilidade, empatia e questionamentos sobre a prática médica diante de grupos marginalizados e vulnerabilizados. As estruturas das aulas em encontros, em que todos os alunos são estimulados a expressar sua visão, sem medo de errar e de serem julgados é um estímulo à integração entre os alunos, professores e representantes dos movimentos sociais tornando o ambiente de aula muito mais agradável e prazeroso.

Aprendizados
A partir dos resultados, a abordagem da temática se faz necessária posto que diversas pesquisas têm revelado situações alarmantes envolvendo grupos socialmente excluídos tais como: negros, indígenas, mulheres, LGBTQUIA+, que colocam o Brasil dentre os líderes no ranking de violência física, mental e simbólica aos grupos aqui relacionados, e que traz forte preocupação para desenvolvimento de políticas educacionais alinhadas as realidades pulsantes na sociedade.

Análise Crítica
Tais questões precisam ser assumidas nos diversos espaços de formação como posturas de defesa da vida, dentro do espaço institucional, nesse caso faculdade pública, alinhados aos princípios dos direitos humanos e constitucionais. É urgente que sejam contadas as histórias que a história não conta, e que o avesso do mesmo lugar seja o lugar do reconhecimento das opressões, silenciamentos e negação direitos