02/11/2023 - 13:10 - 14:40 CO16.3 - Produção do cuidado, gênero e intersecionalidade |
46923 - À FLOR DA PELE: EXPERIÊNCIAS DE MULHERES EM COMUNIDADES ENDÊMICAS DE LEISHMANIOSE CUTÂNEA GREICE BEZERRA VIANA - UERJ/UFBA, WALESKA DE ARAÚJO AURELIANO - UERJ, LENY ALVES BOMFIM TRAD - UFBA
Apresentação/Introdução A pesquisa desenvolvida questiona como gênero e o cuidado são articulados a partir das experiências de mulheres em áreas endêmicas de leishmaniose cutânea na região do Baixo Sul da Bahia. O estudo foi realizado a partir de uma interlocução de narrativas que englobam a história de vida e as experiências de seis mulheres nas comunidades rurais de Alto Alegre, Corte de Pedra e São Paulinho nos municípios de Tancredo Neves e Teolândia, na região do Baixo Sul da Bahia.
O estudo está inserido na atuação do Projeto ECLIPSE - Empoderando pessoas com leishmaniose cutânea (LC): Programa de Pesquisa e Intervenção para melhorar os itinerários dos pacientes e reduzir o estigma por meio do envolvimento da comunidade. Esse é um projeto multicêntrico, de base qualitativa, interdisciplinar e participativo, liderado pela Kent and Medway Medical School e Keele University (Reino Unido) e desenvolvido em comunidades no Brasil (FASA/ISC/UFBA; SIM/HUPES/UFBA), na Etiópia e no Sri Lanka.
Objetivos Compreender a relação entre gênero e o cuidado em saúde, a partir das experiências de mulheres em áreas endêmicas de leishmaniose cutânea, na região do Baixo Sul da Bahia.
Metodologia Por meio de uma abordagem qualitativa e etnográfica, a construção da percepção foi estreitada com o diálogo seis mulheres das comunidades citadas, com as quais foi vinculada mais detalhadamente a relação de pesquisa, entretanto também foi enriquecida a partir da interlocução com outras mulheres com quem tive contato durante 3 anos de pesquisa.
Como forma de compreender as redes de cuidado construídas/ costuradas, a pesquisa abordou cada caso como único, mas integrando os contextos sociais, culturais e territoriais relacionados a marcadores de raça, gênero e geração.
Resultados e discussão A pesquisa apresenta o contexto da LC no Brasil e a produção da negligência, e sinaliza que as narrativas das mulheres indicam que, ao falar sobre o LC, os pontos mais amplos que abordam a questão do cuidado e gênero são: Acesso aos serviços de saúde; Uso de medicação/tratamento e Interferência nas atividades diárias. Outro ponto de destaque são as experiências familiares vividas. Ao falar destas, destaca-se o olhar para o escopo de um campo geracional, do qual surgiu um aprendizado de cuidado fora das prescrições biomédicas.
Outro ponto sinalizado nos relatos dessas mulheres é que no caso da LC para essas comunidades, o fator da exposição ambiental e sua transversalidade condicionam as famílias a vivenciarem o risco de infecção por muitos anos, como uma doença presente na vida familiar há algumas gerações, é uma marca/experiência que não fica em um corpo individual, específico, pois atravessa vários corpos por longos períodos. Assim, alguns comportamentos em relação aos cuidados são passados de um para outro, por exemplo, a limpeza das lesões, o uso de chás, banhos com ervas e produtos naturais, bem como alimentação adequada.
Conclusões/Considerações finais O estudo identifica que falar sobre cuidado e gênero em comunidades rurais e étnicas exige que se observe uma lógica específica de socialização e a construção de papeis sociais específicos em todas as áreas da vida. As seis mulheres vivenciam uma estreita relação entre familismo/filiação (consanguíneo, afetivo e espiritual) e estão estabelecidas nos territórios por meio de relações de terra/patrimônio e bem comum. Esses elementos contribuem para a composição de uma organização social baseada em hierarquias de gênero e geração, com vínculos específicos de pertencimento.
Então, quando se fala em cuidar nas experiências de LC, isso se estende a um cuidado maior, que faz parte da vida e dos relacionamentos construídos. O cuidado consigo mesmo, o cuidado na família e o cuidado na comunidade. Assim, o cuidado em LC está inserido nas práticas mais amplas da vida baseadas nas relações sociais, hierárquicas, de gênero e culturais.
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